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 Eu estava acostumado a vê-lo, todos os dias as 9h da manhã pedindo seu macchiato na cafeteria onde eu trabalhava, ele não sorria. Nunca. Por algum motivo mantinha o semblante fechado, até mesmo quando via com seus amigos - Apenas mais outros dois caras. Em uma de suas idas descobri que seu nome era Iwaizume Hajime, mas ele continuava sendo apenas um estranho que respondia qualquer tentativa de conversa diretamente, e de um jeito seco.

"Qual seu nome?" "Está no copo." - Ia doer responder?

"Você gosta mesmo desse café, né?" "Se eu venho aqui é porque gosto." - Ele tinha um bom ponto.

"Você sempre pede o mesmo, não quer inovar pedindo outra coisa?" "Se eu quisesse eu pedia." - Direto, como sempre foi.

 Tinham momentos que seu jeito chegavam a me irritar, nunca foi tão difícil concordar com o tão famoso "o cliente sempre tem razão", e mesmo com seu jeito me dando no nervos, mesmo tendo vontade de xingá-lo, eu queria me aproximar... Queria saber quem estava por trás daquela cara fechada, talvez no fundo ele fosse alguém divertido de se passar o tempo, não teria amigos se não fosse. E também, apesar de sua carranca, sempre o achei tão bonito... Talvez tivesse quedas por encrenqueiros. Então eu continuava a tentar, com um pequeno sorriso acolhedor e perguntas que eu sabia que ele responderia diretamente...

 Mas chegou o momento em que ele não voltou mais...

 E mesmo que seu macchiato estivesse pronto às 9h em ponto, apenas esperando para ser levado e degustado, ele não voltou. Foi assim por um mês inteiro,  até chegarmos a esquecer de sua existência, até o dia em que seu café não estava o esperando mais, quando todos os clientes eram os que sorriam e dialogavam, eu pude ouvir o sino avisando que o semblante sério havia voltado. Mostrando que ele - ainda - não havia morrido, ele se aproximou no balcão olhando para a lousa atrás de mim onde havia escrito praticamente todos os pedidos.

— Bom dia eu gostaria de... – Ele falou baixo, por algum motivo sua voz saia quase como um sussurro toda vez que ele falava. 

— Um macchiato com pouca espuma? – Perguntei com um pequeno sorriso que era direcionado a todos os cliente.

— Na verdade são dois! – Um de seus amigos apareceu ao seu lado,  ele falava mais alto que Iwaizume, e tinha um sorriso maior em seu rosto também. Ao mesmo tempo que ambos eram semelhantes, eram também o total oposto. 

 A curiosidade que se atiçou em meu peito por não saber o porque de ele passar tanto tempo sem ir ali era enorme, e mesmo com a vontade de perguntar algo me fez ficar calado. Contudo eu ainda tinha a vontade de saber mais sobre o outro que criava uma barreira enorme entre nós, sobre aquele que era tão distante, mas me fazia querer ser mais próximo. Talvez por ser impulsivo, talvez por ser idiota eu anotei meu próprio número em seu copo, nem sabia se receberia um telefonema ou não, mas a tentativa estava lá.


Be mine today, my sunOnde histórias criam vida. Descubra agora