Estática. Palavra definida por falta de movimentos. Sem progresso, paralisado. Era assim que eu me encontrava quando Meredith fechou os olhos e despencara nos braços da minha mãe.Minha mãe. Olhou para mim e para Leonard, e quase - quase - sorriu.
- Quem de vocês vai me ajudar a carregar essa vaca? - Perguntou.
Eu não conseguia piscar. Leonard parecia da mesma forma que eu, mas ainda conseguira responder.
- Eu ajudo - murmurou.
Ele segurou pelos pés da mulher e minha mãe pela cabeça. O corpo estava quente, parecia pesado mas muito frágil para alguém que fora tão ruim. Tinha a sensação de que ela havia ido ali já sabendo que aquela história terminaria daquela forma.
Meu namorado e minha mãe jogaram o seu corpo na água. Simples assim. Nicole pôs a cabeça para cima e soltou um suspiro longo.
- Seria errado dizer que eu não sinto nenhum remorso ou culpa? - Disse ela.
Se era errado ou não, eu não sabia. Mas eu entendia o que ela queria dizer. Quando eu matara aquele homem, na França, também não sentira nada. Mas era assim que funcionava, então? Eu nunca tiraria a vida de uma criança, mas tirei a daquele homem. O que muda? Uma vale mais do que a outra? Naquele momento eu não pretendia pensar naquilo. O corpo da minha tia havia acabado de ser jogado no mar, pelos braços da minha mãe e do meu namorado. No dia da minha formatura. Minha formatura.
Olhei para trás tentando enxergar se havia alguém por ali. O píer era uns quinze minutos de distância de onde a festa estava acontecendo; o melhor era torcer que ninguém tivesse assistido aquilo. Eu odiaria ser presa aos dezoito anos de idade.
- Como você sabia que Meredith havia matado o papai? - Consegui perguntar, com a voz embargada.
Minha mãe se virou, lembrando de que eu ainda estava ali.
- Já tinha minhas suspeitas - ela parecia triste, mas não pela minha tia morta. - Confirmei-as quando tive uma conversa com a mãe do Leonard, Megan.
Leonard se virou, parecendo tão surpreso quanto eu.
- Com a minha mãe? - Questionou ele.
- Ela me contou que o seu pai fez uma espécie de acordo com a Meredith - respondeu ela. - Ela que procurou ele, e, não me leve à mal Leonard, mas você acha mesmo que o babaca do seu pai iria recusar? - Indagou. - João Miguel consegue ser mais influenciável do que minha filha de sete anos.
Leonard pensou.
- Isso explica por que você não fez nada - disse ele. - Você jurou vingança ao meu pai no dia que o Christian morreu, mas não fez nada.
- Isso só pioraria as coisas para vocês dois. Seu pai vai ter o que merece, mas não vai ser de mim. - Disse minha mãe.
Aquela conversa estava me deixando mais zonza do que eu já estava. Precisava sair dali. Precisava ir para casa. Leonard veio em minha direção e tocou minha mão.
- Liz, vamos sair daqui - disse calmamente. - Você quer ir para minha casa?
Neguei.
- Acho que preciso ficar sozinha.
Ele assentiu e me deu um beijo na testa.
- Vamos, filha. Vamos chamar suas irmãs - disse minha mãe.
Ela me puxou pelos ombros e me pôs dentro do carro.
- Já volto - disse.
Será que ela estava com medo que eu fugisse? Eu mal conseguia me mover. Estava em choque. A mente à mil. Minha mãe voltou depois com as minhas duas irmãs. Anica já sabia, dava para ver pela expressão dela; parecia ter chorado. Líris estava sonolenta.
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Morgan's - No Olho De Liz
Ficção AdolescenteVocê tem dezessete anos. É rica, tem uma família perfeita composta por uma irmã mais nova e outra mais velha, seu pai e sua mãe. Adora surfar e é líder de torcida. Você é Lizandra Morgan, uma das garotas mais cobiçadas da pequena cidade de Charlesto...