No dia seguinte àquele que me deu inquietação, eu levantei virado.
É.
Não é que não consegui dormir, só não quis dormir naquela noite.
Enfim.
O lance é que me levantei e percebi que minha cara não devia estar das melhores, porque encontrei com Douglas na cozinha comendo cereal e ele ficou me encarando. Até eu ficar incomodado.
— O que foi? — pergunto.
— Tá legal?
— Tô — meneio a cabeça. — E você?
Obviamente eu não perguntei o porquê. Eu não queria saber. E seja lá o que ele tivesse achando, que guardasse para si ao invés de despejar em cima de mim – do jeito que Lucy tinha feito na noite anterior.
Aquela desgraçada.
— Tô bem, tô bem — ele tosse quando se entala com um pouco de cereal, provavelmente.
Vou até o armário pegar uma caixa de cereal pra mim e despejo na tigela que capturo do armário de baixo, colocando um pouco de leite que já está na bancada.
— Sabe que — Douglas recomeça depois de algum silêncio — eu falei com aquela garota ontem. Dormi no celular com ela. Infelizmente, só no celular.
Eu não dou muito bola porque não estou interessado na carência do Douglas.
— Ela é legal — continua enquanto fico de pé comendo, apoiado na bancada. — Mora com os irmãos. Eu achei legal a coisa toda.
Ele me olha quando não faço nenhum comentário a respeito.
— Não tá a fim de papo hoje? — quer saber.
— Cara — dou risada, e não sei do que eu ri, talvez tenha sido de mim mesmo —, por que eu iria querer saber disso?
— Talvez porque você expulsou ela daqui sem pagar? — ele rebate, menos amistoso, quase irritadiço.
— Foi mal, eu atrapalhei seu lance? — ironizo. — Porque pelo que lembro, você pareceu bastante satisfeito em destratar ela jogando biscoito no chão igual uma criança. Foi um favor que fiz tirar ela daqui.
Douglas fica em silêncio, me encarando – como ele sempre faz quando tem que raciocinar.
— Eu achei que você precisava de tempo no quarto com a outra garota, por isso fiz aquilo — se explica.
— Não, cara, você fez aquilo por ser babaca mesmo — volto a comer o cereal.
A risada curta do meu amigo é sarcástica.
E agora, vendo de longe, eu percebo que fui igualmente um babaca. Não era uma coisa nova que a gente tentasse se ajudar no lance de pegar alguém. Douglas só estava fazendo seu papel de amigo.
A parada é que ele realmente não precisava ter feito aquilo de sujar o que ela já tinha limpado.
— Engraçado que eu sou babaca por ter tentado te ajudar — ele não está mais me olhando e sim pra sua tigela —, mas você não é por ter expulsado as duas daqui com o céu caindo lá fora.
Ele tinha razão. Como eu falei, eu também fui um babaca.
Mas só que... foi estranho ser negado vez após vez. Eu não soube...
Processar.
Mas eu não admiti isso em voz alta. Ao contrário, continuei quieto comendo meu cereal.
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Tempestade de Gelo #1 (NA AMAZON)
ChickLitRyan Smith tem um sonho: escrever algo que possa compartilhar com o mundo. O problema é que sua única fonte de inspiração são seus três amigos vazios, com quem divide uma casa, os dias e os problemas. Lucy Waller não contava que seus dias poderiam...