Capítulo 17- Aline

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_A comida não se comerá sozinha.

_Desculpe-me.

_Está com a mente tão longe, não está com fome?

_Sim, mas também estou preocupada. - Começo a comer os ovos rapidamente devido ao nervosismo

_Tenha calma. A comida não irá fugir e você pode se engasgar.

_Você parece um pai falando assim.

_Eu poderia ser seu pai.

_Você não tem idade para isso.

_Eu tenho sim. Tenho trinta e nove e você vinte e quatro...

Como assim ele tem 39? eu o daria 33 no máximo.

_Ter descoberto a sua idade foi de longe a coisa que mais me surpreendeu na vida.

_Por quê? Eu não aparento ter essa idade?

_Você parece ser muito mais novo. - Ele sorri contente - O que é isso?

_Geléia. Não conhece? - Pergunta com um claro desconforto

_Não. - Abaixo a cabeça - Eu nunca tive tanta fartura assim.

_Isso não é motivo de se envergonhar.

Começo a comer e experimentar todas aquelas comidas diferentes. Era cada uma melhor que a outra.

_Já que estamos à toa, que tal me falar mais de você?

_Você não irá trabalhar?

_Não. Eu ficarei cuidando de você e te ouvindo.

_Está bem, se você insiste. - Ele volta a comer o seu omelete e eu começo a falar

Conversamos sobre absolutamente tudo. Desde a minha infância ao relacionamento abusivo.

_Você tem noção do quão manipulador o seu ex era? Eu não entendo como pode ter homens tão inescrupulosos assim.

_Eu não percebia, mas sinto raiva de mim por ter me submetido a isso.

_Você não tem culpa de nada. Ele que era um merda que sequer merece ser chamado de homem. Ele usou de sua inocência para tentar saciar seus desejos insanos.

_Eu fico feliz só de me lembrar que não me entreguei a ele.

Ele ia falar alguma coisa, mas o meu celular começa a tocar. Era o meu vô.

_Olá vovô.

_Oi minha filha. - A voz dele estava embargada

_Vô, aconteceu alguma coisa?

_Está tudo bem, eu liguei para saber de você.

_Você não vai me contar o que houve? - Insisto

_Não aconteceu nada.

_O senhor não me ensinou a mentir, por isso somos péssimos nisso.

_Irmãzinha... - Ouço a voz de Anne

_Anne, o que aconteceu? - Levanto-me - Por favor, me diga.

_Eu peguei o telefone e...

_Fala, Anne! - Grito

_O terreno que moramos foi comprado e fomos expulsos. - Ela desata a falar e a cada informação eu ficava mais e mais zonza

_Desculpe-me, minha filha. Eu não queria te dar mais trabalho.

_Eu irei tentar resolver essa situação com o novo dono. O senhor sabe quem é?

_É um homem da cidade, eu soube que ele pretende fazer uma obra.

_Eu preciso dessa informação, tente se lembrar. - Insisto desesperada

_Eu acho que é ele chama-se Cristiano ou Cristian. Eu não sei, alguma coisa assim. - Diz confuso

_Cristopher...

Sento no sofá e as lágrimas descem livremente.
Meu Deus!
O que será deles?
Ricardo me olha com preocupação, ele não ouviu nada, mas com certeza imaginava ser grave.

_O que está acontecendo?

_Ele comprou o terreno onde meu vô mora e expulsou a minha família.

_Não é possível que ele tenha chegado tão baixo...

_Enquanto ele mexia comigo estava tudo bem, mas com a minha família não. - Levanto-me abruptamente

_Onde você vai?

Desço as escadas rapidamente e entro no primeiro táxi que surge. Ricardo bate na janela e eu peço para a motorista ir ao destino. Pude vê-lo ele entrar em seu carro e me seguir. No exato momento em que o carro estaciona na porta daquele escritório, me veio as recordações do que eu passei e ali estava eu novamente, mas dessa vez era diferente.
Saio do carro, o motorista ia começar a protestar mas Ricardo paga a corrida. Eu entro sorrateiramente, os seguranças estavam distraídos com o alarme e então eu aproveito a oportunidade. Subo as escadas com o sangue fervilhando de raiva. Encontro a sua secretária sentada, como ele descrevia que gostava. A ignoro e continuo andando até a sala dele, mas estava vazia.

_Você não pode invadir a sala do Senhor Magalhães assim, eu vou chamar os seguranças. - Eu a ignoro novamente

_Chame quem você quiser.

_O que você quer com ele? É amante dele? - Paro e a observo

_Onde está aquele desgraçado? E eu não vou perguntar novamente. - Minha voz estava um pouco grossa pela ira contida

_Eu não posso dar informações sobre o meu chefe.

_Ou você fala onde aquele idiota está ou eu vou te fazer engolir essa agenda inteira. - Ameaço e ela um pouco nervosa aponta para uma sala

Era a sala de reuniões.
Caminho até a sala, com ela me seguindo e protestando, mas eu não ouvia nada.
Estava tomada pela raiva.
Entro abruptamente e a porta fez um estrondo, fazendo todos aqueles homens me olharem.
Mas somente um ali me interessava.
Quando nossos olhares se cruzaram, faltou sair faísca. Ele estava ali com toda a sua arrogância e não gostou da minha aparição. Mas ele aprenderia a nunca mais mexer com a minha família.
Ele me olha com desprezo e começa a gritar com a secretária. Tudo parecia em câmera lenta, eu só enxergava ele em minha frente.

_O que você faz aqui, sua imunda? - Questiona com raiva

O silêncio ensurdecedor se estabelece, eu me aproximo e o seu olhar se mantém sobre mim. O encaro por alguns milésimos de segundos até levantar a mão e dar um tapa em seu rosto.
O barulho foi totalmente audível, assim como a surpresa e o espanto de todos na sala. Eu precisava descarregar essa raiva e seria com o causador dela.



O outro lado do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora