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Assim que chegaram ao portal que levava ao grande salão pelo qual Nyx e Raphael entraram no esconderijo, o trio se deparou com ele completamente lotado, feéricos de diferentes raças, fossem com partes do corpo semelhantes a insetos, a aqueles com aparência semelhante a flores e outras plantas e aqueles que tinham semblante animal como os pequenos piggas exprimidos no meio da multidão, os kaarjals com seus olhos felinos reluzindo a pouca luz e também aqueles com cabeças iguais a de águias. Mas a maior parte daqueles feéricos tinham asas empenadas, asas de cores cinzas de variados tons, peles bronzeadas, orelhas pontudas, olhos como de uma ave de rapina, cabelos escuros e longos presos em tranças que caiam sobre suas costas e todos eles tinham uma estatura acima da média esperada. Aqueles eram os harpeus, a raça do pai de Hela.

O salão estava diferente de horas atrás, reparou Nyx, agora ao centro dele havia um palanque alto onde Cantius, o pai de Hela, estava de pé. O grande macho observava a multidão com seus olhos cinza esverdeados atentos até que eles pairaram sobre Hela que rapidamente pegou nas mãos de Nyx e Raphael.

— Haja o que houver, fiquem quietos — disse ela baixinho como a dupla e então começou a andar os guiando pela multidão que ia abrindo caminho. Muitos dos olhares pairaram justamente na armadura que Nyx vestia, logo cochichos começaram entre os feéricos. Os harpeus olhavam com certo desdém para o macho forasteiro que simplesmente ignorou todos os múrmuros e olhares reprobatórios, ele até mesmo sorriu com certa arrogância, algo que havia aprendido muito bem com seu pai.

O trio parou próximo ao palanque e logo Forkas surgiu esgueirando entre as pernas dos machos e fêmeas da multidão, o pequeno pigga ofegante se agarrou nas pernas de Hela que levou a mão que segurava a de Raphael a cabeça de Forkas afagando ali.

— Bom, agora que todos estão aqui — disse a voz trovejante de Cantius olhando em volta. — Há algumas horas atrás recebemos uma investida dos Maiorais, uma ofensa planejada de modo sorrateiro e em cima da traição de um dos civis que protegemos com sangue e suor. Infelizmente perdemos muitos deles, homens, mulheres, idosos e crianças, e mais infeliz ainda é que tivemos muitas baixas em entre nossos homens e grande parte ficou gravemente ferido.

Nyx olhou em volta vendo todos aqueles que estavam enrolados em bandagens sujas de sangue, alguns perderam membros, olhos, era uma catástrofe.

— Reuni nossos estrategistas e comandantes nessas ultimas horas a fim de planejar um contra-ataque — continuou Cantius que andava sobre o palanque de modo que pudesse olhar para toda a multidão reunida. — Nossos espiões trouxeram noticias sobre um grande pelotão dos Maiorais que estava escondido sob nossos narizes, próximo ao litoral do Mar Goliah — a garganta de Hela oscilou e ela apertou a mão de Nyx.

— Perto de onde exatamente? — questionou ela para o pai que a olhou, as feições dele se suavizaram e o macho engoliu em seco.

— Perto do Calabouço, filha — houve um ofego em coro e o olhar de Hela ficou perdido. — Enfim, como boa parte dos nossos está ferida o conselho de guerra montou um plano para aniquilarmos a ameaça de dentro do acampamento. Enviaremos um grupo para se infiltrar, sem ser notado, e plantar bombas mágicas que serão ativadas de uma distancia segura...

— Eu vou — disse Hela soltando a mão de Nyx que a olhou da mesma forma de Raphael, ambos surpresos. Um silêncio permeou por todo o salão e Cantius respirou fundo.

— É muito perigoso... — ia dizendo.

— Eu não perguntei se é perigoso, eu só disse que vou — retrucou Hela e alguns baixos ofegos foram ouvidos. Nyx soltou uma baixa risada pelo nariz e um sorriso de canto estampou seus lábios bem desenhados.

— Se Hela for, então vamos juntos — disse Raphael se abaixando e pegando Forkas o segurando em seu colo. — Um grupo pequeno como o nosso pode conseguir, e sem muito esforço.

— São quilômetros de acampamento, acham que podem cobrir isso numa noite apenas? — questionou Cantius.

— Fomos treinados pelos melhores guerreiros de Prythian, acredite, daremos conta — respondeu o macho de olhos azul oceano com firmeza.

— Do que adianta, sequer conhecemos esse lugar — disse a voz grossa de um outro macho se aproximando e fazendo com que o quarteto o olhasse. Era um macho harpeu, curiosamente seus olhos eram pretos, vestia uma armadura diferente da dos outros soldados, era mais adornada, imponente, partes da franja estavam soltas moldando assim o belo rosto do macho que tinha uma cicatriz que cortava sua sobrancelha esquerda deixando assim uma falha. — Além disso, não os conhecemos e não sabemos se são confiáveis.

— Pelo amor dos deuses — reclamou Hela. — Eu os conheço muito bem, eles vieram aqui para me buscar e poderiam apenas muito bem ter pego Forkas e eu e nos levado de volta a Prythian, mas não, eles estão aqui e vão lutar conosco.

Princesa — disse o macho com arrogância e Nyx arqueou a sobrancelha enquanto corria o olhar pelo corpo musculoso do outro. — Com todo respeito, mas já quase a perdemos na ultima investida dos Maiorais, não podemos arriscar mais a sua vida.

— Eu vivo em perigo desde quando fui abandonada no Calabouço, General — disse Hela. — Não é por que agora que meu pai me encontrou e sou uma princesaNyx e Raphael ergueram as sobrancelhas e se entre olharam com toscas caras de surpresa. — Que vou deixar que lutar.

Nyx voltou o olhar orgulhoso para a amada, para sua parceira e sorriu.

— Hela tem o Soro Negro nas veias, não se esqueçam disso — disse Sabira subindo no palanque e fazendo com que Cantius a olhasse. — Eu acredito que eles possam fazer isso. Todos corremos riscos e não seria justo com ninguém que uns corressem mais que os outros.

Cantius respirou fundo e voltou o olhar preocupado a filha que o olhou com firmeza e nariz em pé.

— Tem certeza que quer voltar a aquele lugar? — perguntou ele e Hela engoliu em seco, mas assentiu. — Arón irá acompanha-los então, é o mais forte dos nossos generais — o macho abaixou a cabeça numa rápida reverencia e depois olhou para Hela que o encarou. Arón sorriu de canto e deu uma piscadela na direção da princesa harpia que logo sentiu a mão pesada de Nyx sobre o seu ombro e olhou para cima vendo a face fechada e dura do amado que encrava mortalmente Arón e esse o fazia da mesma forma.

— Isso não vai prestar, vai? — perguntou Forkas baixinho a Rapha que o ajeitou mais junto ao peito.

— Não vai não, porquinho — disse o filho de Gwyn encostando a boca na cabeça do pequeno pigga que engoliu em seco. Todos ali podiam sentir o poder escapando de Nyx e de Arón se afastando assim do grupo, mas logo Cantius se colocou entre os dois machos e com um aceno dispensou Arón e o restante da multidão. O pai de Hela então olhou para Nyx que voltou a atenção para si.

— Se me provar que é tão bom guerreiro que essa armadura amaldiçoada com azar não irá interferir, então eu acreditarei que é digno de minha filha — disse o macho fazendo Hela abrir a boca totalmente desacreditada, mas Nyx, esse agora tinha um sorriso arrogante nos lábios.

— Será uma honra, meu sogro.

Hela então olhou por cima do ombro para Raphael que apenas fechou os olhos e respirou fundo, se a situação estava ruim, Nyx havia acabo de piorar ainda mais e agora além de lutar usando uma armadura amaldiçoada com má sorte teria que provar a Cantius que era tão digno de Hela quanto qualquer harpeu. 


Corte de Asas Perdidas. CONCLUÍDO. Onde histórias criam vida. Descubra agora