Capítulo 42

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Olhei para o relógio no canto inferior do monitor pela milésima vez nos cinco minutos que se passaram. Suspirei, me sentindo inquieta e incomodada porque não conseguia me focar no trabalho, o que tá me rendendo outro dia de hora extra.

Me afastei, me recostando na cadeira, olhando para o teto enquanto soltava a respiração pesada, quase bufando.

- Está tudo bem? Você devia descansar, você parece estressada – meu colega falou, parando ao meu lado. Ele provavelmente levantou pra furtar café da copa... de novo... Seu rosto abatido revela muito do porquê ele bebe tanto café...

Virei meu rosto pra ele, tentando controlar minha expressão impaciente, para ele não achar que eu estou sendo grosseira com ele, sendo que a parada não tem nada a ver com a sua presença ou sua pergunta.

- Eu tô bem, obrigada. É só uma enxaqueca chata que não me deixa há alguns dias – menti. Eu preferia que fosse a enxaqueca. Não que minha cabeça não esteja realmente doendo, mas a causa eu sei muito bem qual é... E sei como resolver também... Eu só não quero ter que me dopar pra isso.

- Eu só vim te avisar que o big boss pediu pra falar com você. Ele não parece irritado, então acho que você tá segura – soltou uma risadinha e eu acompanhei, me levantando da cadeira.

A verdade é que Robert é quase um monge de tão calmo... É só você não conseguir realmente tirar ele do sério... Só aí que as coisas ficam realmente feias...

Parei em frente à porta e dei duas leves batidas e esperei ser autorizada a entrar, o fazendo quando ouvi a voz grave do outro lado.

- Sente-se – ordenou, enquanto digitava apressado no computador. Obedeci, sem me questionar ou falar nada, e esperei. Quando ele finalmente terminou, ele se voltou para mim, sério. – Eu preciso saber se você tá com algum problema.

Hesitei. É uma pergunta direta e invasiva, e isso pra dizer no mínimo.

- Problemas? Em que sentido?... – perguntei, tentando me situar. O que ele acha que eu vou fazer?, abrir meu coração e falar sobre minha vida pessoal?...

- Desculpa, eu deveria ter sido mais claro. Eu não estou me referindo à sua vida pessoal. Eu quero saber se você está tendo algum problema aqui. O motivo você já sabe...

Tentei não parecer uma idiota ao quase escancarar a boca, então tudo o que eu fiz foi abrir e fechar a mesma, como se tentasse responder, mas sem sucesso.

- Não, senhor. Não tive nenhum problema aqui por causa disso – afirmei. – Ou por qualquer outro motivo, na verdade. Todos me tratam muito bem.

- Então você tá com problemas em casa – não foi uma pergunta. Bom, não que eu vá confirmar se ele tá certo ou não, de qualquer maneira. – Você anda estressada e seu trabalho vem sofrendo por causa disso – tentei me defender, mas Robert levantou a mão, pedindo para eu continuar escutando em silêncio. – Os seus problemas particulares e o que você faz do lado de fora das portas desse prédio não são da minha conta. Mas o seu desempenho aqui dentro é. Eu estou vendo você quase definhar a cada dia que passa e estou preocupado. Não me entenda errado. Eu não estou preocupado com o seu serviço, até porque você faz questão de ficar até terminar tudo o que precisa.

- Então eu não entendo... – falei, a frase escapando, porque a minha incredulidade foi mais forte do que o meu bom senso.

O homem suspirou e se recostou na cadeira, me analisando.

- Seu desempenho caiu, é fato, mas você continua fazendo o seu trabalho com perfeição e disso eu não tenho como reclamar. E como eu falei: os seus problemas particulares não são da minha conta. Mas se você tiver um colapso aqui dentro, a partir desse momento, vai passar a ser. Estou tentando evitar que isso ocorra.

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