capítulo único

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Já era a quinta vez que o celular vibrava sobre o criado mudo, mas Eiji tinha sono pesado, por isso não percebeu que alguém ligava. A pessoa era insistente, tanto que assim que a ligação caiu ela ligou novamente para o celular que já estava na beirada do criado mudo. O celular acabou caindo no chão fazendo o barulho da queda assustar Eiji. Ainda sonolento, o rapaz levantou a cabeça. Seus olhos estavam fechados e suas sobrancelhas juntas. O celular, agora no chão, ainda vibrava. O jovem percebeu e logo tratou de procurar o aparelho. Passou as mãos pela cama, procurou no criado mudo, e finalmente o achou no chão quase embaixo da cama. A luz do celular fez os olhos do jovem Okumura doerem, ainda estava sonolento, por isso bocejou assim que atendeu o celular.

-Alô ? - disse baixo esfregando os olhos com a mão livre.

Eiji já estava sentado na cama, sentindo todo o peso do corpo o puxar para se deitar e voltar a dormir. Mas era tarde da noite, então poderia ser sério para alguém estar ligando aquela hora.

-Eiji… - a voz do outro lado da linha estava estranha, como se estivesse falha. Era baixa e quase irreconhecível, mas o rapaz identificou de quem era, e confirmou quando olhou para tela do celular vendo o nome da pessoa e a hora. Eram 03:00 h.

-Dabi ? O que aconteceu ? Por que me ligou a essa hora ? - perguntou se levantando da cama e abraçando o corpo ao sentir um friozinho o atingir.

-Você demorou pra atender - sua voz estava estranha, mas Eiji não sabia ao certo o que era.

-Eu estava dormindo. Onde você está ?

-Não sei - Dabi suspirou no outro lado da linha, e depois de ficar um pouco em silêncio ele disse : - Tem latas de lixo e uma placa em forma de cereja brilhante - a última fala fez Dabi rir. - Quem coloca uma placa em forma de cereja ? - falou em tom risonho.

-Você tá bêbado ? - Eiji abriu o guarda roupa procurando um casaco e uma calça.

-Talvez… é, eu tô bêbado. Talvez um pouco drogado - mais um suspiro.

-Droga, por que você fez isso ? - resmungou o rapaz vestindo o casaco apressado. - Você tá perto da Cherry, eu sei onde fica.

-Eu poderia ir até a casa do Endeavor e queimar o lugar - falou Dabi para si mesmo.

-O que ?! Dabi, me escuta. Você precisa ficar perto da Cherry, entendeu ? - Eiji ouviu Dabi resmungar, parecia uma criança birrenta. - Dabi, por favor, fica perto da Cherry. Eu já tô chegando.

-Tá, eu fico aqui.

Okumura desligou o celular e começou a vestir a calça apressado, os sapatos foram calçados de mal jeito, tanto que só depois que ele percebeu que eram de pares diferentes.

Cherry era uma boate no centro da cidade, praticamente todo mundo conhecia aquele lugar. Mas o que Dabi fazia bêbado perto da boate era um mistério. Eiji corria pelas ruas desertas tentando achar uma teoria do porque Dabi tinha feito aquilo. Bom, não foi a primeira vez. Ele sempre bebia demais e acabava ligando para ele, às vezes só para conversar, às vezes para falar coisas constrangedoras, às vezes apenas para ouvir a voz de Eiji. Mas quase nunca Dabi ligava quando estava sóbrio, isso fazia o garoto ficar confuso, e um tanto triste.

Dabi não era um amigo, tava mais para um conhecido. Ele fazia parte da liga de Shigaraki, uma liga de vilões. Dabi não era uma pessoa ruim, mas também não era boa. Eles se conheceram quando Dabi ainda não fazia parte da liga, quando ele era apenas um cara tentando sobreviver naquela região da cidade. Eiji Okumura arrumava bicos para ele, coisas pequenas como roubar lojas. Mas depois que Dabi entrou para liga, todo o contato que tinha com Eiji foi esquecido, já que ele se dedicaria completamente aos objetivos de Shigaraki. Porém tinha esses momentos, esses pequenos momentos, em que Dabi passava dos limites, em que ele ligava para o garoto Okumura. Esses momentos eram confusos, porque eles não eram nada.

Por que você só me liga quando tá chapado ? ( fanboy )Onde histórias criam vida. Descubra agora