capítulo único

190 25 4
                                    

Paris sempre foi um sonho para muitos, mas não para Roronoa Zoro. Ele estava muito bem vivendo sua vida em Okinawa, mas claro que tudo tinha que mudar drasticamente e seu pai ser transferido para a filial francesa. E óbvio que Zoro não pode ficar para trás, afinal, era tão perdido quanto cego em tiroteio e seu progenitor não confiava nem um pouco em sua capacidade de viver e se virar sozinho.

Sem contar que o esverdeado era um completo exemplo do estereótipo nipônico: sisudo, de poucas palavras e sério. Suas habilidades sociais beiravam a zero, assim como sua capacidade de localização espacial.

Mas não é sobre essa drástica mudança que enfocaremos na história de hoje. Não vamos falar sobre como o esverdeado havia se perdido logo no primeiro dia na capital francesa e fora parar em Strasbourg, — como fizera tal proeza? Isso de fato era um mistério — nem como havia pego o metrô errado mesmo com diversas pessoas lhe indicando o lado certo e uma placa apontasse para o veículo.

Nossa história de hoje é sobre como Roronoa Zoro conheceu Vinsmoke Sanji, um francês que não tardou em conquistar o duro coração do esverdeado, e em como o maior se vira preso nos encantos daquele rapaz com o cœur d'artichaut.

Mas o que alcachofras tem a ver com coração? Isso só saberemos mais para frente.

Assim que se adaptou minimamente a Paris, o nipônico não tardou em procurar algum lugar para continuar com seus treinos de kendo, os quais realizava com extremo afinco no Japão. Fora extremamente complicado, não só pelo seu péssimo senso de direção, mas também pela pouca quantidade de academias específicas para a prática.

Fora em um dia após o treino que o Roronoa conheceu Vinsmoke. Depois de se perder mais uma vez pela cidade luz, Zoro se viu completamente desorientado no subúrbio parisiense. Não tardou em se perder mais ainda pelo local e se ver obrigado a passar a madrugada em um bar até amanhecer e poder voltar para casa, afinal, o metrô havia se fechado pelo horário.

Foi lá que o esverdeado se encontrou pela primeira vez com as orbes celestiais e sedutoras. Como os franceses dizem: foi um coup de foudre, ou paixão à primeira vista, um golpe fatal de um raio que acertou em cheio seu coração. O sorriso macio e com uma leve pitada de perversão logo prendeu o olhar acinzentado, os lábios doces e atraentes o conduziram lentamente. Cada pequeno movimento de sua boca parecia puxá-lo mais para si.

"J'ai un cœur d'artichaut, mon amour" fora as palavras que ouvira ao longo da noite e Zoro só soube seu significado um bom tempo depois. O loiro o conduziu naquela noite pelas ruas da cidade luz e o esverdeado teve a certeza de que o francês era realmente a língua do amor e da sedução. As palavras saiam aveludadas naquele sotaque sedutor, atingindo seus ouvidos como uma bela canção.

As provocações do loiro estranhamente o deixavam irritado ao mesmo tempo que o instigavam, talvez fosse por esse fato que o respondia de formas um pouco bruscas, por não saber realmente como corresponder aos flertes descarados ou os olhares insinuantes. Todas aquelas provocações que Sanji dirigia a si, junto aos apelidos que lhe dava devido ao seu cabelo de cor inusitada, faziam todos os pêlos de Zoro arrepiarem.

A forma como a respiração quente do loiro passou a deslizar facilmente por sua epiderme naquela noite fora o suficiente para que o esverdeado se entregasse de sua maneira bruta e com falta de tato. Mas apesar de ter se perdido em Paris, Zoro havia se encontrado nos lábios amargos pelo gosto do tabaco.

O loiro foi a primeira pessoa com quem Roronoa tivera um contato mais intenso naquela nova cidade e logo trocaram seus números, o esverdeado pela desculpa de que precisava de alguém para lhe mostrar o local, enquanto o loiro via ali uma oportunidade para seu coração de alcachofra cair de amores mais uma vez.

A voz doce do francês servia como um guia para Zoro nas noites frias e, apesar de seu jeito turrão, tentou retribuir o jeito cavalheiresco de Sanji, aquele jeito romântico de um príncipe que chega em seu belo cavalo branco.

Contudo, o loiro tinha seu "cœur d'artichaut", aquele coração que sucumbia facilmente aos encantos do amor e que dedicava sua vida para nutrir-se com o sentimento amoroso.

Cada vez que se encontravam em mais uma noite quente e repleta de paixão, Zoro se via mais e mais perdido naquela paixão pelo Vinsmoke, enquanto ele estava cada vez mais apaixonado pelas pessoas que via passar.

Ambos eram completamente opostos. O esverdeado não era de buscar o amor em outras pessoas, já o loiro tinha a sua necessidade de amar, de se apaixonar por alguém novo com frequência. Em certas noites, Zoro sentia o cheiro de outros impregnados em Sanji, em outras, via as marcas avermelhadas em sua epiderme e as manchas de batom em suas roupas.

O esverdeado, mesmo que não fosse admitir, sentia ciúmes do francês, afinal, quem não sentiria naquela incapacidade de o ter só para si? Feria-lhe a alma ter de se sujeitar a inebriar-se no perfume de outros quando tudo o que queria era manter o menor entre seus braços fortes.

Zoro era homem de uma só pessoa, já Sanji era do mundo, seu coração era maleável e apaixonante, era um exímio amador. Mas mesmo que lhe doesse, o esverdeado seguiu com sua vida e se xingava mentalmente toda vez que atendia aos chamados do loiro. Apesar de sua mente lhe dizer para não ir ao seu encontro, para desistir do outro, o moreno sentia seu corpo agir por vontade própria, desobedecendo suas ordens mais sensatas.

E, consequentemente, se ferindo mais ainda quando mais uma vez se via preso entre os lençóis alheios que possuíam um enjoativo cheiro de perfume feminino.

Sentia-se patético por simplesmente não conseguir dizer "não" para o francês, caindo em suas seduções e provocações dia após dia, se apaixonando mais e mais por ele, aprofundando aquela faca amorosa em seu coração, quebrando aquela parte que achava que nunca iria se ferir.

Seu coração duro e congelado fora simplesmente arrebatado pelas sobrancelhas em espiral estranhamente charmosas, pelos dedos delicados que percorriam sua pele e acendiam seu corpo como brasa, pelo sotaque sedutor que falava a mesma língua que os cúpidos e arcanjos. Ele lhe lembrava um anjo apaixonante por qualquer ângulo que olhasse.

Talvez fosse por isso que Sanji era da forma que era, aquele coração de alcachofra que não hesitava em ceder aos encantos do amor, que permitia ser atingido pela flecha do cúpido toda vez que passava pelas ruas.

E Zoro sabia que um dia seu coração estaria tão destruído que não seria mais possível reconstruí-lo. Ele odiava o fato de Sanji ter um cœur d'artichaut e o quanto isso lhe afetava negativamente. Odiava ser incapaz de não o ter para si, assim como era incapaz de se desvencilhar dele, de não ter a capacidade de se perder daquele homem até não mais encontrá-lo.

Entretanto, quanto mais se esforçava em se perder dele, mais o encontrava e retornava para os lençóis encharcados pelo perfume doce e enjoativo. E ele sabia que não poderia culpar Sanji, não poderia culpá-lo por ter uma visão completamente diferente da sua sobre o amor. Mesmo que lhe doesse e ferisse estar em contato com os lábios amargos, mesmo que os toques alheios lhe queimassem e fizessem sua pele arder pelo sentimento áspero que subia por sua garganta, entendia que a culpa era completamente sua por ser impotente demais para lhe deixar realmente.

Incapaz de aceitar não ser único dentro do cœur d'artichaut do francês. E Zoro o odiava por isso, apesar de o amá-lo pelo mesmo exato motivo. 

coeur d'artichautOnde histórias criam vida. Descubra agora