Junto À Tempestade I

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O Convite

Tudo aconteceu naquela fatídica noite de domingo, em que aquele caótico dilúvio torrencialmente despencava do céu noturno e as repentinas explosões relampejantes subitamente iluminavam a vastidão das trevas.

Arthur Cownell, 1928

Àquela hora, preparava-me para subir os degraus que levavam aos meus aposentos e descansar, visto que na manhã seguinte teria de despertar junto aos primeiros raios de sol, pois teria então enfim chego o momento de retornar à rotina da universidade. No entanto, enquanto preguiçosamente levantava-me de minha poltrona para devolver o livro que anteriormente lia à estante, dei-me conta de que alguém batia na porta de minha casa.

Em um primeiro instante, pensei que tratava-se de mais um dos muitos estranhos sons que apenas a natureza é capaz de produzir em situações singulares, como as daquela tempestade. Porém, o som das batidas repetia-se de forma incessantemente desesperada, denunciando que realmente havia alguém insano o suficiente para enfrentar a ferocidade daquela escuridão apenas para chegar ao meu lar.

Quando enfim alcancei o limiar de minha residência e prontamente girei a maçaneta no sentido contrário à fechadura, institivamente protegendo meu rosto da impetuosa violência das ventanias do exterior com meu braço livre, tampando assim minha visão e sendo incapaz de identificar quem era o estranho visitante, gritei para que a pessoa velozmente entrasse.

Foi então que, como se repentinamente não apenas a constante tempestade, com os seus estrondosos trovões e gélidas pancadas de água, houvesse deixado de existir, mas também o próprio espaço-tempo e demais leis físicas que regem nosso mundo, fui capaz de abrir meus olhos e perceber que, em verdade, não havia absolutamente ninguém do lado de fora.

Aquele curioso instante de revelação não poderia ter-se estendido por mais do que alguns poucos milésimos de segundos. No entanto, quando finalmente fui capaz de livrar-me daquele estranho transe em que minha mente parecia estar contida e bruscamente fechei a pesada porta de madeira contra a fúria dos céus, parecia que séculos haviam passado.

Nervosamente gargalhando ao dar-me conta de que havia ouvido coisas e agradecendo por nenhum dos criados estarem acordados para presenciarem uma cena tão patética como aquela havia sido, apressei-me em retirar minhas vestimentas ensopadas e rumar em direção ao quarto, pois evidentemente precisava descansar a cabeça.

Contudo, em meio à madrugada, confuso ao despertar de estranhos pesadelos que tão vividamente assombravam meu sono e sentindo um gélido aperto envolvendo meu coração, fui novamente capaz de identificar os constantes barulhos de batidas, idênticos aos anteriores.

Dessa vez, no entanto, o som originava-se da porta de meu quarto.



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⏰ Última atualização: Dec 11, 2021 ⏰

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