Cap: 14
When you're lost in the darkness...
Daya
Naquele momento era impossível dizer quem se considera sortudo, alguns suspiraram de alívio, como se o fato de não terem vivido aquele pesadelo fosse ajudá-los a dormir melhor à noite, e eu não duvido disso, porque sei que se meu coração não estivesse batendo tão rápido contra minha caixa toráxica, eu estaria da mesma forma. Por sorte, ou destino, os prédios ‘D’ e ‘E’ não foram invadidos, assim como a maior parte do campus, todo incidente está ocorrendo nos prédios da área da saúde, onde a Maya provavelmente estava desesperada ou pior, e os ginásios agora estavam sendo evacuados com os alunos do vôlei que se esconderam lá dentro. Eu agora tentava ver por trás dos policiais que cercavam a área, tento ver algum sinal da Lvy, mas tudo que meus sentidos captam é o som de um tiro,e então uma agitação se concentra na lateral do ginásio. Outro tiro é trocado pelos policiais e os médicos que até então estavam apenas de prontidão, correm para atender alguém. Toda situação ainda é confusa, ninguém sabe ao certo o que aconteceu, tento falar com os policiais algumas vezes mas eles não dizem nada.
Minha mente desliga, e só ouço um grito, tão desesperado e cheio de dor, que caso eu não estivesse vendo não saberia de quem é. O grito parecia carregar consigo um peso insuportável de dor e terror, impregnando o ar ao seu redor. Cada nota daquela angústia era um dardo frio que se cravava em minha alma, me deixando paralisada, com os sentidos alertas e o corpo rígido, como se pudesse sentir a própria agonia do desconhecido que clamava por socorro na escuridão.
Era a Lvy.
O grito cessou.
Finalmente meu corpo parece atender meu desespero e corro até onde minha amiga estava, mas antes que eu consiga chegar até ela, um policial me impede. Meus ouvidos tapados de desespero se recusam a escutar o que ele diz, apenas continuo tentando avançar, mas novamente aquele sentimento de desespero toma minha alma quando vejo Lucas passar em uma maca de pronto socorro com o sangue jorrando de seu torso.
Se isso aconteceu com ele, o que pode ter acontecido com a Lvy?
— Senhorita, por favor, não pode ficar aqui, é perigoso. — O policial diz e eu olho para ele quase sentindo as lágrimas escorrerem de meus olhos.
— Eu só preciso ver minha amiga, ela está ali, por favor — Minha voz que em vez de súplica soa mais como um soluço murmurado.
—Algumas pessoas que estavam no ginásio foram resgatadas, se sua amiga estiver entre elas, logo os oficiais irão trazê-las aqui para fora. — O policial diz na esperança de me tranquilizar. Mas tudo que sinto é mais desespero. E se a Lvy tivesse se machucado gravemente? E se aquele grito foi o último que ela deu?
E se …
Meus pensamentos são interrompidos por uma mão no meu ombro, uma mão fria e que estava tremendo.
— Não grite. — Uma voz diz no meu ouvido e coloca uma mão na minha boca e a outra segura uma arma. Uma arma apontando para minha cabeça. Ele vai andando comigo até o centro da multidão, quando vejo alguns policiais colocarem a mão na arma. — Meu parceiro vai sair daí, e quando ele sair eu quero um carro de fuga esperando e nenhum policial nos seguindo. — De repente é como se todas as peças de encaixassem, ele trabalha na faculdade, ele deixou o ônibus com os outros dois assassinos entrarem, não eram dois no fim das contas. Eram três.
Os policiais se amontoam, eles tentam se aproximar devagar mas qualquer investida suspeita faz com que ele coloque a arma ainda mais contra minha cabeça.
— Porque está fazendo isso? — Minha voz saiu entrecortada, e abafada devido a sua mão na minha boca. Eu estou tremendo, e quando percebo meus pensamentos se verbalizaram.
— Porquê? Porque? — Ele solta uma gargalhada — Essa faculdade é uma grande mentira. Ela não quer saber dos alunos, só quer saber de benefício próprio! Isso aqui — Ele aponta com a arma que estava na minha cabeça para tudo a nossa volta. — está acontecendo porque essa porcaria de escola não dá preparação para o mercado de trabalho. Eles nos tratam como números e não como pessoas. Sabe os professores? Alguns nem sabem o que estão fazendo, tudo isso é uma grande fraude. — Um tiro.
E de repente ele cai atrás de mim, me fazendo finalmente soltar um ar preso em minha garganta. Meu corpo parece que tinha acabado de ter toda sua energia sugada e meu corpo desmorona no chão me fazendo ficar de joelhos. Eu sinto uma coisa molhada sob meus joelhos, eu olho e vejo vermelho, sangue, sangue nas minhas pernas, e quando eu ia olhar para trás duas mãos me fazem olhar para a frente.
— Vamos, vou te tirar daqui. — Eu olho para a pessoa na minha frente e vejo Henry, o cara do restaurante.
Sem saber mais como reagir, apenas balanço positivamente a cabeça e permito que ele me erga. As mãos dele estavam quentes, ele me olhava preocupado e balbuciava algo que eu não consegui entender. Então um policial nos para e pede que ele me leve até uma ambulância para ter certeza que eu estava bem.
Eu poderia está bem fisicamente, mas os outros ‘mente’ eu já não tinha certeza.
Maya
— Shh, calma, sou eu docinho, calma. — Mathew entra no meu campo de visão através da janela quebrada. Ele coloca a mão por dentro da porta e destranca. Só então percebo que não sai do lugar, continuo sentada em estado de choque com as mãos na boca. Mathew entra na sala e corre até mim me puxando para ele.
— Um dos atiradores já foi pego, e o outro tá no andar de baixo, temos que sair daqui rápido, okay?
Tento acenar com a cabeça, mas meu cérebro está dividido entre não começar outra crise de choro e a tentativa de mover meu corpo. Quando Mathew tenta me ajudar a levantar, minhas pernas fraquejam, e sinto que todo o meu corpo está se recusando a se mover. Embora minha mente esteja alerta, meu corpo simplesmente não responde. Meu coração dispara, e tento me concentrar nos meus batimentos enquanto ele me pega no colo e diz algo que não consigo compreender. Minha mente corre, imaginando o pior, mas ao mesmo tempo, estou presa, sem conseguir me mover. É como se eu estivesse em uma paralisia do sono, incapaz de reagir, mesmo que eu quisesse fugir. O mundo ao meu redor parece desacelerar, as vozes, que para mim viraram apenas rostos se mexendo, ficam distantes, e a única coisa que consigo ouvir é o som do meu coração. Eu vejo o que está acontecendo, mas é como se fosse irreal, como se meu cérebro não conseguisse processar. Tento respirar, mas o ar não parece suficiente. É uma mistura sufocante de medo e descrença, e tudo que posso fazer é esperar que passe, torcendo para que meu corpo finalmente me obedeça.
— Maya, olha pra mim, olha pra mim. — Ele diz segurando meu rosto para olhar para ele, me forçando a recobrar os sentidos que outrora me abandonaram. — Você não vai morrer hoje, entendeu?
Era como acordar de um sonho ruim, mas com o peso real do que estava acontecendo. Mesmo assim, aquela presença a minha frente me puxou para a superfície, me lembrando que, apesar do choque, eu ainda estava aqui, no presente. Ainda assim, uma parte de mim permanece fragilizada, vulnerável, como se uma parte de mim ainda estivesse nessa constante de emoções. E então finalmente compreendendo as palavras que Mathew estava falando eu aceno com a cabeça e começo a me sentar no chão, e vejo que já não estávamos mais na sala do zelador.
— Obrigado. — É a única coisa que consigo dizer.
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Todas as Imperfeições do Amor
Teen FictionMaya, Lvy e Daya são amigas que estão dispostas a enfrentar tudo para ajudar umas as outras. E o universo fará de tudo para colocar essa amizade á prova de maneira que elas repensem tudo... inclusive decisões passadas.