O astro rei ainda dormia o sono dos acordados no outro mundo. O silencio da noite escura só era quebrado pelo grilar de um grilo que, coitado, sentindo frio, esfregava as azas nas patas na tentativa de aquecê-las.
Além do grilo, havia por ali, um sapo que a cada 10 segundos soltava um croac-croac, tinha pontualidade e qualquer um que passasse por ali, poderia acertar o ponteiro dos segundos do seu relógio pelos coaxos do bicho. Essa mania, ele pegara de tanto olhar um relógio de pendulo que tinha na casa do seu avô em um dia que estava com soluços, acabou sincronizando os soluços com o balançar do pendulo e não parou mais. O desafortunado vivia rogando a Deus que lhe indicasse o que fazer para curar o seu mal.
Foi em meio a essa sinfonia maldita que um vagalume bêbado, que cambaleava pelo campo tentando voltar pra casa ouviu o som de reco-reco que o grilo fazia, disse:
- Eu, que já saí do boteco, vou passar na danceteria.
O grilo, já delirando de frio, viu a ofuscada luz do vagalume e bradou:
- Sol, oh sol de minha vida, mande sua luz sobre mim para que acabe meu sofrimento.
O vagalume, todo pomposo por ser comparado ao astro rei, lançou sua fraca luz sobre o grilo. O sapo vendo aquele farol indicando o grilo, pensou: Isso é Deus me mostrando a cura do meu soluço.
Foi lá e comeu o grilo, coitado acabou asfixiado, morreu.
O vagalume assustado, saiu dali apressado com medo do que aconteceu, bateu a cabeça num galho, caiu e também morreu.
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A sinfonia maldita
Short StoryContos de tragédia ou quase, numa noite como outra qualquer, mas não tão comum.