Capítulo 1

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WILL

Bom, a derrocada do natal começou com golfinhos e fliperama... Adorável, né? Mas não se é semideus e ainda filho de Dionísio...

Um golfinho no seu sonho? Seu pai está no mínimo de olho em você ou acidentalmente você quebrou uma garrafa de La Tâche Grand Cru.... Bom, se for a segunda opção, melhor ficar longe de qualquer planta ou felinos de qualquer espécie.

Voltando ao fim do mundo... Eu sou Will, tenho 23 anos, filho de Dionísio (sim, o deus dos vinhos, teatro entre outras coisas). Agora, o importante: eu estava sonhando com golfinhos, era treinador deles, e estávamos fazendo uma apresentação incrível num parque aquático. Luthor, o meu parceiro aquático, fazia as acrobacias perfeitamente e estávamos no grand finale, quando notei de canto de olho um senhor rechonchudo com uma camisa estampada como leopardo e shorts cargo verde oliva.

Soltando um resmungo, nadei em direção a ele.

Cheguei na beirada da piscina e senti um arrepio, apesar de estar um dia ensolarado no sonho.

— Então, você estava aqui, Win...

— É Will — cortei meu pai. — Custa acertar pelo menos isso?

— Insolente, acho que seu amigo golfinho Luster quer ganhar um semelhante...

Respirei fundo e recomecei:

— Oh, lorde Dionísio, senhor das festas e exemplo de pai, a que devo a honra dessa ilustre visita em meu sonho?

O deus tirou os óculos e me fitou por um momento com seus olhos roxos, que me fizeram repensar se tinha sido uma ideia inteligente usar esse tom.

— Primeiro, vamos para outro lugar.

Antes que eu pudesse protestar, o meu dia ensolarado e meu parque aquático, junto com meu golfinho, se dissolveram numa nuvem vertiginosa e se remodelaram num bar de motoqueiro. Meu pai, que estava na minha frente um segundo atrás, agora estava jogando em um dos fliperamas encostados na parede.

— Vai ficar parado aí? Quando resolver se mexer, me traga uma bebida...

Eu estava parado no meio do bar com uma roupa de neoprene, ainda pensando se eu ainda estava em um sonho ou se realmente estava no bar favorito do meu pai... Suspirei e fui no balcão, pedi uma coca diet e uma Pepsi. Fiquei tentado a pedir uma dose de uísque. Contato direto com os deuses sempre era estressante e nunca era simples.

Voltei para o onde estava o deus. Ele aparentemente ainda estava irritado com o fliperama, no qual, por algum motivo, as luzes piscavam fracamente e a tela, em vez de brilhar com os gráficos de jogos antigos, exibia uma tela azul com escritos em uma língua antiga em branco.

Desistindo do jogo e se virando para mim, o meu pai divino, com o rosto lívido, agarrou a lata de refrigerante da minha mão, como se o refrigerante fosse a solução de todos os problemas do mundo.

Algo no modo do deus irritado na minha frente me divertia e então, apesar do risco de ser transformado em uma planta frutífera, perguntei:

— O que o deus dos jogos obsoletos e chatos deseja com meus sonhos...? Se é que ainda posso chamar isso de meu sonho...

A lata de refrigerante emitiu um chiado e explodiu na mão do deus quando ele olhou ferozmente pra mim

— Se fosse outra época, eu realmente já teria te vaporizado, mocinho... Mas vim avisar sobre um detalhe chato dessa sua vida preguiçosa no acampamento.

Contos de Natal no Acampamento Meio-SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora