Capítulo 24

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O ar parecia condensado; rarefeito demais. Até mesmo Stacy havia se calado ao perceber o momento de tensão.

— Marion? É um lindo nome, assim como a dona — falou Henrique, segurando a mão da mulher e levando-a até os lábios para beijar. Marion foi obrigada a esconder sua repulsa e vontade de puxar sua mão para longe dele. As mãos do homem eram tão ásperas quanto se lembrava. A assassina forçou-se a exibir o seu melhor sorriso.

— Obrigada. Costumo escutar tanto isso a respeito de meu nome, que já estou quase acreditando — informou a mulher, derretendo um pouco do gelo formado ao redor. Sarah puxou a cadeira e se sentou.

— É um nome um tanto diferente. Você é a segunda pessoa que conheço que o tenha. E olha que já sou macaco velho — brincou.

Nojo, medo, lembranças tortuosas fizeram o estômago de Marion embrulhar. Ela sabia que não seria fácil, mas apertar a mão daquele homem e ainda sorrir para ele... Ela saiu correndo em direção ao banheiro.

— Eu... disse alguma coisa errada? — perguntou o ex-presidiário.

Adam levantou de sua cadeira e fitou pai e filha com raiva antes de sair correndo atrás da noiva.

— May? — Chamou-a enquanto andava pelo corredor. Ao escutar sons vindos do banheiro, correu até lá e viu Marion abraçada ao vaso. O assassino se ajoelhou ao seu lado e puxou seus cabelos, afasto-os do rosto suado da noiva. — Respira fundo. Isso, isso mesmo. Calma. Respira fundo de novo. Estou aqui com você.

Enquanto falava, Adam acariciava suas costas com a mão livre. Aos poucos, Marion foi se acalmando, até que conseguiu recompor-se e lavar a boca e o rosto. Adam cuidou da descarga.

— Obrigada — ela conseguiu dizer.

— Está melhor?

— Não, mas vou ficar.

— Você não tem que fazer isso, Marion. Não agora. Se quiser, invento uma desculpa e vamos embora.

— Mas eu quero. Quero olhá-lo nos olhos e dizer a ele que eu consegui superar.

— Sei disso, meu amor. Sei que tudo o que mais quer é isso. Não estou me opondo, mas talvez esteja bom por hoje.

Marion apoiou as mãos na pia e respirou fundo. Olhou- se no espelho e viu aquela adolescente que fora; a garota assustada que tinha crises de pânico e ansiedade, muitas vezes, contando apenas consigo mesma; a jovem que odiava seu corpo, por fazê-la sofrer tanto; a menina que tinha vergonha de si e medo que os pais a odiassem por deitar-se com um homem, com tanta idade quanto o pai, sem sua vontade.

A assassina ergueu a cabeça e virou-se para o noivo. Depois de limpar suas lágrimas e se recompor mais uma vez, decretou:

— Não. Vamos voltar para lá e vamos ficar aqui. Estou aqui para prestigiar o relacionamento de duas amigas. Henrique não me impedirá disso.

Adam assentiu e estendeu-lhe a mão.

— Permita-me, então — ele deu um meio sorriso. — Vamos mostrar a ele quem é que manda.

O casal voltou para o jardim, onde todos comiam e, ocasionalmente, riam. Ao que parecia, Stacy e Andy eram as únicas que estavam verdadeiramente à vontade ali. Até mesmo Conner, com todos os seus QIs a menos, parecia sentir o clima pesado entre pai e filha.

— E teve um dia — contava Henrique — Sarah deveria ter uns quatro, cinco anos, ela subiu na árvore da casa vizinha e a mãe dela e eu ficamos horas procurando por ela. Acontece que só fomos acha-la porque a vizinha disse que tinha ouvido choro em seu quintal e foi ver o que era.

Assassina de Luxo [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora