Para Vanilla a sexta-feira só começava depois uma enorme xícara de leite com café às exatas 7:32 da manhã. Ainda com os cabelos embaraçados e os olhos apertados pela diferença brusca de claridade entre seu quarto com grossas cortinas pesadas e a cozinha ampla com portas de vidro viradas para o nascer do sol.
Depois vem o banho com água tão quente que poderia escaldar um peixe. Toda sua rotina de skin care é posta em prática e sua maquiagem está pronta após longos minutos esfumando um marrom em seu côncavo e tentando fazer um delineado cimétrico.
Essa semana suas manhãs foram todas iguais pois era outra semana de reuniões.
Olhando para o relógio ela se dá conta de que está 7 minutos atrasada e corre para seu guarda roupa. Seu conjunto de calça e blazer pretos estão esperando ao lado de uma fila de muitos outros, afinal, aquele era seu uniforme de trabalho. Todos delicadamente bordados com as iniciais e a logo de sua empresa.
Calçando um salto baixo e colocando apenas um pequeno brinco, Vanilla estava pronta para enfrentar o dia.
Saindo de seu apartamento para a garagem ela percebeu certo movimento na porta ao lado da sua. Nunca tinha lhe ocorrido conhecer seus vizinhos. Além de se cumprimentarem de vista, não tinha conversando com nenhum deles. Mas ela chamava aquele lugar de seu à apenas alguns meses, então era normal não ter se enturmado ainda.
Esse pensamento passou tão rápido por sua cabeça que ela decidiu comprar alguns doces de uma padaria que ela adorava para oferecer aos novos vizinhos.*
O trânsito estava péssimo como de costume, mas nada abalaria Vanilla hoje. Sua reunião começava em menos de 20 minutos e ela não fazia ideia sobre os números que seriam apresentados a ela.
Assim como tem sido nos últimos 5 anos de gestão dessa empresa, os diretores de cada setor deixam para divulgar os dados em toda última sexta-feira do mês. Criando sempre uma tensão e mistério.
A empresa de Vanilla é sócia de algumas grandes marcas e produz todo conteúdo de marketing de seus afiliados.
Por isso as novas coleções são as mais temidas. E ela não só esperava o resultado de um lançamento, mas sim de três! Seu coração mal aguentava em seu peito, apertado, batendo forte, querendo fugir garganta acima.
Suas mãos começaram com leves tremores, e seu instinto foi disfarçadamente colocar a ponta de sua unha na boca e dar leves mordiscadas com os dentes.
Assim que os diretores começaram a entrar na sala e se sentarem na mesa retangular de madeira escura, foi dado início à reunião. Um por um foram apresentando dados e depoimentos de como as coleções haviam sido um sucesso. Não só pelo marketing mas pela qualidade de seus produtos e confiança que os clientes já adquiriram através de outras experiências proporcionadas pela empresa.
Mais calma com os resultados positivos, Vanilla se deu conta de que tinha o resto do dia livre. Sentindo-se minimamente feliz com isso ela se dirigiu para um bistrô que ficava algumas quadras dali.*
O lugar era fresco e agradável de se estar. Com algumas mesas espalhadas pela área principal e um longo banco seguindo as paredes internas. As cores brincavam naquele espaço pois cada mesa e cada almofada tinha sua própria tonalidade.
Uma melodia suave tocava ao fundo deixando a experiência ainda mais marcante.
Vanilla sentou-se em uma mesa amarelo bebê e logo pegou o cardápio nas mãos. Passando os olhos pelas letras miúdas ela se dá conta de que deveria estar usando seu óculos, mas o esqueceu na cabeceira da cama.
Quando decide o que vai pedir, ela toca uma pequena campainha ao centro da mesa, e rapidamente um garçom se aproxima.
A jovem pediu por uma soda italiana de maçã verde e um pequeno croissant recheado com chocolate meio amargo.
Anotando o pedido rapidamente e indo em direção a cozinha, o garçom chamou a atenção de Vanilla. Ele aparentava ser um pouco mais alto que ela, e podia dizer que era loiro pela cor das grossas sobrancelhas e um bigode impecavelmente arrumado. O cabelo estava escondido por uma touca de tecido, onde o nome do bistrô está estampado em um tom vermelho vivo.
Vanilla sentia que seus olhos acompanhavam cada movimento que o rapaz fazia... flexionando seus braços levemente contra a manga da camiseta enquanto preparava sua bebida. E seu rosto estava tão concentrado que ela mal reparou quando seus olhares se encontraram por meros segundos.
Envergonhada por ter encarado tanto tempo o garçom, Vanilla se obriga à pegar seu celular e ler as mensagens mais importantes sobre seu trabalho.
Por mais que tirasse o dia de folga, ela nunca ficava realmente livre do trabalho, afinal era isso que ela vinha fazendo desde seus 18 anos... mal lembrava de suas últimas férias, ou um período maior que 2 dias onde havia ficado sem se preocupar com a empresa.
Um leve barulho em cima da mesa a fez perceber que seu pedido estava pronto.
Ao pegar seu croissant, havia um pequeno cartão embaixo do alimento totalmente preto de um lado, com um endereço escrito em branco e uma fonte tão pequena que Vanilla teve que forçar novamente o olhar para enxergar, e ao virá-lo ela se depara com o desenho de uma cobra em linhas vermelhas finas e vibrantes.
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Vanilla
ChickLitNo auge de sua carreira a pequena empreendora não mede esforços para ser reconhecida. Entre jantares de negócio e reuniões extremamente longas e chatas Vanilla se pega pensando em como seria tirar férias depois de tantos anos focando somente no trab...