Capítulo 73 - Aline

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Ao abrir os olhos, sinto um leve cansaço e as luzes no ambiente fazem as minhas vistas arder.
O que será que tinha acontecido?
Será que a cirurgia havia sido bem sucedida?
Olho ao redor e vejo Ricardo deitado no sofá.
Ele se remexe e abre os seus olhos em seguida.
E assim que me olha, levanta-se rapidamente e coloca-se ao lado da minha cama.
Onde será que estava o Cristopher?

_Você acordou! - Diz sorrindo - Eu preciso informar ao Cristopher.

Foi possível ouvir a sua voz alterada do outro lado da linha. Ele encerra a chamada, e novamente ele me olha, sorrindo.

_A cirurgia foi um sucesso...

Os meus olhos começam a ficar inundados e as lágrimas descem. O Ricardo se senta ao meu lado e comemora comigo silenciosamente, apenas com as nossas lágrimas.
Eu estou curada, estou curada!
A minha mente repetia a todo segundo.
Eu estava muito feliz, queria me levantar dessa cama e comemorar de alguma forma, mas ao mexer o meu corpo, instantaneamente sinto um pouco de dor.

_Você ainda terá que se cuidar, então é bom não fazer muito esforço.

_Será que vai demorar muito para ficar totalmente recuperada?

_O doutor Barella virá e podemos falar com ele.

_Eu não vejo a hora de ir embora para casa.

_Você sabe que não vai conseguir convencer o Cristopher a não te levar para a casa dele, não é?!

_Eu não estou tão mal assim.

_Só essa vez na vida, não seja teimosa. - Ele se afasta - O Cristopher quer cuidar de você. Ele esteve aqui todos os dias e quando não pôde estar presente não deixou de ligar para ter notícias. Você sabe que precisa de cuidados e ele também sabe.

_Eu não quero ser uma obrigação para ele.

_O Cristopher te ama. Ele te daria qualquer coisa que você pedisse e eu falo isso com total certeza.

Ele se senta ao meu lado novamente e segura a minha mão carinhosamente.

_Eu o conheço há tanto tempo e eu nunca o vi dessa forma. O jeito que ele fala de você, como está sempre tentando te agradar e o brilho nos olhos quando te vê. Se você parasse para ver esses pequenos detalhes, não deixaria essa insegurança te dominar.

Ele está sempre demonstrando o seu amor, tanto com palavras quanto com atitudes, então por que é tão difícil acreditar? Por que às vezes eu não me acho merecedora de tudo isso?

_Eu tive que contê-lo para que não gritasse quando o médico nos informou do sucesso da cirurgia. Ele estava ansioso e com muito medo de não dar certo. Mas assim que recebeu a notícia, foi tomado por uma súbita alegria. Agora imagina tê-lo visto chorar? Em todos esses anos, eu confesso que foi uma surpresa para mim. Se você não quiser ficar sob os cuidados dele, tudo bem. A escolha é sua.

Ia abrir a boca, para falar, mas sou interrompida pela entrada do médico. Ele era alto, negro. Abro um sorriso discreto ao vê-lo em uma profissão tão renomada. Era muito difícil ver negros ocupando espaços como este e ver um profissional desse porte para mim é motivo de orgulho. E deveria ser normalizado ter mais oportunidades de negros ocuparem grandes espaços mas não.
E é tão difícil chegar aqui.
Por isso é uma honra vê-lo e ser atendida por ele.

_Olá senhorita dias. - Cumprimenta - Senhor Alencar.

Eles se cumprimentam com um aperto de mão e ele se vira para mim.

_Fico feliz que acordou. Eu vim para dar-lhe alta. Como deve saber a cirurgia foi um sucesso e não há necessidade de permanecer aqui.

_Obrigada, doutor.

_Eu também tenho algumas recomendações visto que precisará ficar de repouso por alguns dias.

_Quantos dias em específico?

_Pelo menos sete, senhor Alencar. É o necessário para que o corpo esteja preparado para a normalidade.

_Muito obrigada, doutor. Não sabe como estou feliz por estar curada.

_É apenas o meu trabalho. - Ele se vira - E agora, eu preciso liberar a entrada de um homem bastante apreensivo.

Eu sabia quem era, mas ainda assim o meu coração pulsava desesperado. E quando ele entra por aquela porta, com um sorriso estampado no rosto, eu pude sentir a sensação de felicidade plena. Ele se aproxima, me abrançando e beijando cada parte do meu rosto. A sua felicidade estava explícita no seu rosto e eu me senti mal de duvidar tantas vezes dos seus sentimentos.

O Ricardo estava certo, não há dúvidas de que ele realmente me ama e quer estar comigo. E eu devo parar de retroceder, de me diminuir. Tantas vezes ele me pediu isso também e eu insisto em não acreditar que mereço o melhor. É difícil me libertar do passado e não pensar que tudo pode ser mentira, que ele está brincando comigo mas é necessário repensar e mudar a rota. Não somente por mim, mas também por ele e por nosso relacionamento. Eu o amo, mas não posso ter atitudes contrárias a minha fala. Quem ama, confia. E ele tem se mostrado um homem íntegro e honesto.
Ele segura o meu rosto e senta-se na cama.
Ele me encara com alguns resquícios de lágrimas e seus olhos estavam além de pretos.

_Eu te amo tanto... - Diz emocionado - Por favor, não faça mais isso comigo.

Fecho os olhos e apoio a minha testa sob a dele.

_Eu estou curada, amor...

_É de longe a melhor notícia que já recebi.

_O doutor Barella deixou algumas recomendações. Sem contar que ela precisará ficar de repouso por uma semana.

_Eu só não sei se você vai me aguentar por tantos dias... - Disse sorrindo e olho para o Cristopher - Vamos para casa?

Ele arqueia a sobrancelha, estranhando. Talvez não tivesse entendido ou estivesse ainda pensando se era verdade as palavras que saíram da minha boca.
Ele ainda pisca algumas vezes e abre um sorriso assim que entende o que eu disse.

_Eu vou até à recepção. - Diz se levantando ainda confuso - Ricardo, ajuda ela a guardar tudo.

Ricardo guarda as minhas roupas, e eu me troco rapidamente. Cristopher me esperava com a alta e uma cadeira de rodas. Descemos pelo elevador e entramos no estacionamento.

_Eu prometo ir te visitar sempre que eu puder.

_Eu vou mesmo esperar.

_Prometo te liberar quando der.

_Eu iria todos os dias, mas não sou o chefe. Então não posso sair quando quero.

_O escritório não pode parar.

_Eu te desejo muita paciência para suportar ele por tanto tempo.

_Eu não sei como ela consegue é te aguentar.

_Por favor, não briguem. E eu vou esperá-lo Ricardo. Muito obrigada por tudo.

_É isso que amigos fazem. Cuidam um do outro. - Ele me abraça

_Cuida de tudo no escritório por mim. - Cristopher diz - Obrigado.

Eles deram um aperto de mão e em seguida um abraço. A cena era emocionante, devido a naturalidade com que se expressavam. Não pareciam estar quase "brigando" como há alguns segundos atrás.
Eles encerraram o abraço e o Ricardo acena, entrando no seu carro. Ele tirou-me da cadeira de rodas e colocou-me no seu carro, dando partida em seguida.
Eu estava me sentindo melhor, apenas a minha cabeça que doía mas é irrelevante, devido a felicidade por eu finalmente estar curada. Ele estaciona e me ajuda a subir com cuidado. Novamente estávamos em sua casa, eu sob os seus cuidados, mas dessa vez era de vontade mútua.

_Bem vinda a nossa casa!

Ele abre a porta e meus olhos se encheram ao ver a pequena recepção que ele preparou para a minha chegada.
Tinha balões brancos e pretos, um letreiro escrito
"Bem vinda, minha gurreira! "
Não contive a emoção e o abraço, derramando algumas lágrimas.
Ele é incrível e eu não o perderia por nada, principalmente por causa das minhas inseguranças.









O outro lado do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora