único

110 19 6
                                    

⚠️Por favor ler os gatilhos da sinopse antes de ler.⚠️

---------------------------- ⊙⊙☉ ----------------------------

Me rasgue em pedaços
Tire tudo de mim
Tudo te pertence
Eu já não sou eu mesmo

Rodrigues_


"Se quiser morrer, tem que estar nú. E se o pensamento de morrer nú te envergonha não está pronto para morrer."

Sinto a lâmina afiada rasgando a minha pele mas não gera dor o suficiente para que eu pare.

Encosto a cabeça para trás na borda da banheira que está cheia pensando se será rápido ou irei agonizar.

Estou pronta. E estou bem com isso.

Deixo a lâmina de lado e meu corpo fraco sequer tenta atrapalhar minha decisão.

Fraca demais.

Magra demais.

Não tenho forças, mas pelo menos estou como quero.

Olho para o teto sentindo tudo de mim se esvair.

Será que vai demorar mais?

Será que alguém irá chorar por mim verdadeiramente?

Fecho os olhos e a escuridão me leva.

Me joga em um abismo que nunca tem fim.

Tudo que sentia de ruim some, e é como se nunca houvesse existido. Tudo flutua, o sangue que sai pelos meus pulsos, a água que antes estava dentro e meu corpo também.

Paz.

Eu sinto paz.

Ou pelo menos acho que é assim que ela se parece.

Finalmente a sinto.

Mas ela não dura muito, uma rajada turbulenta me atinge me fazendo sentir tudo o que antes havia sumido.

O desespero de cair naquela escuridão assustadora me assombra. Tento me segurar em algo, mas é completamente em vão.

E então eu caio. Caio em um baque surdo no chão fazendo com que todo meu corpo doa.

Provavelmente quebrei algum osso, mas dor é forte demais e o chorar é a única coisa que consigo fazer.

E então culpa.

Sinto culpa pois se tivesse ficado lá, por mais doloroso que fosse, teria sido melhor do que sentir isso agora.

Me encolho numa tentativa vã de me acalmar.

A pressão em minha volta se torna maior.

Ela agride minha pele como uma lixa quente, os ossos de todo meu corpo parecem explodir.

Mãos passam pelo meu corpo me apertando e beliscando.

A decepção comigo mesma aumenta por não conseguir fazer nada direito.

No momento não existe deus que possa me ajudar. Não existe oração que me salve. Não existe ressurreição que me faça ter o perdão.

E então eu sou arrastada.

Arrastada para uma mesa farta e obrigada a me sentar mesmo não tendo forças nem para respirar.

Um prato cheio aparece em minha frente. Arroz, carne, feijão, salada, macarrão e ovos, e então sou obrigada a comer.

Sou forçada a mastigar aquilo e engolir e, por mais que eu queira, não me deixam vomitar. Não me deixam parar.

E meu cérebro me pune por estar comendo demais, e a todo tempo me avisa quantas calorias aquilo tem.

E quando eu acho que acabou a mesa muda, e doces aparecem em minha frente.

Meu rosto está inchado, meus olhos vermelhos e minha boca dormente mas eles não permitem que eu pare.

Mesmo me debatendo, mesmo gritando, eles não param e me forçam a terminar aquilo.

Pessoas pálidas com roupas pretas de grife se aproximam de mim e no lugar de suas cabeças há rabiscos, elas me seguram pelos braços e me arrastam para uma porta que leva, provavelmente, para fora daquela escuridão.

O sol forte bate em meu rosto e machucam meu olhos, várias pessoas iguais as que me carregam estão sentadas em cadeiras espalhadas ao redor de um amontoado de madeira.

Eles me amarram em uma estaca presente no meio daquele amontoado e tacam gasolina em mim.

Todo meu corpo destruído não aguenta mais e mal consigo respirar.

Eles acendem um fósforo e jogam em mim.

O fogo me consome.

Me engole com toda sua beleza e dor.

Minha pele derrete virando pó.

Meus gritos de agonia parecem não abalar aqueles que assistem.

E então a escuridão me carrega novamente.

Me leva a um cômodo fechado, onde choro encolhida no canto.

Choro até meus pulmões perderem forças, choro até não ter mais lágrimas para soltar, choro até ficar tonta e, pela última vez, a escuridão me toma em seus braços novamente me levando ao descanso eterno.

Acordo aflita em minha cama, percebendo que tudo não passou de um pesadelo.

Que por mais doloroso que tenha sido, volto a dormir com o desejo de que da próxima vez eu não acorde.

⊙☉⊙

Rodrigues

nothing lovelyOnde histórias criam vida. Descubra agora