O Original de Helen

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Para Alice, que duvidou o quão sórdido consigo ser na minha literatura.

* * *

Sob as decorações em tons cintilantes de vermelho e branco, justapostos à escuridão do grande salão, as jovens garotas conversavam entre si, beijavam seus namorados, dançavam e enchiam a cara com a bebida que trouxeram escondidas.

Meu olhar atencioso, no entanto, perdido em meio a multidão, ia sempre de encontro a ela, que estava sentada sozinha em uma das mesas próximas às saídas. Sua expressão era de frustração, a tristeza ainda pairava em seus olhos castanhos que pareciam brilhar em uma cor de mel quando em contato com as poucas luzes do ambiente. Em sua mão direita, entre o polegar e o indicador, via-se uma rosa branca, tão branca quanto ela, girando e girando, sem parar, até que o movimento cessou por causa do pequeno corte que um dos espinhos fizera em sua pele.

Seu nome era Hellen, e ela era, sem dúvida, a garota mais bonita da escola. Afirmo isso por, mas não somente, sua aparência, sua personalidade doce e feitio inocente. À vista disso, sinto que tenho de explicitar que há cerca de dois anos, durante a primeira semana de aula, aquela semana letal em que, desde o momento em que a vi, fiquei apaixonado — embora nunca tivesse juntado minha coragem de contar a ela como me sentia.

— Então o seu par te deixou sozinha? — Questionei subitamente, a voz grave chamou sua atenção enquanto me aproximava.

— Eu não sei nem quem ele é, ou ela, sei lá — Ela suspirou depreciativamente e então prosseguiu — Até agora, a única coisa que sei é que me deixou uma flor e um cartão.

— E o que ele diz, hum? — Tentei demonstrar um interesse verdadeiro quando questionei, fingindo não saber o que eu mesmo havia escrito.

— "Para Helen, a menina mais bonita, a qual serve de luz para minha vida e  fogo para minha carne. Para além de toda minha alma, você é o pecado que me acalma."

— Olha só, parece que alguém tem um admirador secreto — Provoquei soltando alguns risos falhos e tocando seu ombro com meus dedos leves.

Ela sorriu timidamente, e então suas minguadas bochechas ficaram rosadas e eu, como nada tolo que sou, questionei se gostaria de algo mais forte no copo, a fim de tentar ajudar a esquecer esse tal admirador.

— É sério? Obrigada, eu acho — ela exclamou hesitante, mas acabou pegando o copo de minha mãos rapidamente.

E então, ao longo dos quinze ou vinte minutos seguintes, continuamos conversando enquanto assistimos os outros dançarem em passos excêntricos ao som de um gosto musical extremamente questionável. No entanto, minha querida Helen começou a ficar desorientada

— Ei, você tá bem? — questionei calmamente enquanto ela curvava a cabeça entre as mãos.

— Eu... eu não tenho certeza, desculpa — ela gemeu.

— Aqui — disse, colocando meu braço como apoio ao dela — Vou te levar pra tomar um ar, o que acha?

* * *

Agora, fora do salão, ajudei Helen a andar a passos lentos, enquanto tentava encontrar algum lugar para acomodá-la.

— Eu acho que... eu preciso ir... pra casa, preciso ir agora — ela conseguiu dizer — Quero ligar para os meus pais — finalizou.

— Calma, calma. Tá tudo bem, que tal se eu te levar pra casa? — manifestei cordialmente.

— Certeza? — seu rosto demonstrava a dor que sentia — eu não quero... te atrapalhar.

— Tá tudo bem. Não tenho nada melhor a fazer, é isso ou voltar ao caos singular e esdrúxulo da ocasião desta noite — ponderei firmemente.

— É? Bem... tudo bem — ela murmurou enquanto eu a guiava para dentro do meu carro e a colocava no assento do passageiro.

Quando dei partida e saí do estacionamento, meu coração batia com excitação, minhas mãos suavam pelo nervosismo intrínseco ao momento de levar a menina mais bonita da escola para casa.

— Obrigada... por me ajud... — ela tentou dizer antes que seus pequeninos olhos se fechassem, e então conduzi a palma de minha mão direita acima de suas coxas finas, localizadas abaixo do longo vestido que a deixava com uma aparência de mulher.

— Qualquer coisa pela minha aluna favorita.

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