epílogo

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Bibiiiiiii!!!!!

Ah,esse som,se o mundo soubesse o quanto odiava viver na cidade grande,jamais ousariam buzinar tantas vezes.

Acordar assim nunca foi uma opção,tive que aceitar,ou melhor,tentar.O som das buzinas significava que era hora de acordar,hora de deixar meu descanso de lado e ir fazer minhas tarefas.Ou melhor,ir a escola.

Confesso que não era um lugar que eu odiaria tanto se tivesse uns sete anos.Mas agora,meu último ano,que mal começou,tem sido um verdadeiro inferno.Se não fosse por Luke e seus cachorrinhos de estimação,talvez eu gostasse um pouco mais da escola.

— Bom dia querida!— Sou surpreendida por minha mãe que entra no quarto sem ao menos bater na porta.— Pensei que fosse se atrasar igual ontem.— Ela sorri e se senta ao meu lado na cama encarando meu olhar vazio.

— Bom dia mãe...— Minha voz saia com dificuldade,talvez eu estivesse gripada, não sei.— hmm..— Murmurei e ela se levantou.

— Sabe que não pode faltar,certo?— Me levantei franzindo a testa enquanto a encarava.Apenas assenti e fui até meu banheiro.Escovei os dentes e vesti uma calça jeans por cima dos shorts curtos que eu usava,coloquei um casaco que alcançava quase os meus joelhos.

— Até mais tarde mãe.— Beijei sua bochecha e ignorei seu olhar sério para mim.Não ousariam perguntar o porque,pois sabia que ela iria me obrigar a tomar um banho antes de sair.— Não me encare assim.— Exclamei da cozinha dando risada.

...

O clima era mórbido,parecia que estava de luto.As nuvens não cobriam os céus,pelo contrário,pareciam ter desaparecido.E o Sol,nem me pergunte, já não o vejo a dias.O caminho até a escola era curto,por mais curto que fosse, não deixava de lado a vantagem de reclamar até dos poucos passos que eu dava até a escola.

Como costume,a área interna da escola estava cheia de adolescente que vagavam de forma alheia e sem rumo conversando um com os outros.Eu parecia a única sozinha alí.Sem perder tempo, não quero ficar entediada, começo a encarar cada grupinho formado.E se me pedgunterem,sim.Eu sei o nome de todos os alunos dessa escola.

Aquelas são,Mary,Keyla e Anne.As famosas patricinhas presentes em todas as escolas.Elas cheiram a perfume caro e são totalmente ignorantes e com voz enjoada.

— Oii Vivi!— A voz enjoada adentrou meus ouvidos que quase sagraram em resposta ao tom agudo.Era Mary,a loira burra da escola.Dessa vez,as três me encaravam com falsidade e desprezo no olhar.Como se eu fosse uma pequena bolinha de papel amassada por qualquer um.

O som estalante dos saltos de Mary foram ficando mais alto e agora a loira estava na minha frente.

— Não acredito que fez nosso trabalho de álgebra!Ela sorriu ardente.Eu podia não gostar de Keyla e Anne,mas Mary,eu a odiava.— É tão gentil!— Ela sorriu.

Por mais que eu tivesse respostas na ponta da minha língua,o punho cerrado e a vontade de tomar meu trabalho de suas mãos,eu não fiz. Eu se quer consigo fazer algo aqui, não por medo de apanhar.Talvez um pouco.Mas sim por medo de chamar atenção.Saber que uma reação em falso traria atenção para mim.E não, não sou uma espiã que não pode revelar sua identidade,apenas uma pessoa ansiosa demais.

Toda vez que estava prestes a dizer algo,eu me lembrava do que aconteceu na sexta série.Uma outra aluna que já não estuda mais aqui,Molly.Me afagou no bebedouro da escola enquanto eu tomava água,beliscou meus braços nas aulas de ginástica,chutou a minha perna direita ao ponto de deixar um hematoma permanente.E quando eu tentei retribuir,acabei fazendo demais.

Me lembro que ela havia saído da diretoria após alguma mãe de aluno ir até a escola após ouvir reclamações sobre a garota.Não era só eu que sofria em suas mãos.Ela foi até o bebedouro e enquanto bebia água,eu senti vontade retribuir o que ela fez a mim.A afoguei alí mesmo,assistia a garota se debater,e por mais que entendesse o que estava acontecendo,eu me sentia bem com isso,me sentia vingada.Porém,quando retirei seu rosto da água,a garota,ainda relutante para respir enquanto cuspia toda a água engolida e que caia em seu rosto,tentou correr de mim.E por reflexo,minha perna devolveu aquele chute,ela tropeçou e caiu de cara no chão.Ali eu fiquei perdida,eu encarava o chão ficando sujo de sangue,estava perplexa e sem reação.Olhei em volta e via alguns alunos cochichando atrás de mim,me chamando de monstro e todo tipo de xingamento que imaginar.Eu traumatizei com aquela cena.Assim como os alunos atrás de mim,pensei que Molly estivesse morta.

Resumindo, é meu trauma.Não consigo responder nenhum ataque contra mim ou se quer mover um músculo.Às vezes tenho até crises de ansiedade,o que gerou mais um novo apelido para mim.Vivi,que vive louca.

Era aula de álgebra,eu me sentia péssima por saber que tiraria uma nota baixa por não entregar o trabalho.Encarei Mary pelo canto do olho e pude vê-la sorrindo para Luke enquanto entregava meu trabalho em suas mãos.

— Eu fiz por você.— Ela sorriu e entregou o trabalho a ele.Meus punhos cerraram alí mesmo e eu me virei totalmente para encarar os dois que eu mais odeio na escola.

— E-esse...— Baixo demais.— Esse trabalho é meu!— Exclamei ainda baixo demais,chamando atenção de apenas um ou dois alunos que me ignoraram completamente sussurrando algo.

Droga...

Luke percebeu que eu os encarava com ódio no olhar.Ele retribuiu com um sorriso em tom de deboche e deu um selinho nos lábios de Mary,ainda me encarando.Como se tal ação fosse me provocar.

— Senhorita Mendes.— O professor chamou minha atenção e eu saí dos meus devaneios.— Bom pessoal,voltando ao assunto.— Ele se sentou no estofado não muito confortável de sua cadeira e encarou cada aluno.— Podem colocar seus trabalhos nessa mesa à frente que eu farei a correção em breve.— Merda.

Fileira por fileira,os alunos entregavam os trabalhos.Claro que não foram todos que fizeram,mas eu,logo eu que sempre faço tudo e tiro nota máxima,o professor não hesitaria em chamar minha atenção ou soltar alguma lamentação em voz alta exclamando sua decepção.

— não acredito que não fez seu trabalho,louquinha.— Luke se sentou na minha carteira e me encarava como se estivesse vendo a coisa mais engraçada do mundo.— Por acaso,apenas por acaso...Seu nome estava no meu trabalho.— Sim, é óbvio que eu não me esqueceria de colocar meu nome na capa do meu trabalho.

— E-eu sei.— Tentei reclamar,queria mover minha mão e arrancar meu trabalho de suas mãos.

— Ah meu deus.— Ele me encarou e se aproximou forçando uma surpresa em seu olhar.— Não sabia que era g-ga-gaga.— Seus amigos/cachorrinhos logo atrás dele,deram altas risadas.Pareciam estar em um circo e se divertindo com as atrações.

Uma tristeza,um vazio úmido,cresceu dentro de mim naquele momento.Meus olhos estavam cheios de lágrimas.Minhas mãos foram até meu rosto e eu já as sentia tremer.Eu estava tendo uma crise.Não,na frente deles não.Me levantei e saí correndo da sala,e podia escutar as risadas altas irem sumindo dos meus ouvidos.

Eu corri até o banheiro e me tranquei na primeira cabine.Chorei tanto,o que já era um costume para mim.Toda aquela atenção,aqueles olhares,as risadas.Tudo aquilo me deixava assim,perdida e trêmula.

Se eu pudesse ir para outro lugar,outro mundo.Longe de pessoas assim,eu iria sem hesitar.

Por onde Vivi viveu...Onde histórias criam vida. Descubra agora