Você é um idiota.

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Era um dia chuvoso e barulhento, por volta das 17h30 quando Atsushi saiu da universidade em que estudava e pegou seu telefone para resolver um certo assunto pendente, o qual era o motivo de seus suspiros apaixonados, pensamentos excessivos e olhares atentos. Ah sim, a mais nova e pura paixão de Atsushi, que não o deixava em paz. Via-se corando ao receber elogios dele e sorrindo bobo ao se lembrar dos momentos bons e sugestivos entre os dois. Frequentemente, sentia-se estúpido por estar assim e por sonhar acordado, pensando no dia em que iria segurar suas mãos e beijar seus lábios tão intensamente até o ponto dos seus próprios ficarem doloridos. Era mesmo um idiota apaixonado.

O som dos carros buzinando, das pessoas andando apressadas de um lado para o outro e a chuva, que estava piorando, caindo sem parar, faziam as ruas de Yokohama um verdadeiro inferno auditivo. Nakajima refletia se devia mesmo ligar para o outro naquela situação, já que o barulho atrapalhava e nem tinha um guarda-chuva para escapar dos pingos gelados que faziam contato com sua roupa quente — esta que não iria demorar para encharcar se não fosse logo ao ponto de ônibus. Seus cabelos já estavam molhados. Todavia, o platinado estava realmente querendo terminar aquilo logo, aquele seu anseio, até porque seu melhor amigo tinha o direito de saber e queria que ele tirasse suas conclusões logo. Bem, era isso mesmo: melhor amigo.

Os dois viviam grudados desde o ano anterior, quando seus cursos fizeram um projeto juntos. Claro, no início fora complicado, pois o mais velho era bem fechado e não falava com muitas pessoas de lá, a não ser seu colega e amigo, Tachihara, e a irmã mais nova, Gin, que havia ingressado para a faculdade naquele ano. Após aquele trabalho, Atsushi acabou se interessando pelo garoto de roupas pretas e piercings atrativos; passou a amar ouvi-lo falar consigo, não importava o que fosse, e isso o fazia sentir que poderia surtar, mesmo com tão pouco. Nakajima, com um pouco mais de tempo, conseguiu arrastar ele para outros lugares fora da universidade, e até ir um na casa do outro para ver filmes, cozinhar ou só fofocar sobre a vida alheia das pessoas as quais conviviam. Amava todos aqueles pequenos momentos a sós com seu amigo.

Apesar da chuva estar mais grossa do que antes, Atsushi pegou o telefone e discou o número de Akutagawa, esperando ele entrar na linha.

Alô?

— Eu preciso falar com você. — Atsushi disse.

— Jinko, não posso falar agora, eu tô na rua e tem muito barulho. — Explicou.

— Não pode ser depois, tem que ser agora! — Falou mais alto a fim de que o outro lhe escutasse.

Seja rápido então. — Respondeu da mesma maneira.

— Ryu, você é meu melhor amigo. — Começou a falar, mas estava tão nervoso que parecia que iria explodir a qualquer momento. — Só que tem umas coisas que você não sabe sobre mim.

Tipo o quê? Você por acaso é um assassino em série e eu não sei? — Brincou.

— Não é isso! — Riu alto. — É que, tipo, você nunca se perguntou porque eu pego tanto suas blusas emprestadas? Eu uso elas, não só em mim, mas... como fronha do meu travesseiro!

— Isso é estranho...  — Sua mente estava pensando no que o platinado queria dizer afinal. — Aonde quer chegar com isso?

— Eu quero acabar com nossa amizade. — Soltou, enfim, a bomba. Mas, antes que Akutagawa pudesse perguntar o porquê, o Nakajima voltou a falar. — A gente deveria ser namorados ao invés de simples amigos. Eu realmente não sei como falar isso, porque você é meu melhor amigo, Ryu. — Suspirou. — Esse é o porquê eu nunca gostar tanto de seus crushs e paqueras que você diz nem ligar. Eu gosto de você.

Ryunosuke estava ouvindo aquilo mesmo? "Eu gosto de você". Não estava enlouquecendo ainda? Ele riu.

— Por que você tá rindo, seu idiota? — O platinado já estava uma pilha de nervos, e ouvir o outro rir não ajudou muito.

Você que é um idiota, Jinko. — Respondeu andando de um lado para o outro, tentando escapar da chuva. — Eu vou te explicar uma coisa: eu só tinha esses contatos porque eu nunca soube o que de fato você sentia por mim. Era minha forma de suprir sua falta, mas ninguém, ninguém mesmo, se compara a você. Eu também gosto de você, Atsushi. — Foi direto e sincero com seu garoto, enquanto caminhava apressadamente para um ponto de ônibus em específico.

— Eu... eu não sei o que dizer. — Estava tão vermelho — quiçá fosse pela chuva, quiçá fosse pela vergonha — que não sabia onde se enfiar. — Eu te amo, Ryunosuke.

— Eu te amo também, Jinko. — E assim Akutagawa havia finalmente achado o platinado.

O mais novo virou para trás, vendo o moreno ali na sua frente, que logo desligou a ligação, já que não era mais necessária. Não demorou muito para que Akutagawa pegasse seu rosto e beijasse ele. Atsushi tinha a sensação que estava nos céus; era um ósculo tão intenso quanto imaginava. Sentia o piercing que Ryunosuke tinha no lábio fazer presença ali, tornando as coisas mais interessantes. O barulho externo, então, já não era mais um problema; a chuva não fazia mais diferença e as pessoas e o trânsito tornaram-se irrelevantes. Atsushi, ainda que estivesse meio perdido, pôs o celular no bolso e levou também sua mão direita para a nuca do garoto enquanto a canhota puxava o corpo alheio para próximo do seu. O moreno ficou tímido pelo contato, mas adorou aquilo; gostava de estar perto de seu garoto. Ambos pensavam em muitas coisas durante aquele beijo: "Como vai ser daqui pra frente?", "O que eu deveria fazer agora?", "Meu deus, a gente tá se beijando mesmo?", "Não esperava que desse tudo certo", e por aí vai. Só se separaram quando a falta de ar se fez presente. Atsushi deixou um selinho em seus lábios e assim encostaram suas testas uma na outra, recuperando o ar. Ambos riram.

— Você é um idiota, sabia? — Akutagawa começou.

— Você já me disse isso, Ryu. — O platinado riu.

— É só pra te lembrar. — Ele riu. — Vamos pra minha casa, a gente tá encharcado aqui e provavelmente vamos pegar uma gripe feia se continuamos.

— Então vamos, Senhor Akutagawa. — Brincou.

Os dois ficaram abraçados ali, naquele ponto esperando. A chuva havia se amansado, mesmo que fosse inútil agora. Para a sorte deles, o ônibus havia chegado rápido, e o caminho fora tranquilo, rendendo-lhes muitos beijos e carinho pelo percurso todo. É, de fato, talvez fossem idiotas.

Ryu, you're my best friend.Onde histórias criam vida. Descubra agora