Na noite anterior, ficou decidido que chamaríamos alguém para limpar a casa. Essa tarefa ficou pro Douglas, que entrou em um app de empregos e escolheu um currículo "aleatório".
Tava na cara que não foi bem assim quando vi a garota que chegou mais cedo. Loira, do rosto redondo e angelical, ela parecia mais alguém que estava prestes a cair na rede do meu amigo do que apenas uma faxineira.
Mas acho que foi uma viagem pensar isso, porque depois de algumas muitas horas de faxina, ouvi ela pedindo ruidosamente – ainda que tenha sido educada – que ele parasse de sujar o chão com pó de salgadinho ou o trabalho dela estaria sendo vão.
Douglas se desculpou enquanto tentava exibir seu peitoral trincado, mas a garota soltou um "foi mal não, foi péssimo", e deu as costas pra ele, ignorando completamente o jogo de sedução do meu amigo.
Nathan achou a cena engraçada, mas eu nem tive tempo de rir porque estava colhendo os detalhes para poder escrever depois.
E não sei bem se foi a mais brilhante das ideias decidir me atentar aos detalhes de tudo que acontece ao meu redor e relatar.
Tô pegado nessa dúvida porque mais tarde, no mesmo dia, a campainha tocou. A gente discutiu sobre quem ia atender, porque provavelmente era alguma garota querendo uma rapidinha, e meio que todo mundo quis ser o cara prestativo.
Sam foi atender, dizendo ser o mais velho – como se isso desse algum mérito. Eu ouvi uma voz feminina trocando palavras com ele, mas não entendi bem a conversa. Até Samuel voltar pro sofá e explicar que a faxineira tinha chamado uma amiga para ajudar com a limpeza.
Foi a partir daí que tudo desandou.
— Por que ela precisa de ajuda? — Nathan questiona. — São só dez cômodos.
— São cinco quartos e todos têm banheiro, sem contar o andar de baixo com toda a área externa — Douglas enfatiza, olhando para Nathan como se ele fosse delinquente. — Você devia dar mais valor ao trabalho dos outros, cara.
— Por que é que você choraminga tanto igual uma mocinha mesmo? — Nathan implica. — Alguém avisou que não vamos pagar a ajudante dela?
— Ela sabe — Sam volta para a sua poltrona de frente para a TV, onde uma nova partida do seu jogo favorito começou. É hora dele recomeçar os gritos e xingamentos, amaldiçoando todo os jogadores do seu time.
— Deixa comigo — me levanto, fechando o notebook e pondo de lado. — Eu vou lá avisar pra ela.
— Mesmo? — Nathan se estica no sofá, alongando o corpo recém malhado.
— Mesmo. Não tô fazendo nada — dou de ombros. — Já volto.
Eu devia ter ficado. Devia mesmo. Se eu pudesse voltar no tempo, tinha continuado quieto, na minha, pra nunca ter tido a chance de encontrar motivos para me dar dor de cabeça.
Mas... o passado não se muda, e eu sei bem disso.
Maldita hora que alcancei o segundo andar, andei por aquele corredor e entrei no quarto onde duas garotas esticavam um lençol no colchão.
— Oi — bato na porta, atraindo dois olhares assustados na minha direção.
— Algum problema? — a da faxina quer saber.
— Não, só pra avisar que não tá inclusa uma ajudante na sua diária, então... Não vamos pagar.
— Nós sabemos — a ajudante responde, me olhando de um jeito curioso.
— É, sabemos. Me ajuda aqui, Lucy — a da faxina pede.
Mas a Lucy ainda parece focada em mim, o que me faz oferecer a ela o meu sorriso destinado a mulheres, que geralmente deixa todas se remexendo; e, se eu der sorte, vou garantir a companhia da noite sem muito esforço.
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Tempestade de Gelo #1 (NA AMAZON)
ChickLitRyan Smith tem um sonho: escrever algo que possa compartilhar com o mundo. O problema é que sua única fonte de inspiração são seus três amigos vazios, com quem divide uma casa, os dias e os problemas. Lucy Waller não contava que seus dias poderiam...