Estudar na porcaria de uma escola que é período integral há 3 anos nunca me favoreceu muito. Não sou uma boa aluna, nem tão inteligente como as pessoas acham, não sou nerd apenas me pareço com eles. Às vezes eu até penso: "Como eu queria ser como tal pessoa" mas aí lembro que se eu fosse como a tal pessoa, não estaria acontecendo tudo isso comigo. Não que seja bom, mas é a minha história e ela eu não posso mudar então, vale a pena continuar vivendo nela para descobrir o que me aguarda no final. Até porque toda história começa chata, depois fica interessante e no final, todos os segredos e dúvidas são revelados e sim, eu quero revelar os meus.
Todos os dias acordo às 5:20 da manhã para conseguir me arrumar e ir a prisão, ou escola, como quiser interpretar. Minha mãe me acorda não muito diferente das outras: "Tá na hora". A maioria dos dias eu acordo primeiro que ela só pra ver se acontece um milagre dela desligar o despertador e virar para o outro lado da cama e assim perder a hora, e isso só acontece quando eu menos espero e no máximo duas vezes por ano, sim é uma decepção.
Assim, eu levanto, tomo um banho de 5 minutos no máximo e vou pro quarto decidir o que vestir. Mas não, não sou rica e não tenho mil e uma opções. Pela minha mãe eu iria todos os dias de calça de moletom e aquela blusa horrível com o símbolo da escola, mas por sorte e teimosia, consegui com que eu ficasse com as opções de calça jeans e a camiseta que for da minha preferência. Infelizmente não me dou tão bem com meu guarda-roupa, nele só existem 4 camisetas que eu goste mesmo de usar ( Duas delas são do Avenged Sevenfold, uma do Iron Maiden e uma de um gatinho usando óculos ) acho que porque são as mais largas e confortáveis. Como eu não tenho um corpo de musa, sempre gostei desses tipos mais "largos" e maiores que eu. Minha mãe acha um crime mas não se tem muito o que fazer porque sou meio cabeça dura. Por fim, coloco um allstar vermelho tradicional e pego minha mochila. Quanto ao meu cabelo? Ele é uma amostra do rosto do diabo, totalmente cacheado e volumoso eu dependo da rainha-mãe, a "chapinha" ou uma "escova", mesmo assim não adianta pindolas nenhuma e eu continuo na merda.
Depois de todo o circo que eu passo de manhã em casa, preciso sair para pegar o transporte. Não é muito agradável, tem um bando de meninas da quinta série totalmente precoces em relações á maquiagens e garotos, eu penso comigo mesma "Cara, você nem ao menos saiu das fraldas" mas se nem a opinião dos pais faz mudar a cabeça das individuas, quem sou eu pra tentar tomar alguma atitude não é mesmo?
A minha sorte foi conseguir uma vaga no banco da frente ao lado do banco do motorista, lá eu vou com no máximo uma pessoa, quando não vou sozinha então é um fato maravilhoso porque as pessoas de lá não puxam muito papo comigo, acho que é porque das vezes que eu fui falar com aquelas criaturas, foi pra mandar calar a boca de um modo bem ignorante contendo palavrões e outros xingamentos. Enfim, nunca me importei.
O percurso dura meia hora até chegar na escola, é meio longe na minha opinião. Durante esse caminho todo eu faço como todas as pessoas no modo clichê quando se pega um transporte aonde não se comunica com ninguém fazem: Fones e celular = Altura máxima e vou para o meu próprio mundo. Eu sei que isso vai prejudicar minha audição no futuro mas também preciso me preocupar com o meu presente então sendo assim, esse caminho é necessário. Sou uma pessoa que se ouve uma música perfeita repete ela mil vezes até se enjoar, mas raramente enjoo. 90% das vezes, as bandas e cantores que eu ouço são Imagine Dragons, Muse, Cássia Eller, Pitty, e Ed Sheeran. Não sou uma pessoa totalmente revoltada, adoro músicas leves também.
Fico olhando a cidade pela janela, os trabalhadores que logo cedo já estão num ônibus totalmente lotado, estudantes querendo um futuro melhor batalhando desde cedo, moradores de rua acordando em meio de vários pacotes de lixo e panos velhos, animais abandonados e machucados, o barulho das fábricas... tudo isso não é muito novo para mim já que convivo com tudo isso há 13 anos. Quando me dou conta, tenho que sair daquele mar de pensamentos porque a escola já está próxima, e naquele dia eu sai mais cedo...- Meu sinto tá preso, droga! - Pensei comigo 3 minutos antes de entrarmos na rua do percurso final. Comecei a apertar e a sacudir ele de todos os jeitos até que ele saiu, nisso num farol que nunca para, sempre no verde, e eu estranhei muito ele estar vermelho. Acho que é porque alguma criança deve ter se atrasado e nisso rompeu o percurso tradicional de todos os dias. Aquele farol dura uns 3 a 5 minutos, eu estava pegando minha mochila e arrumando o fone no bolso quando olhei pra janela novamente e tive a visão mais linda daquele dia: Era um garoto que já havia estudado na mesma escola que eu estou agora, mas que ele saiu há 2 anos. Eu nunca tinha notado ele antes, mas o jeito que ele tava, com aquele olhar e principalmente aqueles olhos realmente chamou minha atenção. Ele estava com um moletom azul, uma mochila preta, cabelo meio bagunçado e os olhos azuis que brilhavam e que realmente eram de chamar a atenção de qualquer um. Ele estava com a expressão de "Estou atrasado" e devia estar realmente, pois eu nunca vi ele por aquele caminho e devia ser certamente um atalho para chegar mais rápido.
Eu tenho certeza que, pela minha personalidade eu devo ter ficado encarando com aquele olhar "Babão" de uma menina que ganhou uma coleção de roupas novas de alguma grife famosa. O sinal fechou e entramos na rua á direita e ele lá ficou, naquele farol.
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- O Farol -
RandomNunca esperamos ou imaginamos o momento certo em que a vida começa a nos surpreender. Mas será que, uma jovem menina aparentemente comum teria seus planos e sonhos mudados graças a um Farol?