Capítulo 86: Era você o tempo todo.

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Ryder Parker

Subi atrás de Cold, vendo os passos rápidos dele e sua expressão séria. Não estava nos meus planos contar com a ajuda dele e muito menos confiar nele. Mas se Hannah confiava, eu sabia que deveria fazer o mesmo, porque era óbvio pra todo mundo que o que rolava entre eles era sério. 

—Isso é um trabalho em equipe, então já sabe. —Falei, ouvindo Cold soltar uma risada, o que me fez comprimir os lábios, porque não tinha certeza se ele estava me levando a sério ou não.

—Não vou trair você, relaxa. —Afirmou, soando um pouco sarcástico. —Temos duas coisas em comum, Ryder. Ambos odiamos o presidente o suficiente para desejá-lo morto e ainda tem a Hannah. Acho que concordamos que nenhum de nós quer machucá-la.

Não respondi, porque ele tinha total razão no final das contas. Hannah era importante demais pra mim e Cold já havia provado que ela era importante pra ele também. Essa era nossa última tentativa de fazer justiça por tudo que o presidente fez esses anos todos. Pra mim sempre foi mais profundo.

Ele havia matado meus pais. Havia me afastado da minha própria irmã quando nenhum de nós tinha capacidade de entender o que estava acontecendo. Eu passei anos procurando por ela. Crescendo e tendo certeza que faria tudo para conseguir ela de volta. Para que fôssemos uma família de verdade. E quando eu soube que ela estava viva e bem, foi como o fim de uma guerra dentro da minha cabeça.

—Vamos entrar aqui. —Cold chamou minha atenção, entrando em outro túnel de ventilação, enquanto eu ainda pensava em Hannah, esperando que estivesse correndo tudo bem pra ela, Ethan e Kai.

—Quantos soldados você acha que estarão com ele? —Indaguei, vendo Cold balançar a cabeça como se eu estivesse fazendo uma pergunta idiota.

—Ele é previsível. Pode ter centenas deles lá ou nenhum. Imagino que ele pense que estou indo sozinho até ele. Sabe que isso é como uma vingança pessoal minha. —Cold parou um segundo, antes de soltar uma respiração pesada e então voltar a andar.

—Todos temos uma vingança pessoal contra ele. —Rebati, pois era totalmente verdade. Podia ser o menor dos motivos, mas todos tinham algum motivo bom o suficiente para odiá-lo e o querer morto. Cold não respondeu e eu continuei o seguindo pelo túnel de ventilação, sentindo o suor escorrer da minha testa. Ali naqueles túneis, era mais perceptível ainda o barulho dos tiros pelo complexo.

—Estamos quase. —Cold murmurou, me fazendo hesitar um pouco, vendo-o parar sobre uma tela e a erguer, pulando para dentro logo em seguida.

Pulei logo em seguida, me deparando com uma cozinha imensa completamente vazia e silenciosa. Não havia barulho de explosões e nem tiros ali, como se tudo estivesse o mais calmo possível lá fora. Cold foi até a porta e abriu uma pequena fresta, olhando o que havia lá fora, antes de assentir com a cabeça e indicar que eu o seguisse, assim que saímos para o corredor.

Seguimos em silêncio, enquanto eu mantinha minha arma erguida e o dedo no gatilho, olhando para qualquer lugar onde um soldado poderia tentar se esconder. O corredor dava para várias portas, até chegarmos a uma imensa sala, que eu parei por um segundo para observar, pensando na possibilidade de já ter estado ali. De literalmente ter morado ali antes de tudo acontecer e meus pais morreres. O pensamento trouxe um gosto amargo na minha boca, além das lembranças ruins de ter crescido sem os pais e sem a irmã.

Cold olhou para trás quando percebeu que eu havia parado, me lançando um olhar confuso, como se quisesse ter certeza que estava tudo bem comigo. Apenas engoli em seco e voltei a andar, vendo ele me olhar por mais um tempo, antes de se virar e seguir para as portas do outro lado da sala, que davam para outro corredor. Não havia soldados por ali, assim como o silêncio que persistia em nos seguir.

Mas assim que colocamos os pés no corredor e a porta se fechou atrás de mim, ouvimos o som de um rangido, que fez eu e Cold trocarmos um olhar e ficar em completo alerta. Olhamos para todas as portas daquele corredor, observando que apenas uma delas estava aberta. Cold seguiu na direção daquela, contraindo a mandíbula com força.

—Filho? —A voz do presidente surgiu daquela sala quando nos aproximamos, como se o maldito soubesse que não estava sozinho a muito tempo e estivesse nos esperando. —É você que está aí, Cold?

Vi ele engolir em seco e então caminhar até a porta aberta, enquanto eu me escorava na parede, me aproximando aos poucos, com a intenção de ficar fora de vista. Cold parou no batente da porta, erguendo a arma e a mirando na direção que eu imaginava que o presidente estava, como se quisesse me mostrar, antes de entrar lá dentro e eu não poder mais vê-lo.

—Eu sabia que você viria até mim, filho. —O presidente comentou, de uma forma tão casual que meu sangue ferveu, enquanto a raiva queimava dentro do meu peito, fazendo meu coração se contrair.

Já tinha o visto pessoalmente, mas tive que me segurar para não esmurrar sua cara com toda força, com a lembrança de que ele havia matado meus pais sempre presente na minha cabeça. Mas saber que estive por tanto tempo embaixo do nariz dele e que ele até mesmo falou comigo, sem fazer ideia de quem eu era, me dava uma satisfação enorme.

—Onde estão os soldados? —Cold questionou a ele, enquanto eu me aproximava mais da porta, para tentar ouvir absolutamente tudo e também entrar rápido se fosse necessário.

—Não tem nenhum. Sou só eu e você. Acho que sempre foi, não é? Um jogo pessoal entre nós dois, tentando descobrir quem é o melhor. —O presidente soltou uma risada baixa, soando estranhamento orgulhoso daquilo. —Eu subestimei tanto você, Cold. Queria que você fosse o melhor e achei que não havia conseguido isso. Mas hoje vejo que errei. Você se tornou o melhor. Jogou contra mim esse tempo todo e eu não notei.

—Você ficou cego pela própria arrogância de pensar ser o melhor. —Cold rebateu na mesma hora. —Mas você nunca foi nada para ninguém, mas era tão egocêntrico que nem mesmo percebeu isso.

—Eu sou o seu pai. Pode negar isso. Pode me chamar de presidente e não sentir absolutamente nada por mim. Mas é o meu sangue que corre aí dentro. —O presidente sequer pareceu se incomodar com as palavras de Cold. —E você querendo ou não, somos iguais.

—Não, não somos. Eu definitivamente sou melhor do que você em muitos aspectos. Não preciso obrigar ninguém a ficar comigo. Não preciso matar ninguém para conseguir algo. —Cold rebateu.

—Você realmente se apaixonou por aquela moça, não é? Eu jurava que tudo era encenação sua. Tive uma leve desconfiança quando a trouxe para jantar comigo e com Amber. —Ouvi-lo falar de Hannah me fez ficar rígido no lugar. —Você quase revelou todos os seus sentimentos por ela naquela noite. Quase, porque conseguiu esconder tão bem depois e fingir muito bem que era apenas fingimento.

—Você sempre foi cego. Foi enganado várias vezes, não só por mim. —Cold riu, enquanto eu escutava os passos dele pele sala. —Ryder, pode vir aqui um instante?

Me afastei da parede e dei alguns passos até para no batente da porta, onde já podia ver o presidente, sentado na ponta da mesa de jantar, como se estivesse em uma reunião muito importante. Seus olhos deixaram Cold e vieram até mim, enquanto a surpresa tomava conta do seu rosto.

—Você... —Sibilou, olhando de Cold para mim, como se não conseguisse acreditar que eu havia o enganado daquela forma. —Era você o tempo todo. Eu deveria ter imaginado, quando fez tanta questão de se colocar na mira de uma arma para proteger aquela garota!

—Foi fácil demais entrar aqui e me passar por uma pessoa qualquer, porque você é arrogante demais para perceber os próprios erros. —Afirmei, balançando a cabeça negativamente, enquanto apertava aquela arma nas minhas mãos. —Mas agora acabou. Você está completamente acabado.

—Só acaba quando eu estiver morto. —O presidente sorriu pra nos dois, antes da porta no final do corredor explodir e vários soldados passarem por ela.


Continua...

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