Casa de Campo Aydim
Quarta feira
“Lama”
Na manhã seguinte , Yusulf acordou antes de Seher. Ficou deitado, quieto, os olhos arregalados, esperando com infinita paciência a tia despertar.
Quando cansou, Yusulf, com um dedo, abriu uma das pálpebras de Seher, que acordou e sorriu.
—Ei, Rapaizinho! Bom dia! Por que abriu minha janela? Yusulf esboçou um sorriso.
_ Teyze , tô acordado há um tempão !
— Vamos nos vestir, querido. Tomaremos o desjejum e depois vamos explorar .Você conhece bem este lugar não ?
_ Evet , Teyze !
Agora, devemos nos vestir. O que quer vestir hoje ?
— Minha roupa especial de fazendeiro teyze .
— Claro!
Yaman e Zhya e Ayleen não se encontravam em casa quando Seher e Yusulf saíram do quarto. Estava tudo deserto, e os dois resolveram procurá-los.
Mas onde estariam eles? Não os viram no jardim, nem nas redondezas. Também não havia sinal dos cachorros.
— Teremos de chamá-los, Yusulf. O menino concordou e saiu em disparada rumo a cozinha
Por fim, Seher chegou até ele e viu Yusulf segurando um bilhete que estava sobre a mesa: “Fomos ajudar a alimentar o gado. Tia Hatice e Hilal estão na vila fazendo compras . Tem café na cozinha .Vejo vocês às nove, se estiverem acordados, par de dorminhocos.”
— Seu tio é muito rude, Yusulf — Seher falou, sorrindo.
Tinha vontade de ir atrás dele, para vê-lo alimentando as vacas . Seher precisava ver isso com seus olhos .
— Talvez possamos ir ver o que seus tios estão fazendo. Você sabe onde é o pasto?
Yusulf balançou a cabeça e os cachos dançaram ao redor de seu rosto . O menino respondeu:
— Sei sim Teyze, quando vinhamos passar as férias aqui, todas as manhãs ele e o tio Zhya , e as vezes com tio Nadin eles davam feno aos animais do outro lado do rio para ajudar irmão Erdogan e Kaan com o gado . Há uma ponte, e eu sei como cortar o caminho, se você quiser, mas precisará usar botas de borracha.
— Por que as botas?
— Por causa das cobras.
— Você quer ir encontrar tio não quer ?
_Não tenho botas de borracha, mas cantaremos o tempo todo.
Yusulf a fitou, surpreso.
— Por que vamos cantar?
— Bem, as cobras têm mais medo de nós do que nós temos delas. E, se nos ouvirem cantando, se afastarão de nosso caminho. Bem, querido da tia, tem certeza de que pode encontrar tio Yaman ?
— Sim, é fácil.
Não foi.
Seher havia calçado um par de sapatilhas inadequadas, Yusulf, botas de borracha, e foram cantando até chegarem às proximidade do rio. Lá, Seher parou.
— Yusulf..
— A ponte está logo ali. Poderíamos ter vindo pela estrada, mas é muito mais longe. Tio Yaman diz que este é o melhor atalho.
Seher olhou, desanimada, para a margem, pensando que, se Yaman tinha essa opinião, devia ter nadadeiras nos pés. O terreno entre onde eles se encontravam e a ponte era lamacento e inclinado.
— Yusulf, não estou usando botas.
— Eu falei que iria precisar delas.
— Você disse que precisaríamos delas por causa das cobras.
— Também por causa da lama. — Pegou a mão da tia. — Vamos. Por favor... Tio Yaman e tio Zhya disse que é divertido e delicioso afundar na lama.
— Pode ser, querido, mas vou ficar toda enlameada.
— Não faz mal.
Talvez não fizesse. Seher hesitou durante trinta segundos. Então, sorriu, tirou as sapatilhas e seguiu Yusulf. Deu um passo, mais outro e mais outro...
Yusulf, pequeno e leve, afundava apenas algumas polegadas, mas Seher afundou até os tornozelos no primeiro passo, e a lama macia e “deliciosa” entrava no meio dos dedos do pés descalços. No segundo passo, afundou até a barriga da perna, e, no terceiro, até os joelhos. Ia tirando uma perna de um buraco e colocando-a em outro até que andaram alguns metros, e Seher caiu na risada ao ver em que estado estava ficando.
— Oh, garoto terrível! Vou ficar grudada aqui para sempre, Yusulf! — Olhou para o inocente rosto do menino. — Aonde está me levando, Yusulf? Seu tio faz mesmo este camin.ho , quando vem aqui ? Conte-me a verdade.
— Não. Mas me mostrou a lama lá da ponte e me disse que costumava vir por aqui quando tinha minha idade. Prometeu que, quando eu arrancasse meu dente sem chorar , me traria aqui para celebrar. Ontem à noite eu fiquei com receio para pedir-lhe, mas esta manhã pensei que, como não tinha chorado na semana passada quando arranquei o dente, poderia trazê-la aqui.
— Obrigada, querido. Não posso me esquecer de também agradecer a seu tio por ter lhe dado essa ideia. Se conseguirmos chegar aonde ele está, é lógico.
— Você consegue, se tentar. Olhe para mim. Nem sujei minha roupa . Com botas de borracha, estou limpo Teyze.
Mais alguns metros, e Seher teve de parar para tomar fôlego. Escorregou duas vezes e precisou apoiar a mão no chão para se proteger, enfiando o braço no barro até o cotovelo. Agora estava parecendo uma vítima de guerra, recém-saída das trincheiras.
Olhou para a ponte. Ainda estavam longe dela. A sua frente, o lodo brilhava sob o sol, numa beleza ameaçadora. Um par de aves dava um vôo rasante nas águas perto das margens, sem deixar nenhum sinal na lama, enquanto Seher ia abrindo buracos a sua passagem.
— Yusulf, acho que não terei forças para chegar à ponte. Deve haver uma maneira mais simples de fazer...
— Há.
Seher parou de falar olhando, estupefata, para Yaman , que da ponte olhava para as dois e sorria.
— Bom dia, meus amores . — Por seu tom, era fácil perceber que estava fazendo muita força para não gargalhar. — Estão fazendo um novo tratamento de beleza?
Seher olhou para ele e fez pose de modelo . E riu ao vê-lo gargalhar .