Amo muito o Matheus, meu melhor amigo. Ele é como um irmão para mim e posso afirmar que a situação que viverei nos próximos dias será uma verdadeira prova de amor.
Matheus nasceu no dia 31 de dezembro de 2000, fudendo (ou alegrando?) o réveillon dos pais dele. Como comemoração dos seus dezenove anos, nós (eu, ele e mais alguns amigos) iremos passar uma semana na casa de praia do seu irmão mais velho, Leo, e é esse o problema.
Leo é nove anos mais velho que eu. Não sei se é porque nossas famílias são bem próximas ou se porque sou muito íntima de Matheus, mas Leo age como se fosse meu irmão mais velho. Quando eu tinha dezesseis anos, há três anos, ele me buscava nas festas como se fosse meu pai. Às vezes, até mesmo Matheus estranha toda essa rede curta. Leo passou as duas últimas semanas em Balneário Camboriú, resolvendo problemas do trabalho e limpando a casa da praia para a festa, então não sei o que esperar do humor dele. A casa é enorme, com muitos quartos de hóspedes, piscina, sauna e uma praia particular, mas tudo isso se torna broxante quando lembro que ele vai estar lá. Tenho tesão encubado nele há um ano, quando percebi que, apesar do caráter filho da puta, o seu corpo musculoso é mais atraente que o da maioria dos homens, e perceber isso me fez definir um padrão para os caras que eu pego: cabelo e olhos escuros, pele bronzeada e musculoso. Se tiver tatuagem, melhor ainda — além de encher o meu saco com regras e proteções em excesso, Leo também me fez desenvolver padrões difíceis de encontrar.
— Ei — Matheus cutuca meu ombro gentilmente, me despertando do devaneio de ódio. Enquanto o irmão é um brutamontes taciturno, Matheus é gentil e carinhoso, às vezes até mesmo romântico, embora não nos vejamos dessa forma. — Estava pensando em uma nova forma de assassinar o meu irmão, não é?
— Ficou tão óbvio assim? — abro um sorriso amarelo, terminando de guardar o resto da roupa na mala. — Sabe qual é o meu receio? — fecho o zíper da mala e a coloco no chão, me jogando em cima da cama e encarando o teto branco do meu quarto. Em silêncio, Matheus apenas se deita ao meu lado e aguarda pela resposta. — Durante essas duas semanas, o seu irmão não perdeu nenhum story meu e tenho 99% de certeza que ele ativou as notificações do meu Instagram, porque ele via os meus stories no mesmo segundo em que eu postava. Além disso, ficou o tempo todo enchendo o saco nos meus tweets.
Matheus pensa por um segundo antes de dar de ombros.
— Ele apenas deve estar querendo se certificar de que você está bem.
— Isso não faz sentido! Do que ele tem tanto medo? Por que tenta me cercar se não somos nada um do outro? — brinco com o pingente do meu colar, um cristal falso cor de rosa que Matheus comprou de uma cigana falsa na viagem escolar do sexto ano. — Uma hora cansa. E tenho receio de que ele tenha algum ataque de pelanca na praia por causa do Vinicius.
Vinicius foi o primeiro garoto que beijei, aos 14 anos. Tivemos um namorico patético, aquele clássico de infância, e nos afastamos quando mudamos de escola. No ensino médio, nos reencontramos e os flertes vieram com tudo, pois de patinho feio Vinicius foi promovido a cisne. Isso — uma garota de quinze anos dando uns beijinhos em um garoto de quinze anos — fez o Leo surtar, alegando que eu era muito nova pra namorar, que deveria focar nos estudos e mais um monte de porcaria. Vini é um amigo próximo de Matheus e estará na festa. É uma festa na praia e eu quero bronzear até a dobra daquele lugar que você acabou de imaginar, mas algo me diz que Leo irá encher o meu saco — ou esmagar o saco de qualquer um que me olhe. Apesar de não nos falarmos com frequência, sei que Vinicius me pegaria na primeira oportunidade, assim como eu também faria, ainda mais em uma praia paradisíaca onde ele provavelmente passará o tempo todo de sunga.
Bem, o problema é do Leo. Se não gostar do meu fio dental ou da sunga do Vinicius, pode usá-los para se enforcar.
— Vou conversar com ele — Matheus aperta minha bochecha e se levanta, estendendo as mãos para me ajudar a fazer o mesmo. O sol entrando pela janela reflete em seu cabelo, transformando o caramelo em ouro. Seus olhos também mudam, de castanho escuro para laranja. A genética da família Fonseca é algo incrível. — Vai ser incrível, tá bem? Muita bebida, piscina, sexo e pizza. Se bobear, Leo vai encher a cara e passar a semana inteira no quarto, apagado.
Gargalho alto, incrédula com o bom humor dele. Pego minhas bolsas enquanto ele pega minha mala e descemos as escadas, indo para o carro do lado de fora da casa, onde Lara e Pedro nos esperam. Espero que Matheus esteja certo e que Leo não cause nenhum problema.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meia noite
Romance"Para comemorar o aniversário do melhor amigo, Matheus, nós e mais alguns amigos dele vamos passar duas semanas em uma casa de praia paradisíaca, com sauna, piscina e tudo que há direito. O único problema é que Leo, o irmão mais velho dele, também e...