Rodolffo
O som do celular tocando fez com que eu despertasse. Bati as mãos sobre a cama algumas vezes até que encontrasse o aparelho que não parava de soar fazendo com que minha cabeça doesse tanto a ponto de parecer que o sino da Catedral Basílica soava em meu corpo.
E o pior era saber que nem adiantaria jurar não beber nunca mais. Era como um vício. Eu precisava daquilo para anestesiar a dor em meu peito.
Não foi preciso abrir os olhos para saber exatamente onde deveria apertar no touch do aparelho.
— Me diz que você já saiu do hotel — A voz impaciente de Patrícia, minha assessora, soou alta demais em meus ouvidos.
— Porque você tá gritando, porra? — perguntei, quase que em um sussurro.
— Ah, você quer saber o motivo pelo qual eu estou irritada? — riu, mesmo que não houvesse um pingo de humor no som que produziu. — Você tem trinta minutos para chegar aqui, ou eu juro por Deus que largo você. Sou sua assessora, não a porra de uma babá!
Foi a minha vez de rir.
— Nós dois sabemos que você não vai a lugar algum. Você me ama e não vive sem mim, baby. — Embora tenha usado um tom descontraído, era a mais pura verdade. Paty era apaixonada por mim desde sempre, mas a verdade é que eu nunca pensei nela além da garota que era a melhor amiga da minha irmã.
Interrompi um bocejo, sentindo uma mão delicada passar por meu abdômen. Não fazia a menor ideia do que havia acontecido na noite passada, mas certamente aquele era o motivo do meu corpo ainda reclamar do cansaço.
— Trinta minutos — falou, enfática, antes de desligar na minha cara.
Teria rolado os olhos, se a preguiça tivesse me permitido.
— Ei, gato — a voz melodiosa da garota com quem dividia a cama pareceu quase sensual, abri os olhos bem a tempo de vê-la com uma felina, prestes a dar o bote, aproximando-se de meu tórax. Os olhos verdes claros e cabelos amarelos quase como o sol, faziam com que ela parecesse uma versão mais gostosa – e maior de idade, claro – da Cher em As patricinhas de Belervy Hills— O que acha de repetir a dose? Aposto que posso te poupar esforços e dar um banho inesquecível em você.
Meu amigo lá embaixo pareceu gostar da ideia, mas eu não podia ser um filho da puta que atrasava minha equipe por causa de uma rapidinha.
— Proposta tentadora, gata. Mas fica pra próxima — pela expressão em seu rosto, estava evidente que ela sabia que jamais aconteceria.
Joguei as pernas para fora da cama seguindo em direção ao banheiro. Meu rosto ainda estava amassado pelo sono e as olheiras pela noite mal dormida ainda eram muito evidentes. Felizmente esses programas de televisão sabem bem como disfarçar essas coisas.
Não demorou para que eu estivesse em meu conversível, andando mais rápido que o necessário, pelas ruas cariocas, enquanto gravava alguns stories de bom dia para os seguidores das minhas redes.
Sinceramente, eles eram a melhor parte do sucesso, mas também a pior. As pessoas glamurizam demais a fama. Risos forçados, lidar com pessoas de quem nem gostamos fingindo que somos amigos, pressão da mídia, de alguns fãs que se achavam no direito de mandar em nossas vidas, interesseiras fingindo estarem em relacionamentos conosco apenas por um pouco de biscoito nas mídias e, claro, eles, os haters.
Enfim... os louros da fama.
Menos de vinte minutos e lá estava eu, adentrando os enormes portões da maior emissora do país, onde eu e meu parceiro falaríamos sobre nossa próxima música e a respeito de uma minissérie que começaríamos a gravar sobre a nossa vida antes e depois da fama.
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Aquele Maldito Sorriso
FanfictionQuando a maquiadora Juliette se mudou para o Rio de Janeiro depois de uma grande decepção, tudo que ela desejava era focar na carreira com o coração fechado para o amor. Mas isso pode mudar depois de conhecer o irritante e mulherengo Rodolffo Mattha...