feels • suegiku

I.

Jouno tem certeza de que vai matar Tecchou se sentir aquela lâmina fria familiar em contato com a sua pele mais uma vez.

— Você realmente não faz ideia do quanto eu queria te matar agora mesmo. — Jouno resmungou enquanto era sentado na cadeira por Tecchou.

Tecchou ignorou Jouno e foi em direção à um armário, pegando um pequeno kit de primeiros socorros.
Saigiku, ao escutar o barulho, entendeu o que Suehiro pretendia fazer.

— Primeiro você me esfaqueia, depois me carrega até a base como se estivesse arrependido, e agora quer cuidar da ferida — Jouno suprimiu um gemido de irritação quando sentiu Tecchou pegar sua perna e tirar sua bota. —, qual é a porra do seu problema? Eu posso e consigo fazer isso sozinho.

Suehiro, novamente, ignorou e pegou a parte da perna em que havia machucado Jouno, colocando-a em seu colo. Tirou o tecido que usou para pressionar a ferida, e pegou alguns algodões com álcool para limpar o local.

— Isso pode doer um pouco. — ele alertou.

Jouno apenas continuou com sua face inexpressiva.

Ele passou o algodão levemente por toda a extensão da ferida, tomando cuidado para não machucar Saigiku. O que era estranho aos olhos de Jouno, visto que, seus corpos eram adaptados a esse tipo de coisa. Eles já estavam acostumados. Não havia necessidade de Tecchou ser tão cuidadoso.

Porém, resolveu não questionar. Guardaria aquilo para outra hora.

Após esterilizar o local, Tecchou guardou os algodões sujos de sangue para jogá-los fora mais tarde. Pegou gaze e enrolou ao redor do machucado. Era profundo, mas não o suficiente para trazer muitos problemas ou precisar de pontos. Era o que ele achava, pelo menos.

Ele não sabia muito sobre medicina, de qualquer forma.

— Sinto muito. — Tecchou falou, baixo. Baixo o suficiente para que caso Jouno não tivesse seus sentidos aguçados e não estivesse tão próximo, jamais teria escutado.

— Oi? — Saigiku perguntou, confuso. Primeiro, teve seu pé esfaqueado por uma lâmina branca simplesmente por Tecchou não aprovar seus métodos de extrair informações. Depois, o ajudou a voltar para a base e cuidar de sua ferida. E agora, está pedindo desculpas.

Sério, qual era o problema de Tecchou?

— Seus dedos. — Jouno ficou ainda mais confuso. Até que sentiu algo grudento entre sua mão e seus dedos. — Estão manchados de sangue.

Tecchou apanhou mais alguns algodões com álcool, e agarrou levemente o pulso de Jouno. O toque era leve como uma pena, tanto que Saigiku se sentiu estranhamente confortável com aquele gesto.

— Posso? — ele perguntou.

Jouno assentiu devagar.

Suehiro pegou sua mão e levou para perto, limpando cada dedo com cuidado e cautela.

Depois de ter todos os seus dedos da mão direita devidamente limpos, Jouno sentiu Tecchou se mover e de repente, sentiu seus dedos serem beijados um por um, levemente e lentamente.

Escutou as batidas do coração de Suehiro e do seu próprio – resolveu deixar de lado esse fato – aumentarem gradativamente.
Resolvera ignorar, também, o calor confortante e sufocante que resolveu se apossar em seu coração.

Ele sabia que, provavelmente, seu rosto agora estaria da mesma cor que suas mechas coloridas.

De repente, quebrando totalmente o clima, Jouno e Tecchou se assustaram ao escutar o barulho de algo caindo. Ao Tecchou se virar para a porta da enfermaria, viu Tachihara assustado alternando seu olhar entre ambos e a caixa que havia deixado cair, com Teruko rindo diabolicamente ao seu lado.

Jouno engoliu em seco. Estivera tão ocupado em sentir Tecchou, que nem se quer percebeu os passos e batimentos cardíacos familiares se aproximarem.

Tecchou observou com horror, Teruko levantar sua mão, e que nela, havia um celular. Com uma foto. Uma foto dele e de Jouno momentos atrás.
Saigiku ligou os pontos e não demorou muito para perceber o que estava acontecendo ali.

Teruko viu Tecchou e Jouno fixarem seus olhares ameaçadoramente para o aparelho e para a garota, e começou a correr, com Tachihara logo atrás.

Tecchou bufou, enquanto Jouno não pôde evitar soltar uma risada fraca de puro constrangimento e nervosismo.