Capítulo 31

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A postura dela ao carregar a bolsa no antebraço, a mala de rodinhas na outra mão, a seriedade no rosto e óculos escuros, fizeram parecer que ela nem tinha chorado quase a viajem toda.

Ela passou pelo  estacionamento e foi em direção ao seu carro que havia deixado  no mesmo lugar antes da viajem. Ao entrar, ela acomodou sua coisas e ligou o carro, foi então que percebeu que suas mãos suavam e tremiam. A viajem toda foi assim, ela estava muito nervosa. Desde a última ligação com Helena, ela não retornou mais, temeu que Zé atendesse de novo. Preferiu saber de tudo quando chegasse ao hospital.

Então dirigiu o mais rápido que pode, bem fora do seu abtua. Mais sentia que precisava chegar o mais rápido possível, queria notícias. Seu coração estava tão apertado, que estava induzindo sua mente a ter imaginações sobre o estado de Clara, diversas coisas passaram por sua mente.

Através de uma mensagem rápida com Silviano, ela descobriu o endereço do hospital, e por isso nao necessitou ligar novamente para Helena.

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— ...ela está inconsciente. O acidente foi bem grave, mais por um milagre ou do que quiserem chamar, ela só quebrou o braço. Teve algumas escoriações e arranhões pelo corpo, mais fora isso, está tudo bem. Creio que amanhã quando acordar, vai sentir algumas dores pelo corpo, oque é devidamente normal mediante ao acontecimento, mais como disse, está tudo bem com ela — o médico informou de forma calma.

Aquilo era tudo oque a família Medeiros quis escutar durante duas horas sem informação.

— Mais tem a absoluta certeza de que minha filha esta bem, cabra?— Zé perguntou com seu jeito de sempre.

— Absoluta, comendador. Amanhã todos vão poder vê-la. Não se preocupem. Agora eu preciso ir, outros pacientes me esperam. Com licença — Ele se retirou do local.

— Agora que está tudo bem, vocês podem ir para casa. Todo mundo, vamos!— Zé tentou "despachar" todo mundo para casa.

—  Eu queria muito ficar, mais ainda tenho que terminar umas coisas na império, a Du tem que ir por conta das crianças e só vou conseguir voltar amanhã—  Pronunciou, João Lucas.

— Sim, sim. Vão. Eu fico aqui mais um pouco. Podem ir resolver, qualquer coisa eu  ligo e aviso.

—  E vê se atende o celular também, por favor, né pai. Ah, e a minha mãe? Nenhuma noticia, ninguém conseguiu falar com ela?—  Zé Pedro perguntou —  Seja lá onde ela estiver, ela precisa voltar, Clara não está bem.

—  Ela vai voltar. Helena sabia onde ela estava e não contou nada a ninguém, mais peguei ela falando com Marta no telefone, e ela disse que ela está em Genebra — Zé respondeu desviando o olhar dos filhos.

—  Até que enfim, quando ela chegar todos vamos conversar, essa família está virando uma zona —  Zé Pedro concluiu —  Já vou—  e saiu.

Ao final de tudo, Zé foi o único que ficou só, no hospital.

Mais uma vez ele se viu na mesma condição, no mesmo hospital, na mesma posição de angústia e preocupação com alguém de sua família. Segurando uma espécie de terço numa das mãos, ela caminhava de um lado para o outro do enorme corredor extenso, claro e com cor gelo.

Um barulho de salto alto batendo contra o chão, fez Zé se virar, e quando viu, era Marta. Um clima de tenção e um olhar de pura conexão pairou entre eles.

—  Cadê minha filha? Onde ela esta?—  Foi a primeira coisa que ela disse.

Zé avaliou sua ex mulher e escolheu as palavras que ia dizer.

—  Ela esta bem. Sofreu um acidente bem grave, mais já está bem. E você onde se meteu? Por que sumiu? Por que fez isso?

— Eu voltei pela minha filha, não te devo satisfação de nada, José Alfredo —  O olhar de Marta carregava uma frieza inerte.

Ao longo dos trinta anos de convivência, das longas e diversas brigas que tiveram, nada se comparava ao atual momento, nada! Os olhos azuis profundos dela, no final de tudo, sempre brilhavam por ele, mais agora não, agora eram como um vasto oceano azul parado, sem vida, sem refletir o brilho da lua.

E ouvi-la chamar de José Alfredo, seu nome formal, doeu dentro dele. Zé não demonstraria assim fácil, isso nem fazia parte da personalidade dele. Mais apenas ele, em seu interior sabia o quando sentia falta dela. O quanto era grande a vontade de contar toda verdade, dizer que tudo é uma farsa, uma mentira, que tudo faz parte de uma ameaça, que ele sabe quem é o Fabrício Melgaço...mas não podia, caso contrário poderia perder qualquer um de sua família.

—  Eu só lhe fiz uma pergunta—  Seu tom de voz diminuiu—  Você sumiu, deixou todo mundo sem resposta, sem saber de nada.

—  E desde quando você se importa?

— Me importo sim, Marta. Caso contrário não estaria perguntando —  retrucou.

— Escuta uma coisa; quando você quis brincar de morto vivo, eu chorei por você, sua família chorou por você. Todos foram enganados, você inventou uma morte para fugir dos seus problemas e nem sequer se preocupou com ninguém e muito menos comigo. Ao contrário de você, eu não menti para ninguém, não fui covarde ou parti o coração de ninguém. Toda a minha vida eu errei muito com você, mais também soube reconhecer meus erros. Eu deixei sonhos para trás, para realizar os seus, tive que me diminuir muitas vezes para te fazer grande, neguei a mim mesma para dizer sim a você. Abdiquei de mim mesma muitas vezes só para estar ao seu lado, deixei planos para trás, apenas para seguir as suas vontades, gastei tempo para te ajudar a ser um homem no qual você é hoje. Tive que engolir a seco muitas das suas grosserias,  patadas, ignorâncias, e ver você me deixar pouco a pouco a cada dia desses trinta anos e, como se nada disso bastasse, ao final de tudo, o punhal dentro de mim foi descobrir a traição. Então, José Alfredo, a última pessoa que pode me cobrar alguma coisa aqui é você. Portanto, não venha bancar o bom samaritano e dizer que se importa, porque você não se importa, meta-se  com a sua vida que dá minha eu não pedi sua ajuda para cuidar!

A sequência de três palmas chamaram a atenção dos dois.

E adivinhem? Era Isis. Profissional em chegar em momentos inoportunos.

— Belas palavras, pena que tudo é fachada, não é Marta?—  Aquele sorriso sarcástico no rosto de Isis era oque invocava toda a raiva dentro de Marta.

Marta fulminou Isis  com os olhos.

— Sai da minha frente, ou eu não respondo por mim!

— Que isso, Marta?! Que grosseria. Eu só vim aqui apoiar a todos nesse momento difícil e é assim que você me trata? Achei que a educação fazia parte do seu pedigree. Mas pelo visto me enganei.

Marta se aproximou dela, a medida que Isis mantinha sua cara de puro deboche.

—  Marta...—  Zé se aproximou pronto para evitar uma provável briga física entre as duas.

— Você não chega perto de mim...e você...—  Marta segurou no braço de Isis com toda a força que desenvolveu naquele momento se súbita raiva.

—  Me larga...

— Vou te largar sim, mais vai ser lá fora na sarjeta que é o seu lugar, sua piranha...

Antes que Isis pudesse reagir, Zé segurou o punho da ruiva no exato momento em que ela daria um tapa em Marta e,  olhar entre os dois foi desafiador. Mesmo a defendendo, aquilo não tirou a raiva que Marta estava da garota. Zé segurou Marta pela cintura antes que uma verdadeira briga se iniciasse entre as duas.



Meu Diamante - MALFREDOnde histórias criam vida. Descubra agora