Sobre mim

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Kaham!! Bem... Por onde eu começo?  Ah, sim, claro! Eu não gosto muito de enrolação, então não vamos direto do começo, pois o comecinho do comecinho não é nada interessante. Daqui em diante eu vou narrar algumas coisas que me aconteceram ao longo dos meus desenrolos amorosos, até chegar aonde estou hoje. Solteiro? Namorando? Vivo? Morto? Calma, que ainda não vou contar, né?  Ninguém gosta de spoilers!

Enfim, só pra dar uma resumida e não ficar muito cansativo. Tudo teve início no ensino médio, tudo sempre tem início na porcaria do ensino médio. Mas, o que vocês queriam? Aposto com todos os leitores que chegaram até aqui, que na época da escola vocês também tiveram os relacionamentos mais marcantes da vida de vocês, antes da fase adulta! E isso é totalmente normal, é claro. Afinal, é a partir dessa época que eventualmente muita gente descobre coisa nova. Como por exemplo, a orientação sexual, primeira vez, primeiras festas, primeira vez usando drogas e etcetera etcetera. .. Mas, não vai ser de droga que eu vou falar aqui. Pra quem tava esperando algo do tipo, já pode se mandar.
De qualquer forma, cá estamos. Ano de 2013. Ano que foi marcante demais na vida de MUITA gente! Inclusive com a minha. Até então, jamais experimentei algo similar ao amor. Eu era mais ligado em coisas que não envolvessem tantas responsabilidades emocionais. Só de pensar em me comprometer com alguém dessa forma, já me doía a cabeça! Não que eu tivesse uma fila de pretendentes, ou algo assim. Eu sequer me dava ao trabalho de me relacionar com as pessoas. Sempre fui desinteressado por tudo e achava tudo muito cansativo. Eu era preguiçoso socialmente.
Eita! Olha só que descuido o meu, quase me esquecendo de me apresentar e já passamos do início do primeiro capítulo!
Eu me chamo Guilherme, e no ano de 2013, eu tinha 16 anos. Na reta final do ensino médio.
Eu sempre fui bem alto, com ombros mais largos e cabelo meio crespo, cortado bem baixo. Nunca gostava de me destacar e sempre ficava muito na encolha de tudo. Se bem que muitas pessoas me notavam por conta do meu tamanho. Deixando os detalhes de lado, lá estava eu, no início de mais um dia. Segunda feira, empolgação zero! Ainda com a cama nas costas. Visão turva e a cara amassada de sono. Vamos lá! Saí de casa sem muita pressa, depois de ter tomado um café basicão. A mãe saía mais cedo do que eu, pra ir pro trampo e eu tinha um irmão mais velho que era um vagabundo, que não queria saber de nada além de farra. Nós mal nos falávamos direito e eu não dava a mínima pra isso também.
Minha rotina pouco corriqueira deixava muito a desejar no quesito de emoção, ou qualquer coisa  que valesse a pena falar sobre. Mas naquela segunda feira de verão, algo parecia diferente. Sei lá por quê! Só parecia!
A escola ficava a algumas quadras da minha rua, então dava pra ir a pé mesmo.
Eu era sempre um dos primeiros a chegar no portão que dava de entrada para o pátio. Era grande e velho, feito de aço. Dava pra ver a ferrugem tomando conta das extremidades, deixando pouco destaque para a sua cor, que outrora fora um azul belo e vivo, mas agora estava surrado e todo desbotado por conta do tempo e da má manutenção. Escola pública, né? Fazer o quê?
Já na parte de dentro, me deparo com uma cena que raramente eu costumava ver. Haviam mais dois alunos do lado de dentro. Nunca os vi antes, mas pareciam estudar lá a bastante tempo. Eles sequer me repararam e eu dei de ombros. Passei bem longe e fui até o fundo do pátio, onde ficava minha sala. A porta certamente estaria aberta e eu sentaria numa carteira da frente e pôr um par de fones de ouvido, escutando alguma música aleatória até o sinal bater.
Na metade do caminho, um deles me chama. Uma garota. Pardinha. Cabelos ondulados que passavam dos ombros e um corpo bem definido. Devia ter uns 14 anos. Atrás dela, tinha um garoto. Mais baixo do que ela. Branco que nem uma parede. Sardas. Lábios rosados e volumosos. E seus cabelos ruivos cobriam parte do seu rosto. Era tão tímido. Quando sua amiga me chamou, ele se escondeu atrás dela, com as bochechas avermelhadas. Eu não conseguia tirar meus olhos dele. Algo nele me fascinava. A bela garota chamou minha atenção novamente, pois fiquei desligado por um momento.
-- Oiê, menino! - Sua voz era enérgica e empolgada. Empolgada demais pra uma segunda feira. - Qual seu nome? - Me pergunta ela, sem sequer hesitar. Eu poderia simplesmente fingir que não tinha escutado e ir embora sem dar qualquer satisfação, mas eu não era babaca a esse ponto.
-- Guilherme. - respondi com a maior frieza do mundo. Ela deveria estar esperando algo do tipo: Eu sou Fulano, e você? Mas eu ainda estava meio lerdo por causa do sono e nem reparei quando ela ficou toda sem graça. Tentei ser mais gentil. - Hã… Eu vou nessa então. Valeu! - Isso foi justamente o oposto de ser gentil! Ah, que se dane. Eu não tava esperando por isso em plena segunda. É tipo o dia em que todo ser vivo tá com ódio no coração por ter acabado o domingo e saber que a semana vai começar toda de novo, logo no dia seguinte. Ninguém fica de bom humor com isso. Mas não significa que eu tava puto por ter acabado o domingo. Eu só tava com sono mesmo.
Segui o meu rumo até minha sala, pra recomeçar minha rotina, sem dar muita bola pra garota e o rapazinho que tava atrás dela. Apesar de que… Eu achei ele bem interessante e… Ah, fala sério! A porta tava trancada! Girei a maçaneta umas duas ou três vezes, só pra ter certeza... Nada.
Já comecei bem o dia.
Me sentei num banco que ficava do lado da porta, esperando dar a hora. Só que ainda faltavam uns 40 minutos.
Ok, isso realmente parece coisa de doente. Quem em sã consciência viria pra escola faltando quase uma hora pra começarem as aulas? Isso mesmo. Ninguém! É o horário perfeito pra se ficar sozinho por um tempo e refletir sobre diversas coisas. Aí, esse tipo de comportamento é normal pra quem tem 16 anos, valeu? Enfim. Eu só  não esperava que outras pessoas também pensassem que nem eu. Ah, sei lá!  Cada um com seus motivos.
E por falar em motivos, parecia que alguém tinha ficado super curioso em relação a mim. Ouvi passos e cochichos, se aproximando cada vez mais do Anexo. Tinha esse nome, pois as turmas do ensino médio ficavam em uma parte separada da escola. Apenas para não ter tanto tumulto nos horários em que as turmas entravam e saíam de suas salas. Apesar de ser um lugar bem depredado, até que era organizado… Bem… Mais ou menos…
Aquelas duas pessoinhas apareceram esgueirando suas cabecinhas na parede do corredor. Pareciam até dois gatinhos curiosos. Não contive uma gargalhada. Eles esbugalharam os olhos e deram um pulo pra trás, quase tropeçando um no outro. Pareciam ser persistentes, mas não de uma maneira irritante.
A garota murmurava algo no ouvido do rapazinho, que fez com que ele corasse no mesmo instante. Eles pareciam não concordar em alguma coisa, e ela estava rindo da situação. O menino parecia desesperado de vergonha. Depois de uns minutos discutindo, ele parece ceder. Fiquei entusiasmado, porque acompanhei tudo ao vivo. Será que ela obrigou ele a pagar um mico na minha frente? Ou me entregar alguma mensagem constrangedora? O que quer que fosse, parecia divertido.
Ele vem andando em minha direção com as mãos na frente da cintura. Seus cabelos cobriam toda sua face, e ele pressionava os lábios, de tanta ansiedade. Depois de alguns passos vagarosos e acanhados, ele se senta ao meu lado. Ainda sem falar nada. E eu o observava atentamente. Seu cheiro era agradável.
Ficou um baita gelo no clima. A amiga da onça só ficava de rabo de olho, vendo a cena e rindo com a mão na frente da boca. O que se passava na cabeça daquela perturbada? Tadinho do garoto!
Tentei ser gentil e decidi puxar conversa primeiro, mas fui surpreendido quando ele tomou a iniciativa:
-- O-oi! - exclamou ele, com a voz meio tremida e com os dedos entrelaçados. Era evidente que ele tava muito nervoso - e talvez até com medo - então quis ser o mais dócil possível. Se bem que seria mais capaz dele começar a chorar a qualquer momento. Dava pra sentir isso. Era até. .. Fofo..
-- E aí, moleque! - Que da hora esse meu jeito de ser gentil e dócil, né? Não precisa nem ser um vidente pra saber que eu já tinha estragado tudo, antes de começar. Ele ficou todo apavorado e encolheu os ombros. -- Desculpa, desculpa! Eu não queria te assustar… Hã… Qual é o seu nome? - falei suavemente dessa vez. Até que eu consigo, quando eu me esforço, né? Ele dá um sorriso de lado. Parecia que estava tudo indo bem.
-- É Raluca. - Ele me respondeu quase de imediato. Sua voz era suave e doce. Cada vez mais encantador. - O seu é Guilherme, né? - Ele falava bem baixinho, ainda com vergonha.
-- É sim. - respondo, tentando ser o mais simpático possível. Cara, como é difícil fazer essas coisas! - O que sua amiga tava falando com você aquela hora? - perguntei, curioso.
-- Ah… Hã.. Nada não, é que… Ela só gosta de implicar comigo o tempo todo, sabe? Nada demais, heheh.. - Ele não parecia mais tão nervoso.
-- Ah, então era isso? Parece que ela tá vigiando a gente já tem um tempinho. - Olho para direção da garota, e ela desvia o olhar, disfarçando. Muito convincente. - Eu nunca vi vocês por aqui nesse horário.
-- Pois é, então, a gente veio mais cedo, porque esquecemos de fazer um trabalho que era pra entregar hoje, então. .. - Quanta irresponsabilidade desses dois! Mas por algum motivo, eu não estava surpreso.
-- Vocês não deveriam estar tipo… Fazendo esse trabalho, agora? Faltam uns 20 minutos pra abrir a escola.
-- Já passamos nesse bimestre. Era só uma desculpa pra gente passar mais um tempo de bobeira. .. - Isso é estranhamente adorável. Mas…
-- Não são nem 7 da manhã, vocês não podiam escolher um horário melhor, não?! .- Falei igual um p2 dando sacode em trombadinha na rua.
-- D - desculpa.. Eu.. Eu não queria te incomodar. . - Ele novamente encolhe os ombros e se afasta num reflexo quase instantâneo de defesa. Eu sou realmente péssimo em ser legal com as pessoas.
-- Calma, calma, desculpa de novo, menino! - disse eu, tentando mais uma vez  não parecer ser um troglodita selvagem. Ele transparecia uma vulnerabilidade que eu jamais vi em nenhum garoto antes. Dava vontade de colocar ele em um potinho e levar embora pra casa. Esperei um tempinho calado e me movi um pouco mais pra perto dele, até quase nos tocarmos. Queria que ele soubesse que estava seguro perto de mim. Ele dá um sorriso meio tímido e aos poucos, começa a ficar mais à vontade. -- Hã… Qual a sua idade? - perguntei pra quebrar o gelo.
-- Catorze… E você? - Ele ajeita o cabelo pro lado, olhando diretamente em meus olhos. Cara, ele é tão bonito que chega a dar raiva! Fiquei até sem jeito depois disso!
-- E - eu tenho 16… - Perdi a fala por um instante. Meu coração acelerou do nada. O quê que tava acontecendo, maluco? Meu rosto ficou quente e senti minhas mãos suarem frio. Tudo isso no mesmo segundo.
-- Raluca! Já vai bater o sinal! Vamos lá pra dentro! -  Ele levou um susto tão grande, que quase caiu do banco. A amiga sem nome dele o chama de repente em um tom autoritário. Parecia zangada. Acho que ela não esperava que a gente fosse se dar bem. Sei lá. Vou morrer sem saber qual era a intenção dela.
Eu não tinha entendido nada até aquele momento, mas só sei que, aquela segunda feira de verão realmente parecia diferente. O por quê? Bem. Eu não sei dizer ao certo, mas, só sei que parecia.
O sinal toca. Ouço os alunos chegando rápidos e barulhentos como de costume. Raluca se despede de mim, apenas acenando a mão com um sorriso cativante. E que sorriso! A menina toda emburrada saiu pisando duro e falando pouco. Caguei. Não dei a mínima. Só sei que acabei fazendo amizade com o amigo dela.
A tia da limpeza abre as turmas. Todo mundo entra. Uma galera fica morcegando do lado de fora até o professor chegar. Me junto a eles pra trocar uma idéia. Não eram amigos tão próximos, mas eram gente fina. Só ficamos jogando conversa fora sobre o final de semana. Minha cabeça voava. Pensando no intervalo. Pensando nele. Raluca, hein?
 

Amor CarmesimOnde histórias criam vida. Descubra agora