Capítulo 21

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POV VICTOR

flashback on

Querido diário mental, estou há exatamente 2 meses me vestindo com roupas que eu considero neutras, ou unissex, não sei como chamar.

Meu cabelo tá quase chegando nos ombros, o que não me incomodaria, se não fizesse com que as pessoas me vissem mais facilmente como uma menina.

Na escola o pessoal tá sendo mais legal, mas eu sei que não é isso que eu quero.

Todo mundo anda me tratando, não bem, mas... melhor. Pelo menos o bullying parou por um tempo.

Mas eu ainda não me sinto bem.

Continuo rezando, sei lá pra qual deus, pra acordar e tudo isso não passar de um pesadelo ruim.

Pra acordar de um jeito que todo mundo me veja e pense "é um garoto".

Nada contra São Paulo, mas eu nunca mais volto pra essa cidade, onde todo mundo me vê como garota.

Minha mãe me perguntou se um corte de cabelo não melhoraria meu astral, mas eu não sei. Eu não sei mais de nada.

Bom, eu sei de uma coisa. Eu não posso mais mentir pra mim mesmo.

Não ligo pra bullying ou se vão falar de mim na escola. Eu só não aguento mais não me reconhecer no espelho.

Agora vou tentar dormir. Malditas lágrimas, agora meu travesseiro tá encharcado. Bom trabalho idiota.

flashback off

- Então, quando nós vamos conhecer esse Yuri?

- É Iori mãe. E eu ainda não sei. Nós não temos nada sério, ele só é um bom colega.

- Um bom colega, ha ha! - comento, brincando com minha salada - Colegas não se beijam.

- Pra sua informação a gente ainda não se beijou não, viu? Eu não quero correr o risco de me apressar e estragar as coisas.

- Nós podemos falar sobre outra coisa? Eu quero comer. - disse meu pai ansioso esperando o prato principal

Nós estávamos jantando em um restaurante, onde deveríamos estar comendo há 15 minutos, segundo meu pai.

- Por isso que eu prefiro comer em casa, sair é legal, mas esperar a comida ficar pronta é horrível.

- Você deveria ter pedido uma entrada como nós fizemos. - minha mãe disse se referindo ao monte de folhas nos três pratos postos na mesa.

- Na verdade, isso não é salada, - eu disse pegando uma rúcula e botando na boca - isso é só triste.

Passados alguns (não tantos quanto meu pai fez parecer) minutos, a comida finalmente chegou e meu pai começou a falar sobre o trabalho, enquanto minha mãe falava sobre o dela.

Às vezes eu me pergunto o que Julia contou a eles sobre Wanda, mas nunca parece ser um assunto muito bom pra ser mencionado.

.

Na última semana passei atolado em trabalhos individuais. Não falei com Emma, nem sabia como devia falar.

Eu estava pensando em falar um "nossa! e você tá afim de alguém? então esse cara de quem eu gosto é TÃO fofo" mas não daria certo. Eu acho.

Assim que cheguei na faculdade, tudo já tinha voltado ao normal. Então encontrei meus três amigos sentados juntos em um banco no centro do campus.

- Victor! - Clara fala vindo até mim e me dando um abraço apertado - Você sumiu rapaz.

- Sim, mas você sabe, muita tarefa.

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