• ☾ Capítulo 5 - Quem tem presas mas não morde ✾ •

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Jake

Nos dias que se antecederam ao teste de meu irmão Sunghoon acordei sentindo uma dor extremamente forte em minha boca. Mais especificamente nos dentes.

Logo comecei a notar que eles estavam ficando mais pontiagudos.

Eu tinha medo de que as cuidadoras me julgassem um monstro ou algo parecido, por esse motivo eu tentava ao máximo não chamar atenção de ninguém, principalmente de meus amigos. O que me fez ficar mais isolado e distante de todos eles, que por outro lado, pareciam mais próximos.

Em um dia qualquer, pouco antes de Aya e Jungwon presenciarem seu teste, encontrei um livro velho próximo a minha cama, o título me chamou atenção: "Criaturas Noturnas", ele contava histórias bizarras de monstros com pressa que se alimentavam de pessoas e criaturas inocentes.

Embora aquilo me assustasse, ainda mais pelo fato de eu mesmo ter presas, não consegui parar de ler. Com o tempo, o medo de estar me tornando um monstro me tomou por completo.

Eu me sentia estranho, como se não estivesse no controle de minha própria vida. Sei que neste lugar, em que somos presos contra nossa vontade, a última coisa que nos é dada é o que chamamos de autonomia.

Contudo, ainda sinto que não estou vivendo corretamente, me sinto mal e enjoado, ao passo que também tenho desmaiado com frequência, perco a memória muito facilmente e faço coisas sem sentido as vezes.

Tenho a impressão de que nem tudo é culpa dos fortes remédios que somos obrigados a tomar todos os dias, sou quase certo de que há outra coisa por trás disso.

Ando meio obcecado com minhas presas, as observo todos os dias e também examino-as frequentemente.

Eu estava sentado no andar de cima, próximo à uma estante de livros velhos, ao lado da janela onde vimos Sunghoon em seu teste.

O livro permanecia prendendo minha atenção de uma maneira inexplicável. Era como se eu invejasse o poder daqueles monstros ao mesmo tempo que não desejasse me tornar um deles.

De repente ouço alguém me chamar, viro para o lado dando de cara com um Niki curioso. Escondo o livro atrás de mim, mesmo que ele já o tenha visto, torço para que ele não tenha lido o título.

– O que estava lendo? – Pergunta ainda curioso, se esgueirando na direção do livro, que eu permanecia escondendo. Me levantei pronto para ir embora, não podia correr o risco de deixá-lo ver minhas presas.

– Não era nada Niki. – Falei o olhando rapidamente, com um pensamento que insistia em acreditar que ele já havia visto minhas presas. – Desde quando está aqui? – Perguntei, desta vez não o encarei nem por um segundo.

– Não faz tanto tempo, por quê? – Eu realmente não posso lidar com a curiosidade desta criança.

– Nada, não está acontecendo nada. – Falo finalmente me retirando, levando o livro comigo para algum lugar mais seguro.

O primeiro local que penso em me refugiar é meu quarto, mas tenho medo de que Jay veja e acabe descobrindo tudo. Porém, realmente não tenho mais para onde ir.

Assim que adentro o cômodo solto um suspiro de alívio pelo fato de encontrá-lo vazio. O que não dura nem meio minuto, pois ouço Jay entrar em nosso quarto e rapidamente escondo o livro debaixo da cama.

Por sorte ele não nota pois está perdido em seus próprios pensamentos e ocupado com seus próprios objetivos.

– Vamos vasculhar a casa. – Rapidamente concordo e passo a segui-lo quando ele entra em uma abertura na parede, que normalmente permanecia escondida atrás de sua cama. – Desta vez vamos nos separar. – Aceno positivamente e ele me responde com outro aceno.

𝑩𝑶𝑹𝑫𝑬𝑹: 𝑫𝑰𝑴𝑬𝑵𝑺𝑰𝑶𝑵Onde histórias criam vida. Descubra agora