Capítulo 33 - Aline

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Eu estava chegando de mais uma sessão de terapia. Confesso que não pensei que ficar sentada falando da minha vida para uma desconhecida fosse tão bom, tão libertador. Mas não é só isso. É saber lidar com traumas, controlar emoções e principalmente se libertar da culpa de algo que não nos diz respeito. Entro no apartamento de Ricardo e o meu celular começa a tocar. Eu tinha comprado um celular mais moderno, mas o chip ainda era o mesmo.

_Alô? - A linha fica muda e a chamada é encerrada

Guardo o celular, ainda me questionando sobre essas ligações. Já faziam alguns dias que isso acontecia, mas sempre que eu atendia, a chamada era encerrada.

_Você chegou. Eu ia te ligar. - Ricardo aparece me tirando dos meus pensamentos

_Me desculpe, eu esqueci de avisá-lo que hoje tinha sessão.

_Fico feliz que esteja se empenhando nesse propósito.

_Têm me feito muito bem.

_Eu posso ver. - Ricardo me olhou fixamente e noto que havia algo de diferente em seu olhar e em seguida os desvia - Eu comprei uma pizza para nós.

_Ricardo...

_Você não chegava nunca. E eu pensei que não iria querer cozinhar, e está tarde.

_Eu realmente não estou mesmo com vontade de cozinhar.

Ele abre um sorriso vitorioso e eu subo as escadas. Tomo um banho, visto uma roupa confortável e desço para comermos. Colocamos um filme de suspense e comemos. Quando terminamos e estávamos satisfeitos, fomos para nossos quartos. Eu me deito e rapidamente adormeço.

Os dias se passaram e tudo estava normal.
Eu não ouvi mais nada do senhor carrasco, sequer nos víamos. E quando por acidente nossos horários se encaixavam, ele simplesmente me cumprimentava e não falava mais do que o suficiente. Ele realmente acatou ao meu pedido e me deixou em paz.
Isso é muito bom.
Com o meu rendimento, eu começava a pensar em mudar e fazer um curso. Me especializar em algo para no futuro ter uma profissão melhor.
Enquanto limpava a mesa, no forno um bolo assava. Ouço o telefone tocar. Paro imediatamente e caminho até ele para atendê-lo.

_Alô? - Suspiro pensando ser a mesma pessoa que me liga

_Cristopher?

Ufa! Não era não!

_O senhor Magalhães está trabalhando agora.

_Eu sei que ele está trabalhando, mas o que custa me atender? - O homem parecia irritado

_O senhor quer deixar algum recado?

_Você trabalha para o meu filho? - Então era o pai dele

_Sim, trabalho na casa dele. - Ouço uma risada e fico sem entender

_Pela sua voz parece uma menina. Até que enfim ele parou com a estupidez de contratar semi idosas. - Seu tom era arrogante

_Senhor, eu tenho algumas coisas para fazer. Então, se não se importa... - O corto e ele fica quieto

_Gostei de você! - Reviro os olhos - É só para dizer que a minha viagem foi adiada. Ainda não voltarei ao Brasil e para piorar também não tenho uma data prevista.

_Está bem, o avisarei sim. - Desligo o telefone

O carrasco tinha a quem puxar. O seu pai parecia ser o mesmo idiota que ele. Ou talvez até pior.
Caminho até a cozinha e tiro o bolo do forno, senão o senhor Magalhães iria comer bolo queimado.
Se bem que, ele até que merecia.

Coloco a cobertura e termino de limpar a mesa. O próximo seria o quarto e depois o outro quarto. Subo e suspiro antes de abrir a porta.
Estava normal, não tão bagunçado. Começo pelo banheiro e depois pelo guarda-roupa.
Eita homem para ter roupa!
Penso quando vejo milhares de roupas na minha frente. Arrumo da forma que ele gostava e troco os lençóis da cama. E assim que o lençol entra em contato com as minhas narinas, eu me xingo mentalmente. Tudo ali tinha o cheiro dele. As roupas, o quarto, as paredes e os lençóis. Por uma atitude impensada, eu inspiro e em seguida sacudo a cabeça afastando o lençol e os pensamentos de mim.

_Merda! - Ai senhor, Eu falei igual ele - Meu Deus, me perdoe por esse palavrão!

Passo a mão no rosto e sacudo a cabeça novamente. Olho para os lados para me certificar que ninguém tinha visto aquilo e me tranquilizo. Se ele chegasse agora seria outro momento constrangedor.
Me recompondo, retiro aquele e coloco um limpo.
E entro no outro quarto. Eu me questionava para quê esse outro quarto, ninguém nunca o vinha visitar e no tempo que eu estou aqui ninguém nunca dormiu aqui também.
Talvez fosse para...
Não, eu acho que não.
Se bem que ele é um ranzinza, cheio de manias, então ele deve não gostar de usar o seu próprio quarto. É algo mais íntimo. Fecho a cara só em ter tais pensamentos. Pela hora que eu saio daqui é bem provável que ele traga alguma mulher para cá.

E o que você tem a ver com isso?
Meu subconsciente me sabota.

_É tem razão. Eu não tenho nada a ver com o que ele faz ou deixa de fazer. - Falo para mim mesma

A terapeuta teria que saber disso, aliás teria que saber que eu também ando falando sozinha. Estava na hora de ir embora e hoje tinha terapia, então fecho tudo e saio.

Entro no ônibus e desço no ponto.
O consultório ficava no leblon, perto da casa de Ricardo. E como o ônibus tinha parada antes, eu descia e andava um pouquinho a pé. Ouço o toque do meu celular e era uma mensagem do Ricardo avisando que ia demorar a chegar em casa pois tinha um "compromisso". Sorrio com a sua espontaneidade e caminho, respondendo a sua mensagem. Estava tão distraída que esbarro em alguém e o meu celular acaba caindo, assim como um papel da pessoa.
Me abaixo para pegar o papel e quando ia pegar o meu celular a minha mão foi encoberta pela do homem.

_Me desculpe. Eu estava distraída e não o vi. - Começo a me justificar

_Eu sei o quanto você é distraída. - Aquela voz

Levanto os olhos e me assusto. Ele estava ali, me olhava com uma expressão divertida e eu só pude olhá-lo sem entender nada.

_O que faz aqui?

Era a única pergunta que pude fazer diante de toda a surpresa que foi vê-lo ali.





O outro lado do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora