Encontro Crucial

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olá boa leitura

Estava na hora do encontro. Ramon carregava um largo sorriso em seu rosto, ele sabia que seus planos estavam cada vez mais perto de se cumprirem, carregava uma maleta de prata em sua mão esquerda, guardava seu jaleco na bolsa preta, em sua outra mão. Sentou-se na mesa do restaurante, teria reservado um almoço com Maya, o que tornaria a conversa mais tranquila, com um bom prato da culinária regional.

Ele estava convicto. Seus funcionários o aguardavam no estacionamento, no carro, prontos para transportá-los ao laboratório. Passou seus dedos entre seus fios de cabelo castanhos, já grisalhos pela idade, e observou a paisagem na janela à sua esquerda. 

Maya chega alguns minutos depois, ao longe, ele acena para chamar a atenção da moça. A observa vindo, seu tom doce, meigo e gentil fizeram seu coração dar leves palpitadas, seu olhar era tímido, decente. Sentou-se na cadeira à sua frente, ajeitando seus fios alaranjados atrás da orelha.

— Eu agradeço pela gentileza do convite. — Maya sorri, envergonhada.

— Não precisa agradecer. — Ele retribui o sorriso. — Mas, vamos tratar de negócios agora.

Ele abre sua bolsa preta, pegando uma pasta branca, e pondo sobre a mesa, para que Maya a visse. Era uma espécie de prontuário, era o caso Jeffrey, do qual Ramon queria que a moça cuidasse. Maya segura os papéis e olha com cautela, mas assim que soube de quem se tratava, sentiu um frio na barriga.

— Por favor não me peça para cuidar deste homem. — Seus olhos esverdeados encararam Ramon com agonia.

— Mas Maya, não existe ninguém tão qualificado quanto você para este trabalho.

— Eu imagino, mas, esse cara, você sabe muito bem o que pode acontecer comigo… —  Ela estava com medo, sabia muito bem do que Jeffrey era capaz.

— Você será inteligente o suficiente para não cair nos truques dele, eu sei que será. — Falou, pegando a maleta cor prata, pondo sobre a mesa.

— E você será bem recompensada por isso. — Mostrou o dinheiro dentro da maleta.

— Eu não sei se mereço esse dinheiro. — Olhou para baixo, ela não sabia se deveria aceitar um trabalho tão difícil.

— Eu posso te pagar o dobro disso!, apenas, me ajude. — Segurou a mão da moça, que o olhou pensativa.

— Não é pelo dinheiro, senhor Ramon. Eu não sei se posso ajudar este homem. — Maya sempre foi uma mulher confiante, mas, a situação a fazia duvidar de si mesma, pensava em como conseguiria disciplinar este tipo de ser, que mal se consideraria humano.

— Como pode duvidar de si desta forma?. Você é a melhor desse lugar, senhorita Maya, não há outro profissional como você, eu sei que consegue. — Fechou a maleta, sorrindo.

— Tudo bem, eu irei tentar. 

Ramon sentiu-se vitorioso. Mais um passo para completar sua missão, poderia até respirar mais tranquilo. Terminou seu almoço com Maya tranquilamente, levando a mesma para o laboratório, mostrando o novo local de trabalho da moça.

Para Maya, aquele era o pior lugar em que esteve. Já trabalhou em diversos hospícios, mas aquele, era um lugar terrível. O cheiro do lugar, as vezes chegava a lhe causar ânsia, e os pacientes, lhe causavam horror, o que lhe deixava mais triste, era que cada um daqueles pacientes, eram um tipo de cobaia para estudos, e Maya não concordava com esse tipo de coisa, mas apenas tentou cumprir a missão que lhe foi dada.

O lugar que Jeffrey estava, parecia ser na vala mais profunda do lugar, a sala mais isolada, é mais medonha do que qualquer outra, a porta, possuía sete trancas de tipos diferentes, e as janelas não eram transparentes como as outras, eles realmente evitavam o contato do mesmo com as pessoas, para dificultar qualquer plano que ele armasse.

Ramon põe a mão no ombro de Maya, e espera as sete trancas serem abertas pelos funcionários, todos eles, utilizavam macacões brancos, com toucas e máscaras brancas, e eles não pareciam muito felizes com seu trabalho. Os dois adentram a sala, o ar do lugar era frio, as vezes não parecia que existia algum aquecedor no lugar. A sala era branca, totalmente branca, não possuía nenhuma outra porta, nem janela, apenas o vasto quadrado branco. O piso e as paredes pareciam ser macios, imaginou que talvez o homem, dormisse no chão, por não conter nenhum móvel no local.

E lá estava ele, de costas, brincando com seus blocos, parecia até mesmo uma pessoa comum, mas Maya sabia que aquele homem não era um ser calmo, muito mesmo normal. Aproximaram-se dele, lentamente, já que Maya ainda não estava muito preparada para o encontro.

— Essa é a Maya, Jeffrey. — Ramon anuncia, fazendo Jeffrey parar o que estava fazendo. — Ela será sua nova ajudante, seja educado com ela.

O homem vira, fazendo com que Maya dê um passo para trás, assustada. Ramon percebe, mas sabia que não seria fácil para ela, no começo, mas, se quisesse que as coisas dessem certo, teria que fazer isso.

— Vou deixar vocês dois se conhecerem, depois converso com a senhorita em minha sala. — Ramon fala, saindo da sala.

— Senhor, não me deixe...— Escuta a porta sendo fechada. — Sozinha.

Maya se encontra em uma situação delicada. Estava parada com o homem a observando, nada fazia, ela não sabia por onde começar.

— Bom…o seu nome é Jeffrey, não é?. — Fala, tentando contato.

Jeffrey a olha, ficando de pé, andando lentamente até a mesma, que treme um pouco, até ficar a alguns centímetros de seu rosto. — Jeff. — Sua voz rouca ecoa, causando-lhe calafrios.

Maya fica paralisada, e Jeffrey volta a montar seus blocos, no chão. — Você gosta de fazer isso?. — Pergunta, receosa. Jeff a olha, e faz sinal positivo com a cabeça. — Que tal, me mostrar o que pode fazer com isso?. — O homem faz sinal positivo com a cabeça novamente, montando algo novo.

Maya observa o jeito como Jeff fica concentrado montando um edifício, não era nada muito radical, até porque não tinham muitas peças para isso, e as peças não eram muito consistentes. Ele termina, e a olha, como se quisesse mostrar seu trabalho.

— Que legal, eu gostei. — Ela sorri, sendo respondida também com um sorriso do mesmo.

Mas, logo seu sorriso se desmancha, rápido até demais. Jeff levanta, indo em sua direção, Maya permaneceu imóvel, ela estava com muito medo, não queria que aquele homem a matasse. Ele fica novamente, alguns centímetros perto de seu rosto, era possível sentir o cheiro de remédio que saia de seu corpo mal cuidado, encarou o par de olhos azuis mortos, mas vibrantes, engolindo seco. Jeff nada fez, apenas, tocou a mão da mesma, que era macia, ele nunca teria sentido uma mão tão macia desse jeito, e quente, tão quente, em comparação com sua pele fria. Maya estava assustada, mas, queria entender o que o mesmo estava fazendo. 

Ramon abre a porta, fazendo com que Jeff a solte imediatamente, voltando a montar seus blocos de costas para os dois. Maya fica estática, não entendeu o que teria acontecido. O homem a leva, saindo daquela sala. — Até depois. — Disse ao rapaz, que olhou por cima dos ombros, enquanto a porta era fechada. Por alguns minutos, aquela cena permaneceu na cabeça da mesma.

Ramon a leva para sua sala, era um pouco mais calma do que as outras, passava um ar mais tranquilo, mesmo que ainda não houvesse uma janela para a rua, ou algo do tipo, sua sala possuía móveis, o que deixava o lugar mais calmo e normal. 

— Você começa amanhã, um carro irá buscar você em sua casa. 

— Mas, por onde começo?. Não sei o que fazer com ele… — Disse, cabisbaixa, ela queria ajudar, mas não sabia como.

— Ele já aprendeu a montar. Talvez possamos ensiná-lo a demonstrar suas emoções através de desenhos, o que acha disso?. — Perguntou, sorrindo.

— Acho uma boa ideia, para um começo.

— Ótimo, agora vá descansar, um longo dia te aguarda amanhã.

— É… eu imagino.

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