5 anos antes :

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- Você só pode estar louco! Como faz uma coisa dessas? No meu aniversário aryn?
E lá estava eu, mais uma vez jogado no banco de trás do carro, ouvindo os gritos estridentes de sammy e sentindo o sangue escorrendo pelo os meus lábios. Não me sentia mal pelo o que havia feito, afinal, idiotas como o Nicolas não mereciam menos que uma surra bem dada.
- Qual foi Sammy? Vai ficar me xingando o caminho todo? Minha cabeça dói com toda essa gritaria.
E realmente a minha cabeça doía, mas ouvir a voz da Sammy, mesmo que fosse aos berros de certa forma me trazia uma sensação quente ao peito, um frio na barriga e arrepios estranhos por todo o corpo.
- Olha nos meus olhos Aryn, e me diga - ela fez uma pausa colocando um dos braços no encosto do banco afim de se virar e olhou no fundo dos meus olhos, parecia decifrar todos os meus segredos e enxergar a minha alma.- Qual o seu plano? Quer me deixar sozinha pra sempre? Você simplesmente mete a mão em todos os garotos que se aproximam de mim. O Nicolas não estava fazendo nada de mais, nós só estávamos dançando!! E eu estava gostando da dança.

Algo na fala dela fez meu coração doer, ela estava gostando.... gostando de dançar com um babaca! E nem se importava com os meus sentimentos, mas também como poderia adivinhar que eu era completamente apaixonado por ela? Que meu coração acelerava toda as vezes que ela sorria? Como ela poderia ao menos imaginar isso se eu nunca havia falado nenhuma palavra sobre o que sentia?

Travei a mandíbula numa tentativa falha de não soltar todas as palavras que estavam na ponta da minha língua. Meu cérebro fervilhava e eu queria derramar sobre ela todos os sentimentos que estavam presos no meu peito. Olhei para a frente avistando a luz vermelha do farol e foquei naquele ponto por alguns minutos antes de dizer:
- Não, meu plano não é te deixar solteira. Eu só quero que você fique com alguém que te respeite, que te ame. Você merece mais, muito mais do que imagina. - tirei meus olhos da luz vermelha e me virei para admirar o rosto da garota que estava á minha frente, olhei em seus olhos e vislumbrei um brilho diferente, algo que não consegui decodificar pois o sinal havia acabado de ficar verde novamente.
Sammy então se virou para a frente e continuou a dirigir. O silêncio pairava sobre nós e pesava o ar, optei por virar para a janela admirando as árvores que passavam rápido pelo o vidro.
Eu me sentia cada vez mais estranho e aquele amor todo me torturava e me corrompia por dentro, pois eu sabia que por mais que tentasse
Jamais seria de fato correspondido.

E só Deus sabe o quanto eu a amava.
Exatamente da forma como um idiota ama.

Entrei em casa batendo os pés no chão com força, gostaria de me deitar e cair no sono, queria silenciar minha cabeça por apenas alguns minutos, mas a garota que suspirava de forma irritada atrás de mim não me deixava esquecer do ocorrido na festa.

Coloquei as chaves encima da mesa de madeira e me joguei no pequeno sofá azul celeste, aquele sofá era horrível, mas Sammy achará que ele "combinava com o tom azul dos meus olhos", fiquei meio bobo com a comparação e com um sorriso forçado no rosto comprei o tal sofá. Saí da loja com um móvel ridículo e um vendedor um tanto quanto feliz com a venda atrás de mim. Minha mãe claro, concordou com ela, e disse que o sofá era simplesmente " a coisa mais bonita que já tinha visto" palavras dela.

- No que você está pensando?- Sammy perguntou e se aproximou de mim em passos lentos, parecia quase arrependida, estava encolhida e puxava constantemente a pulseira verde água  nos seus braços. Ela sempre fazia isso quando se sentia culpada.

-Olha, sei que fui um pouco grossa com você- falou erguendo o rosto, mas ao encontrar os meus olhos ela virou para a parede novamente como se meu olhar a queimasse por dentro. - Aryn, juro que não queria ter gritado mas eu estava tão brava com você! Eu me senti tão h-humilhada hoje e também me senti estúpida- ela pegou o celular do bolso da calça jeans azul escura, digitou a senha e em seguida virou a tela para mim, uma foto de Nicolas como uma garota qualquer ao seu lado, os braços dele envolviam sua cintura e os dedos apertavam a pele da garota, dava para perceber pelo o sorriso malicioso capturado pela a câmera que com certeza eles tinham algo á mais.
Eu queria gritar a plenos pulmões que eu estava certo, que ela era realmente uma estúpida e completamente cega por não perceber os claros sinais de que Nicolas apenas queria usa-lá, mas segurei todas as palavras e a engoli de volta quando vi nos olhos dela uma dor extensa. Ela tinha sido  novamente enganada, novamente viraria uma piada pelo os corredores da faculdade e novamente eu teria que bater em alguém por faze-la sofrer.

Era uma looping infinito.

Me ajeitei no sofá e com alguma dificuldade me sentei, minhas Costelas doíam mas mesmo assim abri espaço para que ela se sentasse ao meu lado. Com um aceno de cabeça a convidei para sentar e foi o que ela fez. Olhei para o seu rosto como eu sempre costumava fazer, memorizei seus traços, cada um deles. Eu nem ao menos precisava olha- lá para saber cada detalhe dela.
Seu cabelo tinha um tom castanho claro e chegava abaixo da altura dos ombros, eram cacheados e volumosos seus olhos eram igualmente castanhos mas tinham pequenos pontinhos amarelos ao redor, ela usava óculos de grau que não escondiam em nada a beleza do seu olhar, sua pele era negra e naquele momento contrastava com o seu vestido amarelo. Ela estava radiante como o sol, eu arfei como fazia todas as vezes que os meus olhos entravam em contato com aquela mulher.

Balancei a cabeça me tirando daquele devaneio e peguei uma de suas mãos e entrelacei as minhas, elas estavam suadas mas eu não liguei para isso. Passei meu polegar lentamente pelo dorso da sua mão acariciando sua pele.
- Escuta Sammy, eu...- não consegui terminar a frase ao perceber que os olhos dela estavam na minha boca, e por um mísero minuto eu achei que ela iria me beijar, mas não, não era isso, ela estava apenas avaliando o corte superficial que eu tinha próximo aos lábios por conta da briga.
- Você ainda está sangrando, me deixa cuidar disso.- falou já se levantando do sofá e indo até o banheiro, voltou tempos depois com uma pequena maleta branca de primeiros socorros na mão e fez um curativo nos meus machucados.
- Sabe Aryn.... Eu tenho um sério problema- Sammy começou a falar enquanto guardava os materiais de primeiros socorros novamente dentro da caixinha. - Eu sou uma garota que acabou de completar 20 anos de idade hoje, VINTE. E nunca, nenhuma vez se quer fui beijada por um garoto.
Tem noção de como isso é difícil pra mim? - ela disse parando o que estava fazendo para poder me olhar com uma certa intensidade que revirou meu estômago por completo. - e você sabe que parte disso é culpa sua não é?

Sim, parte disso com certeza era culpa minha, de fato eu não deixava ninguém se aproximar dela. Parte porque eu tinha um tremendo ciúmes da garota que nem ao menos era minha e parte porque eu conhecendo bem os "alunos" do nosso Campus eu sabia que nenhum deles teria a  delicadeza necessária para lidar com ela.
- Sammy.... não posso te pedir desculpas por isso.- ela me olhou franzindo a testa demonstrando o quão confusa estava com minha confissão . - Não posso te pedir desculpas por nada do que fiz até hoje.- dei de ombros e a olhei fixamente esperando que dê alguma forma ela entendesse que tudo o que eu havia feito e todos os ataques de raiva não haviam sido a toa. Era tudo com o intuito de protegê-la e também de faze-la finalmente enxergar minha presença.
De alguma forma ela conseguiu ler algo nos meus olhos mas não sei o que foi exatamente. Porém o que fez a seguir foi tão súbito quanto o ódio que ela havia sentido de mim quando me viu batendo em Nicolas.

Ela colocou as duas mãos ao redor do meu rosto e me beijou.

Não sei como aconteceu.
Só sei que em um minuto ela estava longe de mim, e de repente estava perto demais para que eu pudesse respirar direito.
Estaria mentindo se dissesse que eu estava no meu melhor estado naquele momento, porque na verdade estava em choque.
Todos os sentimentos que senti foram repentinos  e tão devastadores que minha cabeça apenas girava rápido demais para que eu pudesse processar qualquer coisa que não fosse o pensamento de que: Samira Gusman tinha me beijado. Eu fora o seu primeiro beijo e ninguém mais seria o primeiro além de mim depois daquele dia.

Pelo menos era o que eu pensava até aquele dia.

Até o dia em que ela simplismente desapareceu da minha vida.

Enfim... Meu caro leitor, se esperava uma história onde o mocinho ficava com a mocinha tão facilmente assim, bom.... então talvez você seja bem mais tolo do que eu.

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⏰ Última atualização: Feb 08, 2023 ⏰

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