Isaac
A dor que senti foi tão forte que me fez apagar.
Ao acordar sentia dores no corpo, provavelmente havia caído do palco, que tem uma altura considerável para quem cai subitamente desacordado. Mas o que me incomodava mesmo era sentir meus ouvidos abafados, tentei chamar por alguém mas mal consegui ouvir minha própria voz,limpei os ouvidos, chacoalhei a cabeça, movimentei os músculos do rosto, mas nada adiantava, entrei em desespero ao perceber o que havia acontecido de fato, eu perdi a audição.
Vi meu pai entrar no quarto em que eu estava, ele entrou em silêncio de fato, não falava nada, sequer balbuciava.
Eu queria tanto saber meu estado, mas mesmo conseguindo falar não tinha vontade de falar pois não iria ouvir as respostas.
Comecei a chorar de desespero e tristeza ao cair em si.
Eu não poderia fazer mais nada que envolvesse música?
Não poderia ouvir nem o que há de mais banal?
Como eu poderia me comunicar?
E os meus amigos?
Sentir meu corpo relaxar de novo quando as enfermeiras colocaram alguma coisa no meu soro.
Mas minha mente ainda estava muito barulhenta apesar do modo silencioso externo.~×~
Acordei com um cheiro doce invadindo meu olfato, demorei uns segundos até abrir os olhos, as coisas estavam lentas e leves para mim, eu estava angustiado por estar nessa situação.
Quando a minha visão ficou nítida pude perceber que eu tinha uma possível visita?Era a Júlia, uma garota da minha sala, só não entendi o por quê, até onde eu me lembrava eu não era amigo dela e nem mantinha nenhuma outra relação.
Quando ela percebeu que eu havia acordado ela ficou estática me encarando por alguns segundos.Não era a primeira vez que ela fazia aquilo, por algum motivo eu me sentia curioso para saber o que ela pensava sempre que ela fazia isso, mas agora eu não poderia saber a não ser que ela escrevesse, era a única forma que eu imaginava que tinha como usar para meio comunicativo no momento.
Ela se levanta e abre sua bolsa retirando de lá um papel e uma caneta
Olha só, eu adivinhei.
Após um minutinho ela me entrega o papel." Oi, sou a julia, mas pode me chamar de lia.
Acho que você já me conhece, mas vou te explicar por quê tô aqui, que é o que você deve estar se perguntando.
Você já deve ter percebido que perdeu sua audição, com isso, eu estou aqui para ajudar você com a língua de sinais, vou te ensinar ela e ser sua intérprete até que você se opere "
- isso é patético- falo rindo, mas não ouvir um ruído sequer me fez ficar angustiado, nunca tinha parado para pensar o quão é ruim falar sem ouvir a própria voz
Olho para lado e vejo flores, bonitinhas e simples, tipo flor do campo
- foi você que as trouxe?- me refiro as flores
Ela faz que sim com a cabeça de forma amigável
- Eu não estou morto- me arrependo pois sua carinha muda de uma tentativa de simpatia para decepção, eu diria uma decepção cansada ou brava, ela pega sua bolsa e faz um sinal esquisito que eu não fazia idéia do que era e sai.
Passei um bom tempo encarando o nada esperando que minha audição voltasse magicamente.
As vezes ouço uns zumbidos e se instala uma dor extremamente chata.
Viro meu rosto e percebo meu celular ao lado, tento o pegar e consigo
Tinha pouca bateria mas dava para usar por uns minutos.
Entrei no aplicativo de mensagens e vi alguns amigos perguntando por notícias, mas não havia mensagem alguma de minha namorada, aquilo me angustiou, a angústia vem se tornando um sentimento familiar ultimamente.
Entrei no chat do meu pai e tinha uma mensagem enorme.Sr. Seixas
Sr Seixas= Filho, Bom dia, peço perdão por não poder ficar com você plantado o dia e noite inteiro, fiquei somente no primeiro dia mas nos próximos eu vou ver alguém para ficar. Antes que me pergunte, sua situação é totalmente estável, você perdeu a audição porém não quebrou nada, só uma ralada na perna, você vai ter alta assim que sair alguns exames de confirmação saírem. espero que você esteja se sentindo bem, logo em breve você recuperará sua audição. Te amo, filho 😞Fiquei sem saber o que responder, então sai do chat.
Observei minha perna e realmente tinha um ralado feio lá, mas eu não sentia nada praticamente, nem um ardor eu sentia direito, mas não tava reclamando né.
Recebo mensagem de um número que eu não tinha salvo e vou ler curioso:"Seu pai pediu para que eu dormisse aí hoje com você
Chego aí às 19h"Pensei na lia imediatamente
Acho que é ela. Queria muito ver a Ana, mas se ela nem ao menos mandou mensagem creio que não viria aqui, e muito menos dormiria aqui.
Honestamente, eu nem gosto tanto dela assim, mas ainda não me acostumei com essa superficialidade que criei para mim, eu não sou assim, mas me encaixo nisso, é literalmente esse clichê de ter amigos falsos em grande quantidade, agora percebo o quão era melhor optar por menos deles mas que fossem minimamente honestos, verdadeiros e que não me fizessem mascarar qualquer comportamento típico de minha personalidade
Me sentia um tolo, mas não era como eu só tivesse percebido isso agora, aí que tá o problema, eu sempre soube que não tinha bons amigos, ou sequer uma boa namorada.Penso em responder algumas mensagens como a da lia e a do meu pai mas meu celular desliga no momento, acabou a bateria que me restava, o que me cabe agora é esperar pela lia.
Quem diria... jamais me imaginava tendo ajuda dela, eu nem falo com ela.
Fico encarando o relógio até o ponteiro marcar 19h e vejo a porta se abri nesse exato momento.
Meu Deus como ela é pontual!
Tiro os olhos do relógio e olho para ela que fechava a porta. Lembro do meu celular descarregado e pego ele e entrego para ela e peço para que ela coloque para carregar, ela faz isso e se senta no sofá.
Eu não tirava meus olhos dela e ela prestava atenção em um livro, Eu queria conversar, mas não tava afim de ler cartas.Fecho os meus olhos na intenção de adormecer, estava cansado de pensar excessivamente.
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Modo Silencioso
RomanceIsaac perdeu sua audição da noite para o dia e recebe ajuda de quem menos esperava: Lia. A garota autista que conhecia há anos mas nunca havia notado o quão graciosa era ela. E foi no silêncio que ele conseguiu se ouvir e contornar anos de erros con...