Capítulo 43

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Acabou que, devido a nossa extrema exaustão – minha principalmente, já que a carga psicológica e física cobraram quase o triplo de mim – eu e Seth ficamos apagados até praticamente de noite, e só acordamos porque meu celular tocou.

Me levantei da cama confusa à procura do aparelho, guiada apenas pelo som, já que eu não conseguia ver o brilho da tela em nenhum lugar do cômodo.

- Aconteceu alguma coisa? – ouvi Seth perguntar, da cama, com a voz arrastada.

- Não sei, espero que não. Mas não consigo encontrar meu celular.

- Eu acho que ele tá em cima do sofá, Sam – meio resmungou, meio respondeu, perdido.

- Ok, volta a dormir. Se for alguma coisa eu te aviso.

Eu não precisei falar mais nada. Seth só se virou pro outro lado e apagou de novo – suspeito que ele nem sequer chegou a acordar de verdade. Aposto que ele nem vai lembrar desse telefonema mais tarde. Ri enquanto levava o aparelho ao ouvido.

- Sam? – minha mãe parecia aliviada, o que me assustou.

- Aconteceu alguma coisa? – perguntei, já me sentando. A friagem da noite fez meu corpo seminu se arrepiar.

- Não, nada. Mike não apareceu hoje. Eu, sinceramente não sei dizer se isso me alivia ou me apavora.

Pois é... Essa é a incrível capacidade do meu pai de ferrar com o nosso psicológico mesmo quando ele não está realmente fazendo nada... Ele não perdeu o jeitinho, pelo visto.

- Eu só te liguei porque eu queria pedir pra você e Seth ficarem pelo menos até amanhã.

Suspirei.

- Claro. Vou falar com ele sobre isso, mas eu imagino que ele não vai ter ânimo o suficiente pra se enfiar no carro e voltar dirigindo de madrugada de novo.

- Ok. Eu vejo vocês amanhã cedo. Boa noite, Sam.

- Mãe? – falei, antes que ela tivesse tempo de desligar. – A senhora tá me escondendo mais alguma coisa? – mesmo que a gente tenha conversado ontem, eu não consigo afastar o pensamento de que ela não foi cem porcento sincera comigo.

Mamãe suspirou do outro lado da linha.

- Não estou escondendo... – começou com cuidado, parecendo pisar em ovos. Isso nunca é bom sinal. – Mas desde que a gente conversou, eu estou cogitando a hipótese de me mudar de novo...

Fiquei em silêncio.

Esse é um assunto extremamente delicado pra mim. Me lembra de coisa errada demais do meu passado fodido demais. É claro que minha mãe achou uma boa oportunidade se mudar graças à tudo o que acontecia e aconteceu comigo, mas é óbvio que não foi só isso.

Não existiriam motivos reais pra se mudar comigo só porque eu tinha problemas na escola. Uma rematrícula em outra instituição resolveria o problema com facilidade. Inclusive a possibilidade foi comentada em mais de uma ocasião. É óbvio. Eu não queria me mudar. Ela não queria se mudar. Por causa disso, nós duas deixaríamos uma vida inteira para trás.

- Pra onde a senhora vai? – perguntei baixinho, apertando minha mão em punho sobre meu joelho, onde ela estava apoiada.

- Não vou para longe, não como da outra vez. Mas talvez mudar de cidade, de endereço. Algo mais próximo de onde você mora. Ou mais perto de onde eu trabalho. É só o que eu estou pensando por agora – ela deu uma tentativa de risada do outro lado. – Pelo menos dessa vez eu não vou atrapalhar a sua vida. Você é uma mulher crescida agora, que mora sozinha, trabalha e estuda, em um relacionamento. Eu não quero que você sofra de novo por minha causa...

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