25 de Dezembro de 2007, Londres.
Harry estava realmente desolado. A cena chegava a ser cômica, ele tinha que admitir. Seus olhos estavam uma combinação de inchaço e congelamento, se é que isso era possível, enquanto chorava intensamente no meio de uma das piores nevascas de dezembro. O projeto de casaco que tinha sobre os ombros não conseguia aquecê-lo, fazendo com que seu corpo estivesse rígido e tremulo com a baixa temperatura. Ele não enxergava um palmo a sua frente, cortesia da miopia em conjunto as lágrimas, que embaçavam sem dó sua visão. Suspeitava que seu rosto estava tão vermelho quanto a roupa do papai-noel, mas não sabia se era pelo estado de quase hipotermia ou pelo choro incessante. A quanto tempo chorava? Uma? Duas? Três horas? Não fazia ideia. Só sabia que era natal e estava sozinho, completamente solitário.
Não era assim que planejava passar a data, de todo modo. Nem ao menos se incomodou com a viagem dos pais e dos padrinhos, muito menos com a ideia louca de Hermione e Ronald de irem para a primeira balada lgbtqia do ruivo desde a descoberta de sua Pansexualidade. Não, ele realmente não se importava com isso, pois com certeza teria sua linda e carinhosa namorada ao seu lado, fazendo companhia no seu feriado favorito de toda, e completa, existência. Assistiriam filmes natalinos cafonas, tal como no ano anterior, e comeriam as típicas comidas natalinas. Seria uma maravilhosa noite, e terminaria com os dois dizendo um para o outro o quanto se amavam logo após Harry dar à Cho o cordão que antes era de sua falecida avó. Em suma: Um natal perfeito.
Isso se não fosse pelo fato de, no dia anterior, Cho Chang tivesse o traído com seu colega de trabalho, Cedrico Diggory.
A ficha demorou para cair. Harry levou exatas doze horas para entender e interpretar inteiramente a situação. Tinha encontrado Cho aos beijos com Cedrico no quarto dela, ambos com as roupas levemente amassadas e levantadas, de modo que a mão dele se encontrava em contato com a pele da cintura dela. Se recordava das palavras “ Sinto muito” e “Inesperado” vindas da boca dela, além do olhar culpado e choroso, que Harry vira tão poucas vezes que mal se lembrava. Sabia que o término havia sido decreto dele, mas horas depois se pegou fazendo uma massa do famoso “ Bolo de Natal dos Potter’s” como se ainda fosse para a casa de Cho naquela noite. Em algum momento entre a retirada da massa da forma e o confeitado natalino meticulosamente feito ele percebeu o que era inevitável: Não havia com quem comer aquilo.
E foi assim que ele, envolto na epifania de sua lamentável situação, acabou em sua atual posição: Parado de frente para um velho bar, com roupas finas demais para o frio que fazia, e um bolo confeitado com um delicioso glacê verde e pequenos sinos e luzes de natal. Não sabia para onde ir, muito menos o que fazer, estava congelado no lugar como se aquela nevasca tivesse o envolto numa camada dura de gelo. Sentia até sua última célula ardida e congelada, mas não possuía energia de autopreservação naquele momento para procurar abrigo. Sentia que talvez tudo estivesse melhor ali onde, em breve, o gelo congelaria suas lágrimas e seu coração. Estava um caco.
— Ei! Maluco!- Uma voz irritada e ríspida o tirou do torpor de sua solidão. Virou, vendo nada além de um vulto corpulento e negro a sua frente. Não havia rosto talvez pela quantidade enorme de neve circulando entre os dois, ou pela falta de visão dos óculos.— Não estou afim de me deparar com um corpo morto amanhã de manhã, então entre logo!
O vulto extremamente seco e insensível não esperou sua resposta, muito menos qualquer reação que comprovasse que ainda existia vida em si. Apenas largou o que Harry arriscava ser uma porta de madeira aberta, num ultimato para que ele o obedecesse. Sem energia para negar, Harry apenas entrou no local, sentindo de imediato o quentinho da lareira atingir seu corpo. Parecia menos dolorido agora, e piscar já não doía tanto. Após limpar os óculos na fina manga do casaco, Harry notou que as mesas e cadeiras estavam todas em uma arrumação que não deixava dúvidas: O local estava fechado.
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It's Christmas baby!
FanfictionHarry adorava o Natal, sempre adorou. Entretanto, uma onda de azar no ano de 2007 fez com que ele, o maior amante do período natalino, passasse por uma série de acontecimentos que o levaram a estar sozinho e desamparado na porta de um bar, na noite...