À medida que nos acomodamos na sua cama, sob o cobertor macio, a água traça artérias translúcidas na janela e o som da chuva nos entorpece.
Devem ser quatro da manhã. Talvez cinco. O seu quarto está imerso em uma penumbra densa. Posso tocá-la, inspirá-la e a prender em meus pulmões.
Danço sozinho no escuro enquanto você canta uma das músicas que compôs para mim. Sua voz é mel e eu a bebo conforme nos beijamos. Corremos porta afora e dançamos na chuva, trocando sorrisos, risadas e beijos molhados desajeitados.
Apesar da chuva ensopando minhas roupas e colando minha franja à testa, eu não me importo. Sei que é estranho. E sei que é renovador, como lavar a alma e a pendurar para secar ao sol.
Vale a pena? Eu ainda não sei. Só fico me esquivando dos escombros, flutuando até Júpiter vez ou outra à procura de uma saída desta vida azul e cinza.
Você é azul e eu sou cinza e essas não precisam ser cores tristes, porque a melancolia costumava devorar nossas existências até nos apaixonarmos e construímos, pouco a pouco, nosso refúgio.
Eu não quero mais equilibrar essa porcelana frágil na ponta dos dedos, Innie. Cansei do drama, você sabe, éramos adolescentes tão dramáticos.
É diferente agora. Não há carnificina sem vertigem, nem maremoto sem lua minguante.
Somos vestígios de um anjo caído, uma delicadeza quebradiça de joelhos ralados. Entre azul e cinza, pincelamos significado em nosso opaco cotidiano.
Você protege meu coração nas mãos mornas e eu beijo as suas lágrimas. No fim das contas, a gente só quer ser feliz ao menos uma vez na vida.
Depois do banho de chuva, um banho morno juntos na banheira e então deitamos na cama, a aquarela do sol nascente respingada no horizonte.
Seus dedos em meu cabelo, entremeados como um cafuné; minha cabeça em seu colo, repousada, sossegada. Aqui é paz. É carinho, segurança e aconchego.
Tão azul e cinza.
Tão você e eu.
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舒适; blue & grey | hyunin
FanfictionVocê é azul e eu sou cinza e essas não precisam ser cores tristes, porque a melancolia costumava devorar nossas existências até nos apaixonarmos e construímos, pouco a pouco, nosso refúgio. oneshot • poesia © yangogh, 2021.