Capítulo 19

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Dylan Griffin

Abro a porta de casa e fico parado ao ver Lucy sentada no sofá e encolhida enquanto assiste um programa de culinária. Ela está com uma blusa minha e seus cabelos estão molhados, a observo passando o dedão com força no pulso e percebo que é na cicatriz.

-Oi.- fecho a porta atrás de mim.

-Oi.- ela fala rouca e me observa.- Desculpa por hoje mais cedo, tem tanta coisa acontecendo.

-O que está acontecendo?- jogo meu casaco na poltrona e sento na frente dela.

-Você não vai querer saber.- ela ri.- Não vai querer participar disso.

-Lucinda.- seguro seu queixo e faço ela me encarar.- Acho que estou participando há muito tempo.- meu dedão acaricia os lábios dela.

-Eu não sou filha da minha mãe.- sussurra.- Não sou irmã de verdade de Tessa e Gwen.

-Ah.- pisco.- Você foi criada com elas, te consideram como irmã. Uma mãe diferente não muda isso.

-Muda.- Lucy afasta os cabelos do rosto.- E assim que elas souberem, tudo vai mudar. Gwen não vai deixar que eu veja Naomi, eu não vou conhecer o bebê de Tessa...

-Tessa está grávida?- fico surpreso.

-É.- ela sorri com raiva.- Todo mundo parece seguir com a própria vida, mesmo com a merda toda acontecendo.

-Que merda?- pergunto.

-Meu pai tinha um irmão, esse irmão quer um dinheiro que ele escondeu.- ela fala baixo.- E esse irmão....ele é maluco, Dylan. Ele quase matou Peter, fez Gwen quase perder o bebê, sequestrou Mattias...

-Espera.- rio.- Isso seria o bastante para você chamar a polícia.

-Sem polícia.- balança a cabeça.- Estamos envolvidos nisso tanto quanto eles.

-Como assim?- franzo as sobrancelhas.

-Temos um negócio paralelo.- Lucy me observa.- Vendemos também para gente criminosa. Aumentou muito a renda...

-Tessa concordou com isso?- me levanto.

-Ela que começou.- Lucy senta melhor.- Você não pode contar isso para ninguém, Dylan.

-Todos vocês vão parar na cadeia se alguém descobrir.- começo a andar de um lado para o outro.- Lucy, você vai ser presa.

-Só se alguém descobrir.- levanta.- Você não vai contar para alguém, vai?

-Eu cresci num orfanato, odiando autoridades, claro que não.- passo a mão pelo rosto.- Mas você...

-Eu entendi, posso ser presa.- ela cruza os braços e me observa.- Vou poder ficar aqui ou não?

-Pode.- assinto e começo a ir até a cozinha.- Já comeu algo?

-Não, pedi.- ela volta a sentar.- Gosta de tailandesa?

-Sim.- abri a geladeira e pego uma garrafa de água.- Há quanto tempo?

-O que?- ela me observa enquanto me aproximo.

-Há quanto tempo isso acontece? Essas vendas ilegais?- sento ao seu lado.

-Há mais de um ano.- murmura.

-Ok.- dou um gole e olho para a TV.- Você está bem?

-Sim.- respira fundo.- Só estou cansada. Tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo.

-Não quer dormir?- viro o rosto e a observo.- Acordo você quando a comida chegar.

-Parece bom.- ela ajeita uma almofada e deita com as pernas no meu colo.- Me acorda mesmo. Estou desejando comida tailandesa.

-Ok.- sorrio passando a mão pela sua perna.

Lucy fecha os olhos e sua respiração fica totalmente calma, passo os dedos pela pele macia e fico pensando em tudo que ela me contou. Claro que não vou contar para a polícia ou coisa assim, odeio eles tanto quanto qualquer um.

Mas pensar que Lucy pode ser presa...me deixa com medo, literalmente com medo. Foco em estar tocando nela e tento ela aqui comigo, parece que isso me deixa mais calmo, então apenas fico nisso por enquanto.

☽︎

Dylan Griffin

Não abro meus olhos enquanto sinto a cama se mexer, ouço a respiração de Lucy e então ela entra embaixo do lençol. Tento não sorrir quando deita a cabeça no meu peito e passa a mão pelo meu abdômen enquanto se ajeita.

-Você vai falar para elas?- acaricio seus cabelos.

-Falar o que?- sua voz é baixa.

-Que não nasceu da mesma mãe.- meus dedos gostam da sensação dos cabelos dela.

-Elas não vão querer mais falar comigo.- explica.

-Por que acha isso?- franzo as sobrancelhas.- Pelo que conheço delas, nem iriam ligar...

-Minha mãe não falava comigo.- sussurra.- Ela nem olhava na minha cara. Nunca. Ela nunca olhou na minha cara a não ser para me diminuir, para me humilhar, para bater em mim.

-Bater?- abro os olhos.

-É...- ela ergue a cabeça e nos encaramos.- Vê essa cicatriz?- afasta os cabelos e vejo uma cicatriz leve em sua testa perto do couro cabeludo.- Foi ela.

-Puta merda, Lucy.- passo o dedão por ela.- Diga que foi só uma vez.

-Não.- sorri fraco.- Um dia, eu estava triste por causa do aniversário do papai.- começa.- Então ela entrou no meu quarto e começou a falar coisas horríveis. Não consegui esquecer, quando muitas coisas acontecem eu não consigo...

-Você fica confusa.- completo.- Fica com medo e não sabe o que fazer.

-É.- assente.- Então eu fiz o que ela me pediu para fazer.

-O que ela pediu?- minha cabeça não para de funcionar tentando entender Lucy.

-Para desaparecer.- seus dedos tocam meu peito enquanto ela está distraída.- Para deixar de ser um fardo.

-Você...

-Entrei no banheiro, peguei uma das lâminas da gilete e cortei meus pulsos.- ela limpa uma lágrima e tenta sorrir.- Foi Gwen que me achou. Ela estava suja de sangue, com meu sangue, quando acordei no hospital.- Lucy olha para mim.- Ela e Tessa estavam ali, mas minha mãe não.

-Ela morreu.- falo sério.- Sua mãe morreu e não precisa mais pensar no que ela falou para você. Não precisa...- seguro o pulso dela e passo o dedo pela cicatriz.- Pensa em fazer isso de novo?

-As vezes. Quando as coisas estão bem fodidas.- ela morde o lábio.- Mas não posso.

-E não vai.- beijo o pulso dela.- Você é necessária, Lucy. Para suas irmãs, para mim.

-Para você?- ela sorri.

-É.- assinto.- Preciso de você, Lucinda.

-Obrigada.- ela deita a cabeça no meu peito e me aperta.- Desculpa por estar colocando você nisso. Não deveria saber nem da metade que sabe agora...

-Mas agora eu sei.- acaricio os cabelos dela.- Estou com você. Para tudo que precisar.

-Não precisa, Dylan.- ela respira fundo.- Se quiser se afastar...

-Eu quero ficar.- encaro o teto.- Nunca quis ficar antes, a sensação é boa.

-Quer ficar comigo?- parece surpresa.

-É.- assinto mesmo ela não vendo.- Quero.

Lucy Gallagher - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora