Cafés e Flores

Café preto

    Em uma manhã ensolarada de primavera, flores por toda a parte, cheiro de maré litorânea e areia pelo asfalto das ruelas uma garota cheia de pétalas de flores pelo cabelo foi para um café perto da sua botânica. O café tinha uma ambientação calma e quente como uma fogueira, cheirava a grãos de café e açúcar. As paredes tinham cores pastéis claras com detalhes em marrom forte, mas o que mais chamava atenção era o atendente, um garoto de pele bronzeada e cabelos descoloridos como surfistas que aparecem na região.
    Ela se sentou na bancada e o atendente perguntou:
    - O que posso fazer pela fofura aqui?
    - Oh! Eu? - Ela olhou ao redor e notou ser a única garota por ali no momento
    - Sim, você. O que gostaria?
    - Um café preto por favor
    - Uh! Então você é intensa por baixo do rostinho queimado? - ele se apoiou na bancada na frente dela com olhos cerrados
    - Calma aí garoto, nem sei seu nome - disse se afastando de leve
    - Louis, e o seu? Lily?
    - quase! Me chamo Poppy
    - Papoula? Então você também pode me fazer sonhar acordado?
    Ela riu baixo e seu rosto ficou mais vermelho que o natural
    - Gostou? Trarei seu café e podemos continuar depois gata - o garoto piscou e foi para a máquina fazer o café
    Depois de uns minutos ele voltou com o café e do lado, no pires, tinha uma florzinha, uma papoula
    - comprei na botânica aqui do lado, deveria dar uma olhada depois
    - eu trabalho lá com a minha mãe - Poppy riu e o Louis se sentiu envergonhado
    - eu não sabia. Acho que mandei mau nessa
    - você deveria ir mais lá, assim me notaria antes
    - eu tentei, mas o trabalho ocupou demais meu tempo na sua cidade
    - então você não é daqui?
    - não, mas isso é história para outro dia fofa, tenho que trabalhar, até a próxima - ele piscou e virou a outro cliente
    Poppy terminou o café e foi embora com a flor em sua orelha e um sorriso quente no rosto.

    Ela chegou na botânica e sua mãe percebeu que ela estava mais alegre que o normal, o sorriso da garota ia de bochecha a bochecha e seus olhos castanhos brilhavam intensamente:
    - Nossa! de onde vem essa felicidade, pequena?
    - Tem um novo atendente no café e ele é tão doce quanto quanto açúcar!
    - Que fofura! Mas usa todo esse amor para cuidar das plantas e não para enrolar
    - Ok mãe! Pode deixar!
    Poppy foi para as roseiras e começou a rega-las e cortar os galhos mortos enquanto sua mãe atendia os clientes. A botânica era formada de vidros com mesas nas paredes onde ficavam as flores, na frente pela direita ficava a mesa de atendimento, pela esquerda era possível entrar na área das flores onde geralmente a Poppy está cuidando das plantinhas.

    As duas trabalharam entre as cores das flores até dar meio dia quando uma pessoa que chamou a atenção da garota entrou na botânica, Louis entrou usando o traje da cafeteria, uma camisa marrom pastel, um suspensório marrom escuro, um chapéu com grãos de café desenhados e luvas e lenço verdes, mas ele usava uma bermuda remendada e tênis vermelhos, quebrando a harmonia do traje. 
    Quando se viram os dois se surpreenderam e sorriram com os olhos brilhando, Poppy disse:
    - Boa tarde! Quais flores gostaria de comprar?
    - Poppy está a venda? - Ele falou piscando para ela
    - Engraçadinho! 
    - Só te testando fofa. As menores flores que tiver, para decorar os pires
    - Papoulas, ramos de lavanda e lírios serão perfeitas para o café
    Ele se aproximou dela e viu na orelha a florzinha do café
    - Você guardou a flor!
    - Claro! é meu trabalho cuidar de flores! e eu meio que achei um ato carinhoso...
    - Simplesmente adorável! 
    Ela começou a pegar os ramos de flores e ele acompanhava olhando para cada detalhe da garota, as roupas curtas de quem não sai da praia, um avental bege com desenho de flor e botas e luvas verdes musgo para cuidar das plantas. Ao terminar de pegar as plantas a mesma garota colocou-as em uma caixinha e deixou que a mãe terminasse a compra do rapaz enquanto ela admirava de longe cuidando das plantas

    O garoto voltou para o café onde comeu um salgado e voltou a atender os clientes. Uma mulher por volta dos 50 chegou e se sentou no balcão onde ele atendeu-a:
    - Bom dia senhora! Você parece cansada.
    - Nem me fale! aconteceu tanta coisa hoje! Me vê um café com leite por favor.
    - Pode deixar!
    Ele preparou o café e entregou-a, mas ela não deixou Louis sair, começou a contar do dia dela:
    - Sabe a filha do Mendes? parece que ela tá apaixonada agora! Daqui a pouco faz o mesmo que a mãe!
    - O que a mãe fez? - Ele perguntou
    - Você não sabe!? Ela engravidou do homem depois de uma semana de se conhecerem! Depois ele abandonou ela e ela teve que criar a criança sozinha!
    - Desculpa, mas quem é a filha do Mendes?
    - Você é novo aqui, né? Deixa que eu te conto! A mulher da botânica é a Cristina, ela teve esse caso com o Mendes e teve a Poppy! Certeza que é como a mãe! Uma piranha!
    - Nossa! Achei que a cidade era pacifica!
    - Você nem sabe tudo! Ah! mas já preciso voltar pra casa. 
    Ela pagou o café e foi embora, Louis voltou ao trabalho, mas ficou o dia pensando "Nossa! a vida da Poppy deve ser complicada!"