— Está descarregando... — o Garoto olhava seu celular, com os olhos meio cansados.
O Garoto estava em um quarto junto de seu Amigo e sua Amiga. O quarto estava meio escuro, exceto pela luz que vinha da TV, já que os três estavam assistindo à um filme.
— Gente, meu celular está ficando sem bateria — disse o Garoto, olhando para os dois ao seu lado. — Eu vou ir carregar rapidinho e já volto. — Ele saiu debaixo da coberta onde os três estavam e do quarto logo em seguida. Os dois Amigos não disseram nada.
Ele começou a caminhar e caminhar. Era uma casa muito grande, quase uma mansão. Ou seria uma mansão? Ele não se lembrava muito bem...
Andou por muito tempo, até que finalmente encontrou uma tomada. Colocou seu celular para carregar e se preparou para voltar, mas... "Pra que lado fica o quarto mesmo?"
Andou, andou, e andou mais um pouco. Ele finalmente chegou no quarto. Antes de entrar, pensou:
— Lá estão eles... — logo reparou em como era o quarto. — Mas espera, esse não é o quarto em que estávamos...
Ele voltou sua atenção aos Amigos. Seus olhos ficaram esbugalhados, as pupilas minúsculas.
Então deu passos para trás, lentamente.
— Mas o que é que está acontecendo? — se perguntou, com uma ansiedade no peito.
De repente, esbarrou em algo e se virou rapidamente, tendo mais uma onda de surpresas.
— Finalmente achei você — disse um garoto que era igual a ele, ofegante, colocando a mão em seu ombro direito. Era como se olhar no espelho.
— Mas que droga tá acontecendo...? — murmurou baixinho.— Então você foi colocar seu celular pra carregar? — perguntou o "Espelhado" (vamos chamá-lo assim), logo pegando seu próprio celular e dando uma olhada na bateria. — Devia ter notado que meu celular estava descarregando — disse, meio impaciente consigo mesmo.
Os dois estavam sentados no chão, em alguma parte da enorme casa.
— Será que pode, pelo amor de Deus, me explicar o que está acontecendo?! — perguntou o Garoto, ainda sem acreditar no que via.
O Espelhado suspirou.
— Relaxa aí, tá? Acontece que você é... o meu clone.
O Garoto ficou quieto, tentando raciocinar o que acabou de ouvir. Vamos chamá-lo de Clone a partir de agora.
— Eu... Eu não sei o que dizer. — Clone se calou.
— Você não precisa dizer nada, é apenas um clone — disse o agora Original.
Clone levantou o olhar, surpreso com o que foi dito.
— Está ouvindo o que está falando?! Eu tenho sentimentos, sabia?! — exclamou ele.
— Eu sei... Eu também tenho... E é por isso que você está aqui.
Clone ficou confuso.
— O quê?...
— Eu te criei porque eu não tinha coragem suficiente pra ir ficar com nossos Amigos. Eu sou um covarde.
Ambos ficaram em silêncio, sem saber o que dizer, até que Clone se lembrou de algo.
— Ei — Clone o chamou —, enquanto eu voltava para o quarto, eu achei um outro quarto, e nossos Amigos estavam lá. Isso não faz sentido, pois não era lá em que estávamos.
O Original entrou em choque.
— E você não vai acreditar! — Clone começou a lacrimejar. — Os dois estavam jun--!!?
Um pózinho mágico se espalhou pelo chão, de repente. O Original havia estourado seu clone com uma agulha.
— O que é que tá acontecendo aqui, droga?! — O Original se levantou, estava confuso e desesperado. Seguiu até o quarto onde havia deixado seu clone.
Ao chegar, sem nem entrar no lugar, viu seu Amigo e Amiga.
— Clones fazem exatamente o que os originais pensam e desejam — pensou ele, relembrando de como o uso dos clones funcionava.
Sentiu uma dor no peito.
De repente, em um ataque de aflição, ele se jogou para cima dos Amigos e os furou com sua agulha. O quarto logo estava cheio de pózinho mágico.
— Foi como eu imaginei... Clones. Mas por quê? — Ele colocou a mão no peito, sentindo uma dor no coração. Era uma dor muito forte.Antes de irem para o quarto assistirem ao filme, os três amigos se separaram por um instante. Bem, mais ou menos. O Original foi para um lado e o Amigo e Amiga foram para o outro da enorme casa.
— Tá, eu definitivamente não vou aguentar isso. — A barriga do Original se remexia por completo. — Vou precisar de um clone.
Do outro lado, o Amigo e Amiga decidiram fazer o mesmo. Criaram clones. Mas por que exatamente fizeram isso?
O Original empurrou seu clone até o corredor, assim como os amigos empurraram os seus — sem que ninguém se visse. Os clones então finalmente se encontraram, ainda meio aéreos, e foram ver o filme.
— Agora é só esperar o filme acabar... — pensou o Original, que logo desapareceu pela enorme casa.
— Agora podemos ficar a sós — disse a Amiga para o Amigo, e logo seguiram para um outro quarto.O celular não vai recarregar. Agora ele é apenas pózinho mágico. Um pózinho mágico cheio de dúvidas e uma dor muito forte no coração.
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Noite de Filme
FantasyUm Garoto percebe que seu celular está descarregando durante um filme que via com seus Amigos, em uma enorme casa. Ele sai em busca de uma tomada, mas acaba achando mais do que apenas uma fornecedora de energia.