CAPÍTULO - 2

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- O shopping está começando a desmoronar, temos sorte que ele começou pela parte de cima ou talvez tudo isso estaria no chão agora e você certamente não conseguiria nem se quer achar nossos corpos embaixo dos destroços - mamãe fala olhando para mim com um olhar atencioso.

- É, tivemos sorte - pensei, enquanto me lembrava que talvez eu pudesse não ter chegado à tempo e encontraria de fato o corpo dela sem vida, não em meio aos destroços, mas sim nos braços de victória.

A nossa volta, do lado de uma loja de eletrônicos, havia um conjunto de janelas que iluminavam o local onde estávamos, foi através delas que pudermos ver a chuva começar a cair.
Um tempo depois nós três optamos por descer até o térrio para poder conferir se havia algo de anormal no subsolo, e nos pilares que davam sustentação ao shopping.

Novamente precisei usar as escadas manuais, elas continuavam à ranger e à tremer, mas não me preocupei tanto como da primeira vez.
Emquanto descíamos, Victória começou a contar como havia acontecido o desmoronamento.

- Depois de você ter ido caçar, mamãe pediu que eu fosse atrás de madeira, para assim que você chegasse, ela pudesse preparar o jantar, me dirigi até as escadas-rolantes e comecei a descê-las, olhei uma última vez para trás e vi que ela estava dobrando algumas roupas sobre a nossa mesa de jantar.
Depois de ter pego as madeiras, senti um pequeno tremor sobre meus pés, inicialmente não me preocupei, então juntei o feixe com os galhos nos meus braços e me preparei para voltar.
Foi aí que o impacto veio, o barulho era dez vezes maior que o tremor que eu havia sentido antes, o impacto veio de algum lugar no subsolo, logo após isso, meus ouvidos captaram sons diferentes; algo sendo quebrado, ferros rangendo, barulhos de rachaduras, acho que pude ouvir até água embaixo dos meus pés.

Depois disso não pensei duas vezes, segurei com mais força o feixe de madeira contra meu peito e começei a correr para dentro do shopping cruzando as lojas em direção às escadas-rolantes.

- Assim que cheguei na metade da escada rolante que leva do segundo andar para o terceiro andar, ouvi novamente um barulho de algo se rachando, continuei a subir, assim que cheguei no topo, soltei o feixo no chão, e vi um dos pilares de sustentação do teto com uma enorme rachadura, os ferros dentro dele estavam para fora do concreto, segundos depois o teto desabou na minha frente, depois disso eu já conseguia ouvir mamãe gritando por socorro, enquanto tossia fortemente .

- Meu olfato ardia em reação ao contato com a fumaça .

- Olhei desesperada ao meu redor e vi que em meio aos destroços do teto caído havia uma passagem, então rapidamente corri por ela e cheguei até a mamãe, quando a encontrei, ela já estava caida no chão desmaiada.

- O fogo ardia queimando o que havia restado do teto caido, as paredes e algumas lojas .

- Reúni minhas forças e em meio às cortinas de fumaça, puxei o corpo dela até o elevador, não demorou muito para que outra parte do teto viesse abaixo bloqueando a passagem por onde eu havia passado . Vinte segundos depois você havia chegado, você me perguntou se ela estava respirando, verifiquei e vi que não, depois de você ter partido para contornar e pegar o outro caminho, achei melhor tirar a mamãe dali e levei até a livraria.

Victoria concluiu com uma tossida, então interpretei que ela também havia engolido um pouco da fumaça do incêndio .

Do primeiro até o último degrau da escada, nossa mãe se manteve calada, não posso afirmar que ela prestou atenção em nós ao longo da descida até o térreo, mas particularmente acredito que ela não se interessou pela nossa conversa, pois sua mente estava ocupada com lembranças relacionadas ao papai: o dia em que ele trouxe um porco selvagem e por mais uma semana não passamos fome? o dia em que ele anunciou que havia encontrado outros humanos no destrito C e que estavam dispostos a nos ajudar ? Ou talvez ela estivesse pensando no dia da queda do satélite que por coincidência foi o dia que ela viu nosso pai pela última vez e nem sequer conseguiu se despedir.

Bem, restam dois anos para que nossa mãe morra devido ao vírus que está empreguinado em sua medula óssea, mas tenho certeza que até o último dia de sua vida, até o último suspiro de seus pulmões, Helena vai continuar à se lembrar do seu grande amor, nosso pai .

Meu pai me ensinou muitas coisas antes de ser capturado, mas confesso que salvar alguém à beira da morte foi algo que eu só sabia a parte teórica. Ele me mostrou como fazer um bom arco e flechas, como identificar pegadas de animais, como preparar uma boa armadilha para humanos ou quais plantas eram boas para alimentação ou para cura de ferimentos, uma vez que os remédios presente nas farmácias e hospitais da cidade já passaram no prazo de validade .

Cerca de dois minutos depois nossa mãe para de tossir e se levanta, pega uma mecha do seu cabelo marrom-escuro e prende atrás de sua orelha direita, ela se manteve quieta e no mais puro silêncio.

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