Prólogo

55 3 0
                                    

O ar era pesado, assim como a saca de café que eu levava para casa, tudo ao redor parecia não ter mais restauração; um caso perdido. Mamãe já estava em casa, havia chegado cedo devido a morte espontânea do comendador, já meu pai preparava todo o funeral junto com os outros trabalhadores da grande fazenda. O comendador era um homem bom, após o então falecimento de sua segunda esposa ele doou metade dos lucros obtidos em um mês de sua fazenda para a reconstrução de um hospital em Greenville; porém seu filho não era o espelho do próprio pai, ele era mal e sempre tratou a classe social baixa com muita ignorância. Eu não o conheço pessoalmente, mas há boatos correndo solto pelo vilarejo, ele fora acusado de assassinar uma de suas empregadas por se recusar a se deitar com ele, ainda responde a um processo porém vivemos num país corrupto onde os mais ricos são os vencedores.

- Mãe? - Falei entrando em casa. Não obtive nenhuma resposta. - Mãe?! - Chamei novamente, larguei a saca no canto da cozinha e corri para o quintal. - Mãe, você não me escutou chamar? - Ela estava entertida estendendo as roupas de cama no varal sobre o sol.

- Algum problema? - Ela finalmente notou minha presença.

- Fora o seu patrão ter falecido, está tudo certo! - A ajudei com os lençóis.

- Ainda não acredito, ele era um homem tão bom. - Ela se lamentava.

- Ainda assim nunca deixou os luxos de um fazendeiro rico. - Falei contrariando-a

- Ele herdou do pai Amanda, e fez por merecer! - Daí então minha mãe começou a chorar e soluçar pela morte do homem.

- Não entendo para que todo esse desespero, você era só uma de muitas empregadas que ele tinha. - Falei prendendo a roupa de cama sobre o varal.

- Durante muito tempo eu não era só uma empregada! - Foram suas palavras finais até ela desaparecer na escuridão de nossa casa.

Não entendi ao certo o que ela quis dizer com isso, mas certamente mamãe ficou magoada com minhas palavras a respeito de seu patrão. Mesmo com todo o carinho e respeito que meu pai tinha por minha mãe ela parecia não se importar e sentir o mesmo por ele, como se ele fosse apenas mais uma vírgula em seu livro romântico; papai finalmente chegou do enterro do comendador, tomou banho e nos reunimos para o jantar que mamãe preparou.

- Rafael nem deu as caras. - Papai quebrou o silêncio.

- Deve está muito abalado, afinal não é todo dia que perdemos nosso pai. - Mamãe defendeu o garoto ironicamente.

- Se ao menos ele se importasse com o falecido... - Falei, minha mãe pareceu não gostar.

- Vou me recolher, estou indisposta. - Ela falou e entrou no quarto que dividia com seu marido.

- Você acha que ela deveria está assim, pai? Quero dizer, com todo esse luto. - Perguntei assim que mamãe fechou a porta.

- Sua mãe é uma pessoa reservada, ela admirava bastante seu patrão agora que ele se foi ela se sente culpada por não compartilhar isso com ele. - Ele indagou calmamente.

- Isso não é motivo. Ela pode até ser reservada no trabalho, mas em casa? Qual foi a última vez que vocês se beijaram, há dois anos atrás? - Perguntei serrando os olhos em sua direção.

- Isso não vem ao caso, acontece que sua mãe tinha um carinho muito grande pelo falecido, se é que você me entende.

- Você quer... dizer que... - Não conseguia terminar a frase.

- Sim, isso mesmo que está pensando. Nós não nos casamos por amor, pelo menos não da parte dela, sua mãe era apaixonada pelo comendador chegaram até a noivar, até que ele se deitou com uma senhora rica e de valiosas terras, criando uma aliança entre as famílias. Sua mãe até chegou a engravidar, mas com todo o sofrimento a criança morreu durante parto. Nos conhecemos um tempo depois e logo nos casamos daí então ela engravidou de você. - Papai não parecia satisfeito em me falar isso. - A verdade é que ela nunca me amou. - Havia um tanto de tristeza ao falar sobre isso, até parecia que ele queria chorar, nunca vi papai chorando! - Eu também vou dormir, arrume a cozinha por favor. - Ele também foi até o quarto e eu fiz o que ele pediu.

Nunca pensei que minha mãe guardava isso como segredo, amar o próprio patrão, e se esse tal filho tivesse nascido talvez eu nem existiria e mamãe não seria tão infeliz como é agora.

After MidnigthOnde histórias criam vida. Descubra agora