Dylan Griffin
Abro a porta de casa e fico parado ao ver Lucy sentada no sofá e encolhida enquanto assiste um programa de culinária. Ela está com uma blusa minha e seus cabelos estão molhados, a observo passando o dedão com força no pulso e percebo que é na cicatriz.
-Oi.- fecho a porta atrás de mim.
-Oi.- ela fala rouca e me observa.- Desculpa por hoje mais cedo, tem tanta coisa acontecendo.
-O que está acontecendo?- jogo meu casaco na poltrona e sento na frente dela.
-Você não vai querer saber.- ela ri.- Não vai querer participar disso.
-Lucinda.- seguro seu queixo e faço ela me encarar.- Acho que estou participando há muito tempo.- meu dedão acaricia os lábios dela.
-Eu não sou filha da minha mãe.- sussurra.- Não sou irmã de verdade de Tessa e Gwen.
-Ah.- pisco.- Você foi criada com elas, te consideram como irmã. Uma mãe diferente não muda isso.
-Muda.- Lucy afasta os cabelos do rosto.- E assim que elas souberem, tudo vai mudar. Gwen não vai deixar que eu veja Naomi, eu não vou conhecer o bebê de Tessa...
-Tessa está grávida?- fico surpreso.
-É.- ela sorri com raiva.- Todo mundo parece seguir com a própria vida, mesmo com a merda toda acontecendo.
-Que merda?- pergunto.
-Meu pai tinha um irmão, esse irmão quer um dinheiro que ele escondeu.- ela fala baixo.- E esse irmão....ele é maluco, Dylan. Ele quase matou Peter, fez Gwen quase perder o bebê, sequestrou Mattias...
-Espera.- rio.- Isso seria o bastante para você chamar a polícia.
-Sem polícia.- balança a cabeça.- Estamos envolvidos nisso tanto quanto eles.
-Como assim?- franzo as sobrancelhas.
-Temos um negócio paralelo.- Lucy me observa.- Vendemos também para gente criminosa. Aumentou muito a renda...
-Tessa concordou com isso?- me levanto.
-Ela que começou.- Lucy senta melhor.- Você não pode contar isso para ninguém, Dylan.
-Todos vocês vão parar na cadeia se alguém descobrir.- começo a andar de um lado para o outro.- Lucy, você vai ser presa.
-Só se alguém descobrir.- levanta.- Você não vai contar para alguém, vai?
-Eu cresci num orfanato, odiando autoridades, claro que não.- passo a mão pelo rosto.- Mas você...
-Eu entendi, posso ser presa.- ela cruza os braços e me observa.- Vou poder ficar aqui ou não?
-Pode.- assinto e começo a ir até a cozinha.- Já comeu algo?
-Não, pedi.- ela volta a sentar.- Gosta de tailandesa?
-Sim.- abri a geladeira e pego uma garrafa de água.- Há quanto tempo?
-O que?- ela me observa enquanto me aproximo.
-Há quanto tempo isso acontece? Essas vendas ilegais?- sento ao seu lado.
-Há mais de um ano.- murmura.
-Ok.- dou um gole e olho para a TV.- Você está bem?
-Sim.- respira fundo.- Só estou cansada. Tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo.
-Não quer dormir?- viro o rosto e a observo.- Acordo você quando a comida chegar.
-Parece bom.- ela ajeita uma almofada e deita com as pernas no meu colo.- Me acorda mesmo. Estou desejando comida tailandesa.
-Ok.- sorrio passando a mão pela sua perna.
Lucy fecha os olhos e sua respiração fica totalmente calma, passo os dedos pela pele macia e fico pensando em tudo que ela me contou. Claro que não vou contar para a polícia ou coisa assim, odeio eles tanto quanto qualquer um.
Mas pensar que Lucy pode ser presa...me deixa com medo, literalmente com medo. Foco em estar tocando nela e tento ela aqui comigo, parece que isso me deixa mais calmo, então apenas fico nisso por enquanto.
☽︎
Dylan Griffin
Não abro meus olhos enquanto sinto a cama se mexer, ouço a respiração de Lucy e então ela entra embaixo do lençol. Tento não sorrir quando deita a cabeça no meu peito e passa a mão pelo meu abdômen enquanto se ajeita.
-Você vai falar para elas?- acaricio seus cabelos.
-Falar o que?- sua voz é baixa.
-Que não nasceu da mesma mãe.- meus dedos gostam da sensação dos cabelos dela.
-Elas não vão querer mais falar comigo.- explica.
-Por que acha isso?- franzo as sobrancelhas.- Pelo que conheço delas, nem iriam ligar...
-Minha mãe não falava comigo.- sussurra.- Ela nem olhava na minha cara. Nunca. Ela nunca olhou na minha cara a não ser para me diminuir, para me humilhar, para bater em mim.
-Bater?- abro os olhos.
-É...- ela ergue a cabeça e nos encaramos.- Vê essa cicatriz?- afasta os cabelos e vejo uma cicatriz leve em sua testa perto do couro cabeludo.- Foi ela.
-Puta merda, Lucy.- passo o dedão por ela.- Diga que foi só uma vez.
-Não.- sorri fraco.- Um dia, eu estava triste por causa do aniversário do papai.- começa.- Então ela entrou no meu quarto e começou a falar coisas horríveis. Não consegui esquecer, quando muitas coisas acontecem eu não consigo...
-Você fica confusa.- completo.- Fica com medo e não sabe o que fazer.
-É.- assente.- Então eu fiz o que ela me pediu para fazer.
-O que ela pediu?- minha cabeça não para de funcionar tentando entender Lucy.
-Para desaparecer.- seus dedos tocam meu peito enquanto ela está distraída.- Para deixar de ser um fardo.
-Você...
-Entrei no banheiro, peguei uma das lâminas da gilete e cortei meus pulsos.- ela limpa uma lágrima e tenta sorrir.- Foi Gwen que me achou. Ela estava suja de sangue, com meu sangue, quando acordei no hospital.- Lucy olha para mim.- Ela e Tessa estavam ali, mas minha mãe não.
-Ela morreu.- falo sério.- Sua mãe morreu e não precisa mais pensar no que ela falou para você. Não precisa...- seguro o pulso dela e passo o dedo pela cicatriz.- Pensa em fazer isso de novo?
-As vezes. Quando as coisas estão bem fodidas.- ela morde o lábio.- Mas não posso.
-E não vai.- beijo o pulso dela.- Você é necessária, Lucy. Para suas irmãs, para mim.
-Para você?- ela sorri.
-É.- assinto.- Preciso de você, Lucinda.
-Obrigada.- ela deita a cabeça no meu peito e me aperta.- Desculpa por estar colocando você nisso. Não deveria saber nem da metade que sabe agora...
-Mas agora eu sei.- acaricio os cabelos dela.- Estou com você. Para tudo que precisar.
-Não precisa, Dylan.- ela respira fundo.- Se quiser se afastar...
-Eu quero ficar.- encaro o teto.- Nunca quis ficar antes, a sensação é boa.
-Quer ficar comigo?- parece surpresa.
-É.- assinto mesmo ela não vendo.- Quero.
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Lucy Gallagher - Livro 3
RomanceLucy Gallagher tem vinte e um anos e é o primeiro ano dela na empresa imobiliária da família, ela tem que equilibrar sua vida pessoal com a vida no trabalho e ainda se preocupar com os negócios mais obscuros da família Gallagher. Seus relacionamento...