porto seguro

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   Era mais uma sexta feira nublada e cinzenta, todos os dias pareciam ser assim para Jisung. Quietos, solitários e tristes. Tudo parecia tão sem graça sem ter Minho ali consigo, sem ter a sua risada para preencher o silêncio. Sentia falta até das brigas bobas, pelo menos assim ele poderia olhar seu rosto tão bem desenhado de perto, acordado.

   Minho não estava morto, lógico que não, não poderia. Jisung nem imagina como estaria caso ele estivesse. Mas ele também não estava ali consigo.

   Era tudo tão injusto, Minho estava desacordado numa cama de hospital com milhares de agulhas e tubos ligados em sí por culpa de uma pessoa que sequer desceu do carro para prestá-lo socorro quando bateu em sua moto. Jisung lembrava como se fosse ontem do dia do acidente, mesmo que já fizessem 2 meses.

   Acordou dos pensamentos quando ouviu um trovão estridente ecoar, deu um pulo no lugar e sentiu as mãos começarem a tremer junto do coração que falhou as batidas.

   Suspirou fundo levando as mãos trêmulas até sua mochila e a colocou nas costas indo até o banheiro. Dori, uma das gatinhas de Minho que passou a ser sua também, seguia logo atrás.

   Abriu a torneira e jogou uma quantidade razoável de água no rosto, parando para analisar sua imagem deplorável por alguns segundos. Os olhos estavam vermelhos e pequenos, as olheiras escuras e fundas, a franja já cobria seus olhos e seu rosto estava tão magro que suas bochechas estavam praticamente sumidas. Sabia o quanto que Minho gostava daquela parte do seu corpo e o quão bravo ficaria por saber que ele não estava se cuidando tão bem.

   Quando ouviu o segundo trovão ainda mais alto derrubou a mochila no chão e por pouco não caiu junto. Ouviu o miado da gata ao seu lado e fechou os olhos com força, tentando parar as lágrimas que desciam sem seu consentimento e acalmar a respiração desregulada.

   — Ele está tão assustado quanto você.— Disse para o próprio reflexo enquanto pegava a mochila do chão e reunia coragem para enfrentar a chuva mais um dia.

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   Estava sem dinheiro para pagar um uber então teve que ir andando até o hospital. Tentou secar a franja molhada antes de entrar e seguir direto para a recepção.

   — Boa noite, Han.— A recepcionista o cumprimentou com um pequeno sorriso.

   — Boa noite. Alguma novidade?— Viu o sorriso perder o brilho e ela negou com a cabeça. Jisung ia lá todos os dias e parecia que a mesma imagem sempre se repetia, ele se via preso nesse loop e não sabia até quando aguentaria.

   — Um enfermeiro acabou de sair de lá, já pode visitá-lo.— Concordou com a cabeça e seguiu até o elevador que o levaria para onde ele estava.

   Abriu a porta do quarto e encontrou a exata mesma cena que via todos os dias: Minho deitado desacordado em uma cama hospitalar entre vários equipamentos, tubos e agulhas. Mordeu o lábio tentando conter as lágrimas que vieram contra a sua vontade e adentrou o quarto estampando um pequeno sorriso.

   — Hoje eu vou passar a noite com você, lembra?— Perguntou ao vento, imaginando o quão maluco as pessoas que passassem ali perto imaginariam que ele fosse, por conversar com alguém desacordado. Mas Han não se sentia sozinho. Ali com ele, alguma coisa dentro de sí dizia que Minho escutava cada palavra dita pelo mais novo. Talvez por isso ele passe tantas noites ao seu lado. Se aproximou olhando para o rosto adormecido que era parcialmente tampado pela máscara de oxigênio.— Eu sinto tanta a sua falta, amor.— Pegou a mão que tinha um acesso ligado diretamente à uma bolsa com um líquido que Han não se importou em saber qual era, acariciando seu polegar ali. Sentiu falta do aperto que a mão do maior fazia na sua, do modo como ele sempre entrelaçava seus dedos em público só para vê-lo envergonhado, sentiu falta do seu calor. Agora tudo que ele sentia eram calafrios, e um ânsia horrível por vê-lo nessa situação.

;rainy days.Onde histórias criam vida. Descubra agora