Weffryt

Prólogo

A roda do carro desliza sobre as pequenas pedras na estrada, diversas são arremessadas para longe e se espalham pelo caminho de terra que corta a floresta. O carro, uma SUV azul, está com o porta malas lotado de coisas para uma tarde de piquenique na belíssima cachoeira que fica em direção a próxima cidade, o caminho mais rápido até lá é por um atalho mal feito que se estende desde a saída da cidade ao lado do cemitério e segue até a via expressa distante que liga duas outras cidades. A família dentro do carro parece completamente perdida em um mundo distante, exceto pelo jovem com a cabeça recostada no vidro gelado, havia amanhecido com uma densa neblina que já começava a desaparecer com o sol da manhã, pequenas gotas escorrem pelo vidro do carro e nas folhas das árvores lá fora. John Krane, um rapaz jovem com os seus 14 anos e com uma aparência cansada de tantas noites mal dormidas, ele sempre ficava acordado até mais tarde preocupado se o pai voltaria ou não para casa. Roberto Kane, policial e um ótimo pai, assim como um marido exemplar, ele sempre falava para o filho não se preocupar e prometia que nada o impediria de estar em casa todas as noites, também trazia uma rosa para a esposa todos os dias, ela plantava cada uma no caminho de pedras da entrada da casa. Graziella Deffiery Krane, o que falar dela senão que era uma mãe, esposa e professora adorável, com tantos talentos e que faria qualquer um ficar admirado como alguém pode arranjar tempo para tanta coisa, ela sempre estava sorrindo, não importando o quão "nublado" o dia parecesse, também algo que nunca fez foi favorecer o filho nas aulas de português na escola, o que realmente nunca foi preciso e se fosse ela o faria estudar até conseguir tirar notas boas.

John estava observando a paisagem passando pela janela do carro, as árvores deixando sua vista em um piscar de olhos, pensando que deveria ter chamado seu amigo e a avó, embora ele não fosse muito o tipo de pessoa que sai as 7 horas da manhã para andar no

Meio do mato, mas quem sabe ele não teria gostado ao menos dessa vez? Roberto parecia preocupado naquela manhã, teve uma longa conversa com a esposa e por incrível que pareça, ficou irritado com o som do rádio logo cedo, ele nunca se importou de acordar todas as manhãs no mesmo horário pois logo voltava a dormir, mas não hoje. O filho ouviu toda a conversa e isso o deixaria o dia todo mais pensativo ainda por não entender direito sobre o que eles estavam falando e porquê do pai estar saindo em pleno dia da semana, levando a mãe e o filho que deveriam estar na escola.

Nesse ponto entram as razões que levam alguém a tentar proteger sua família a todo custo, principalmente em uma cidade corrompida pelas trevas, você sempre vai sentir medo de ser uma boa pessoa e manter seus princípios. Com um policial não é diferente, há sempre alguém tentando comprar a sua lealdade e o silêncio, basta ter o pagamento certo que a polícia faz vista grossa para qualquer crime, o que a cidade já estava cheia demais. Roberto era um dos poucos que não se deixava levar por nenhum tipo de suborno ou ameaça, sabia que a cidade precisava de conserto, mas entendia que isso era algo pouco seguro para ele ou a família, tanto tempo se mantendo honesto e logo as contas começavam a vir diretamente em sua porta. Mas é como dizem, se você encarar a escuridão, ela vai encarar de volta e o retorno é muito pior.

Roberto observa o filho pelo espelho retrovisor, olha para a esposa que parece perdida em outra realidade e tenta puxar conversa com ambos, e embora sua voz transpareça preocupação, ele força para que não demonstre isso.

- Ah ok, peguei um dia de folga para aproveitar com vocês e é assim que me retribuem? Vamos chegar lá e os dois vão entrar na água gelada pra acordar!

- Com certeza você entra junto na parte mais gelada. – Graziella sorri e o marido perde a atenção por um instante.

- Já falei que você tem um sorriso muito lindo? – Roberto sorri para ela – Não concorda John? A sua mãe tem o sorriso mais lindo que eu já vi.