Capítulo 10.

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— Por que está tão calada? — perguntou, ao desviar o olhar para mim e me encarar por alguns segundos, sem tirar a mão do volante e apoiar a sua destra em minha nuca. Segurei forte os papéis e continuei a minha atenção na estrada, a minha mente ainda estava no consultório e em tudo o que o médico falou. — Você disse que está tudo bem, então por que não disse uma palavra desde que entrou no carro? Está chateada por conta do que falei sobre os caminhos que você e Hermione traçaram são diferentes?

— Foi um aborto, Artur. — suspirei, olhei para o barbudo ao meu lado que sorriu, franziu a testa e a expressão em seu rosto entregou a sua não compressão. — Eu tive um aborto.

O carro freou de imediato, o meu corpo foi para frente, mas cinto não deixou com que ele fosse além. Artur levou o carro até o acostamento, não estávamos tão longe de casa, mas ficava aliviada por não ter essa conversa perto dos meus familiares, que já estavam na mansão de Bernardeth Evans.

— Isso é impossível, Chloe! — sua indignação era visível apenas ao olhar os seus olhos azuis, balancei a cabeça confirmando, a ficha ia caindo aos poucos, na medida em que ele ficava com a boca entreaberta. — Isso não pode ter acontecido porque você não pode. Quer dizer, sempre usamos... meu Deus.

Ele bateu no volante com força, eu apenas concordava com o que dizia, não sabia como me expressar ou o que falar para Artur, era um assunto que estava distante da nossa realidade, mas que agora era real e eu estava sofrendo isso na pele, mesmo sem querer acreditar.

— Por que me disse que estava tudo bem? — perguntou, enquanto me encarava com os olhos cerrados.

— Porque o médico falou isso. E eu não sabia o que falar, Artur! Eu saí tão desnorteada do hospital, que não entreguei nem sequer os papéis a enfermeira, depois tive que voltar para tomar uns medicamentos injetáveis, foi horrível! — disse, enquanto observava ele puxar todos os papéis de minhas mãos e os olhar impaciente. — Eu também não acreditei porque como você disse, era impossível. Eu não tinha nenhuma chance de engravidar, e sempre usamos camisinha.

— Exceto no dia que transamos na sacada. — insinuou e me olhou pensativo, logo o seu olhar se perdeu na estrada novamente.

— Você acha que foi isso? — perguntei.

— Você não sabe quanto tempo tinha de gravidez? — tornou a me olhar, ele estava confuso, mais do que eu.

— O médico disse que era recente, não tem como saber porque tudo foi expelido, mas ainda havia o hormônio no meu sangue. — levei a mão até a barriga e olhei para baixo. — Acho que o pior de tudo é o psicológico. Havia alguém aqui que foi embora sem ao menos termos notado a sua existência.

— Meu bem, não pode se culpar por isso! Como você disse, não sabíamos. Além do mais, para engravidar precisaria entrar no tal tratamento, era provável acontecer isso com todo esse problema, você não tem culpa. — ele segurou a minha mão e a beijou, um beijo calmo, demorado. Me aproximei e o abracei, não sabia o que sentir, se chorava ou se me sentia acolhida.

— Mas se isso aconteceu em meio a pequenas probabilidades, havia algum propósito, Artur. — subi o olhar e ele beijou a minha testa.

— Quando for para acontecer, eu tenho certeza que ele vai ficar quietinho aí dentro e sair no momento certo. Não estávamos preparados. — falou, acariciou o meu rosto em seguida e elevou o mesmo para que pudesse me encarar.

— Eu também não estava preparada para me apaixonar por você, e cá estamos. — sorri de canto.

— Mas acho que é um momento que precisamos planejar, para curtir bastante. Você não pensava em ser mãe, eu também não penso na paternidade agora, imagina como estaríamos preparados para um bebê? Tudo vem no momento certo, meu bem.

Meu Amado VizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora