capítulo único.

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- You can hold my hand if no one's home... - Dazai cantarolava baixinho a música que ouvia em seus fones de ouvido, lembrando vagamente de seus momentos com ele, a memória de tudo que aconteceu não era mais tão vivida como gostaria que fosse, queria dizer que lembrava de tudo o que vivenciaram, mas a cada dia que se passava sentia os detalhes de suas memórias esvairem mais e mais.

Aquele que ele mais amou, aquele que Dazai finalmente se permitira amar, aquele que fazia seu coração pular algumas batida sempre que sorria, aquele que podia admirar por dias a fio sem se cansar, aquele que podia abraçar por um dia inteiro, aquele por qual daria tudo o que tinha e até mais, aquele ao qual abandonou, aquele ao qual mais se arrepende de ter deixado para trás, aquele ao qual imploraria por perdão até seu último suspiro se fosse preciso.

A verdade é que Nakahara Chuuya sempre gostou do moreno mais alto que insistia em o irritar e fazer piadas irritantes sobre sua altura ou qualquer característica sua, e deixava isso claro, deixava tão claro o quanto amava o idiota coberto por bandagens Dazai Osamu.

E Dazai sabia disso, mas Dazai nunca demonstrou o que sentia, tinha medo? Medo de mostrar como se sentia e ser usado? Medo de se machucar? Medo... Medo do quê? Do que Dazai tinha medo? Essa era uma pergunta sem respostas até mesmo para o dono da mente confusa.
Por que não disse que amava o ruivo quando pôde? Por que não se deixou levar e apenas demonstrou como se sentia em relação a ele? Não sabia o porquê, só sabia que era um idiota, um babaca sem noção que só machucava os outros, qualquer um, não importa o quão importante seja, Osamu sempre iria machucá-los, talvez seja algo de sua natureza, sua natureza repugnante.

A verdade é que Dazai nunca fora bom em demonstrar como se sentia, desculpa esfarrapada, pensou.

Talvez, tivesse medo.

Medo do quê? Não era óbvio que Chuuya o amava?

A resposta é sim. Era óbvio. Era óbvio quando Chuuya lhe dava aquele sorriso bobo e apaixonado, era óbvio quando Chuuya o abraçava, era óbvio quando Chuuya dizia que o amava, era óbvio.

Talvez não se achasse suficiente.

Isso não era um problema para ele, mesmo depois de tudo, mesmo depois de me entender e conhecer, ele continuava lá.

A verdade, então, era que Dazai, Dazai Osamu, o babaca por natureza, o idiota problemático que não fazia ideia de como lidar com os próprios sentimentos se envolvera demais com alguém perfeito, Nakahara Chuuya era um anjo, ele entendia, ele entendia tudo, ele entendia Dazai, ele entendia seus próprios sentimentos, ele entendia tudo, menos, é claro, como Dazai obviamente o amava.

A culpa não era do ruivo, ela nunca seria, a culpa era de Dazai, por nunca demonstrar como o amava, por mascarar seus sentimentos, por fingir que não entendia ou via a forma como Nakahara o amava, por fingir que aquilo tudo nunca existiu e que eles eram apenas melhores amigos porque era medroso demais para amar.

Medroso. Babaca. Inútil. Substituível. Idiota. Era isso o quê era e o que seria para sempre.

Lembrou de quando saíram logo após a escola, juntos, se divertiram num parque, correram por aí, e se amaram, se amaram.
Porque era isso o que faziam quando estavam juntos, se amavam, mas Dazai não queria aceitar que se amavam, não entendia o porquê disso, afinal, se o amava, por que não podia, não, por que não conseguia demonstrar tudo o que sentia por Chuuya?

Quantas vezes fingiu que não via como o ruivo o amava? A preço de quê? Liberdade? Já era livre o suficiente, já era suficiente ter o ruivo ao seu lado, mesmo que se odiasse, mesmo que sua cabeça fosse uma confusão de pensamentos e especulações, mesmo que tudo ao seu redor se tornasse turvo, mesmo que tudo e todos ao seu redor não fossem nada além de um acumulado de átomos, Chuuya estava lá, tinha Chuuya, Chuuya estava ao seu lado, então, porquê?

Por que não demonstrou o que sentia quando teve tempo? Por que decidiu o deixar para trás?

"Preciso de um tempo"

"Não somos mais tão íntimos e sinto que me afastei de você"

"Me desculpe"

"Sou tolo porque encontrei minha alma gêmea e estou a abandonando."

"Até logo."

Até logo? Pretendia voltar depois de ter machucado Nakahara? Pretendia, é claro, precisava de Chuuya, mas Chuuya precisaria de si depois de tê-lo machucado tanto? Ele precisaria de Dazai quando este finalmente se sentisse pronto para encará-lo?

A resposta é não. Não precisaria, e Dazai entendeu, entendeu muito bem, fez coisas demais para ser perdoado, não importa quantas vezes pedisse perdão, mesmo que Chuuya dissesse que o perdoava, Dazai nunca se sentiria digno de seu perdão. Nem Dazai se perdoava, por que diabos Chuuya o perdoaria? É claro, porque o amou. Nakahara amara Dazai e nada apagaria isso.

Por que Chuuya amava alguém assim? Um idiota, por que Chuuya o amava quando existiam milhares e milhares de outras pessoas muito melhores do que ele por aí?

- I need you here to stay - Se levantou, sentindo a brisa leve bater contra seu rosto e mexer um pouco seus cabelos. - I broke all my bones that day I found you crying at the lake. - Sentiu uma pequena lágrima solitária escorrer por seu rosto, era tão idiota. - Was it something I said to make you feel like you're a burden? - Acompanhou o ritmo da música dando leves batucadas em seu próprio peito.

- Oh, and if I could take it all back. - Abriu os olhos e imaginou Chuuya mais uma vez, aqueles olhos azuis e bonitos que o davam a sensação de se perder em um vasto oceano sempre que os encarava, sentiu os braços magros apertando sua cintura num abraço apertado e desengonçado quando finalmente voltaram a se ver, quando as férias haviam acabado.

Pegou seu celular e pulou a música, não que uma melhor tivesse começado, é claro que milagrosamente uma música que o deixaria feliz e animado não apareceria, aquelq era sua playlist especial, a playlist que o fazia se sentir vivo, e ao mesmo tempo, é claro, a playlist que consequentemente o lembrava de Chuuya.

Por um momento pensou que se pulasse aquela música seu azar voltaria contra si e a música que Chuuya havia dedicado para si uma vez começaria a tocar, Infinity - Jaymes Young.

Mas parece que hoje estava com um pouco mais de sorte que o comum, a música que começou a tocar, na verdade, era Mr Loverman - Ricky Montgomery, não era melhor, mas também não era pior.

As duas músicas o lembravam dele, mas, pelo menos, Chuuya não havia o dedicado a que estava tocando e ele não tinha um motivo a mais para chorar.

- ...and I miss my lover. - Sorriu ironicamente enquanto cantarolava o trecho da música, a culpa era sua de que sentisse falta dele, afinal.

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I still want to hold your hand. - SoukokuOnde histórias criam vida. Descubra agora