(Vinte minutos depois)
O rosto dela parece um desenho animado em movimento não sintonizado. Seu cabelo ondulado está por trás da orelha, mas mechas pequenas caem em suas bochechas. Ela tem feições pequenas e delicadas, como uma boneca de porcelana. Está encolhida sobre o banco, com as pernas dobradas, o vestido preto cai pela metade de suas coxas, o que a faz parecer mais alta. Benjamin sabe que não é um jeito muito sexy de se sentar, mas a empatia que ele sente por ela nesse momento é tanta que qualquer movimento que ela fizer ele vai achar meticulosamente sensual. Seus lábios vermelhos estão um pouco ressecados e seus olhos fechados estão pintados com sombra lilás brilhante. O motorista lança breves olhares de relance para eles pelo retrovisor, o que deixa Benjamin incomodado. A forma como ele fica olhando não parece nada, mas como Benjamin é homem, entende muito bem o que deve estar se passando na cabeça dele. Uma jovem bêbada está sentada no banco passageiro de seu carro de uma forma nada recatada, o que mais esse motorista estaria pensando?
Benjamin se põe um pouco na frente do campo de visão dele a fim de lhe mandar uma mensagem subentendida, mas não sabe se o motorista está mesmo captando o sinal. Quando finalmente eles chegam em Esperança, Benjamin cuidadosamente abaixa as pernas dela e a chama. Celine, completamente desnorteada, nem abre os olhos. Ele diz que eles chegaram em sua casa e ela responde "hum". Ao localizá-la na boate, na Lake, ele a viu deitada com a cabeça por cima do balcão do bar. Sentiu algo muito estranho e familiar ao vê-la daquela forma, um sentimento bom de déjà-vu. Há quatro meses atrás, eles haviam se beijado em algum lugar dali e agora estavam novamente juntos. A vida é muito maluca mesmo, ele pensou, quando conseguiu fazê-la entrar no carro. No trajeto inicial, ela disse que queria bater nele e Benjamin riu alto de tanta surpresa e felicidade que estava sentindo. Ela parecia uma criança mimada falando coisas desconexas.
— Por que veio me buscar? — ela perguntou, enquanto tentava, sem sucesso, desamarrar o cadarço do seu coturno.
— Você não deveria me agradecer? — Benjamin respondeu.
Ela fez um bico fofo.
— Agradecer. Você me abandonou.
Benjamin sorria de orelha a orelha, feito um adolescente bobo.
— Se eu tivesse lhe abandonado, não estaria aqui.
Ela não respondeu, talvez por causa da embriaguez ou porque não tinha mais nada a dizer. Em todo o caso, eles ficaram em silêncio por um tempo até que ela disse:
— Você está apaixonado pela Poliana?
Benjamin olhou para seu rosto semi-iluminado pelos postes que corriam.
— Não.
Mesmo bêbada, ela parecia disposta a discutir sobre os sentimentos dele.
— Você quer namorar com ela?
— Não.
— Mas está com ela, o que significa que quer sim — disse ela.
— Bem, se eu quisesse, o que você teria a ver com isso?
Ela fez uma expressão de desdém.
— Se você estivesse namorando com ela, teria vindo me buscar?
Ele hesitou, mas não por medo de falar e sim por medo da reação dela.
— Não. — respondeu ele. — Ou talvez sim, não sei.
— Você gosta dela — ela afirmou.
Ela pousou a cabeça sobre a janela e fechou os olhos. Benjamin a espiou por alguns segundos, mas ela não falou mais nada. Por dentro, se sentiu grato e ao mesmo tempo culpado pelas respostas que deu.
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Amor normal
RomanceCeline é uma estudante de Letras que está aflita por não saber mais o que sente pelo seu namorado. Benjamim é um estudante de Psicologia que não quer saber de namorar. Ambos se conhecem por acaso em uma boate, e acabam se envolvendo de uma forma ine...