O ALFA NO RIO

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                            SIENNA
  Tudo que eu via era sexo.
  Pra onde quer que eu me virasse, via corpos tremendo. Membros se
deslocando. Bocas gemendo.
  Corri através de uma floresta, ofegante, tentando escapar dos
fantasmas carnais ao meu redor, que pareciam estar me convocando.
  Dizendo junte-se a nós...
Mas quanto mais para dentro da floresta eu corria, mais escura e mais
escura e mais viva ela se tornava.
  Algumas árvores balançam como amantes, outras, com raízes nodosas
e galhos espigados pareciam predadores. Prendendo-me. Perseguindome.
  Algo lá fora, no escuro, estava me perseguindo.
  Alguma coisa desumana.
  E agora as bocas não estavam gemendo. Elas estavam gritando.
  Orgias grotescas por toda parte iam se tornando violentas.
   Sangrentas. Próximas da morte.
  A qualquer momento, a escuridão ia me pegar.
  O sexo ia me estrangular.
  Ao sentir a raiz enrolar em minha perna, tropecei e caí em um buraco
aberto no centro da floresta, mas não era um buraco.
  Era uma boca. Com dentes afiados e uma língua preta, lambendo seus
lábios, prestes a me engolir inteira.
  Eu tentei gritar, mas não tinha voz.
  Eu caí.
  Mais longe.
  Mais fundo.
  Até que eu me fundi com a loucura violenta e sexual...
completamente consumida.
  Pestanejei. Que diabos eu estava desenhando?
  Sentada à beira do rio, com meu livro de esboços na mão, olhei para
baixo, incrédula, para o meu próprio trabalho. Tinha desenhado uma
visão muito perturbadora... e sexual.
  Isso só podia significar uma coisa: A              Bruma estava chegando.
  Mas antes de pensar ou de desenhar outra coisa, o som de risadas
próximas me distraiu.
  Virei-me para ver um grupo de meninas, ao seu redor.

                  AIDEN NORWOOD

  Eu nunca o tinha visto aqui antes. Não na margem do rio onde eu vou
para desenhar e me distrair, não há muitos de nós por aqui...Por quê? Eu não sei.
  Talvez seja a calma quando sempre se espera que nós sejamos
selvagens. Talvez seja a água quando cada um de nós arde com um
incêndio interno. Ou talvez seja apenas um lugar que eu só tenha
pensado como meu.
  Um lugar secreto onde eu não sou apenas mais uma na matilha, onde
sou apenas eu, Sienna Mercer, uma artista autodidata ruiva de dezenove
anos. Uma garota aparentemente normal.
  O Alfa caminhou em direção a água, ignorando o bando de moças
que o seguiam. Ele parecia que queria ser deixado sozinho. Isso me
deixou curiosa. Fez-me querer atrai-lo.
  Claro, eu sabia que era um risco desenhar o Alfa.
  Mas como eu poderia resistir?
Comecei a esboçá-lo. Com uma altura de 1,80m, cabelo preto
desgrenhado e olhos verde-ouro que parecia mudar de cor cada vez queele virava a cabeça. Aiden era a definição de lindo de dar água na boca.
  Eu tinha começado a trabalhar nos olhos quando ele virou a cabeça e
farejou.
  Eu congelei, fiquei paralisada. Se ele me visse agora, se visse o que eu
estava desenhando...
  Mas então, para meu alívio, ele olhou para água, perdendo-se
novamente em algum devaneio escuro.         Mesmo rodeado por outros, o
Alfa estava sozinho. Então eu o desenhei sozinho.
  Eu sempre o observava de longe. Eu nunca tinha estado tão perto,
mas agora eu podia ver como os bíceps dele saltavam de sua camisa,
como sua coluna vertebral se curvava para acomodar sua transformação.
  Me perguntei o quão rapidamente ele poderia se transformar.
  Encurvado, com os olhos em busca, como os de um animal selvagem, ele
parecia neste caso, já na metade do caminho.
  Um homem, sim. Mais que isso; um lobisomem.
  Sua beleza me lembrou que a Bruma estava se aproximando
rapidamente. Era a época do ano em que todo lobisomem a partir dos
dezesseis anos de idade enlouquece com a luxúria, a estação em que
todos e quero dizer todos trepam como loucos.
  Uma ou duas vezes por ano, esta fome imprevisível, esta necessidade
física infecta a todos até os ossos...
  Aqueles que não tinham companheiros encontram um parceiro
temporário para se divertirem com os outros.
  Em outras palavras, não havia ninguém na matilha com mais de
dezesseis anos que fosse virgem.
  Olhando agora para Aiden eu me perguntava se os rumores que
giravam em torno dele eram verdadeiros.
  Se por acaso era por isso que ele estava ali, ignorando as garotas,
refletindo à beira do Rio.
  Alguns disseram que haviam passado meses desde que Aiden havia
levado qualquer mulher para a cama, que ele estava se distanciando de
todos.
  Por quê? Uma companheira secreta?   Não, as fofoqueiras da matilha já
teriam descoberto
  Então, qual era o problema, o que seria do nosso Alfa se ele não
tivesse nenhuma parceira quando a bruma atacasse.
  Não é da sua conta, eu disse a mim mesma me repreendo. O que
importa para mim quem Aiden comia?
  Ele era 10 anos mais velho e, como a maioria dos lobisomens, só
estava interessado em alguém de sua própria idade.
  Para Aiden Norwood, o alfa da segunda maior matilha nos Estados
Unidos, eu não existia. Colocando de lado minha paixonite de
adolescente boba resolvi seguir sem pensar no assunto.
  Michele, minha melhor amiga, estava decidida a me encontrar um
pau amigo. Ela já tinha um parceiro, coisa comum entre os lobos
solteiros antes da bruma.
  Tentando me arranjar com 3 amigos de seu irmão, todos que
pareciam perfeitamente decentes e que tinham sido diretos em me
considerar boa para uma transa,   Michelle não conseguia entender
porque eu tinha recusado cada um deles.
— Ugh.. — Eu ouvi a voz de Michelle reverberando em minha cabeça.
— Por que você é sempre tão fresca, garota?
  Porque a verdade era que eu tinha um segredo.
  Aos dezenove anos de idade, eu era a única Loba virgem em toda a
nossa matilha. Tinha passado por 3 estações, e por mais sedenta por sexo
que ficasse, nunca havia cedido aos meus desejos carnais.
  Eu sei. Muito pouco inteligente da minha parte em se preocupar com
sentimentos e primeiras vezes, mas eu prezava os meus.
  Não que eu fosse uma puritana. Em nossa sociedade não havia tal
coisa. Mas, ao contrário da maioria das meninas, eu recusava a me
entregar até encontrar meu companheiro.
  Eu sabia que ia encontrá-lo.
  Eu estava guardando minha virgindade para ele.
  Quem quer que fosse.
  Continuei a esboçar o alfa quando olhei para cima e vi, para minha
surpresa e pavor repentino, que ele não estava lá.
— Nada mal. — Eu ouvi uma voz baixa ao meu lado.— Mas os olhos podiam estar um pouco melhores.
  Virei-me para o ver, parado bem ao meu lado, olhando para o meu
esboço.
Aiden.
Norwood.
Porra.
  Antes que eu pudesse recuperar meu fôlego, ele olhou para cima e
nossos olhos se encontraram. Eu arfei, muito ciente que estava fazendo
contato visual direto. E imediatamente olhei para o lado.
  Ninguém em seu perfeito juízo se atreve a olhar um alfa nos olhos.
  Isso só poderia significar uma das duas coisas, ou você estava
desafiando o domínio do Alfa, praticamente uma tentativa de suicídio,
ou você estava convidando o Alfa para o sexo.
  Como eu também não tenho essa intenção, minha única opção era
desviar o olhar antes que fosse tarde demais e rezar para que ele não
interpretasse mal o significado do encontro.
— Perdoe-me — eu disse calmamente, só para garantir — você me
pegou de surpresa.
— Peço desculpas, — ele disse. — Eu não quis te assustar.
  Essa voz, mesmo dizendo as palavras mais educadas que se possa
imaginar, elas soavam carregadas de ameaça. Como se a qualquer
segundo, ele pudesse cortar sua garganta mesmo com os dentes em sua
forma humana.
— Tudo bem, mesmo, — ele disse. — Eu não mordo... Só de vez em
quando. — Eu estava tão perto que podia alcançar e tocar seus músculos
ondulantes de sua pele dourada.   Levantei os olhos e pisquei.
  Um rosto brutal, marcado, que não deveria ser bonito, mas era.
  Sobrancelhas grossas que pareciam ásperas ao toque, como uma pitada
de sua forma de lobisomem e um nariz, ainda que ligeiramente torto —
sem dúvida quebrado em alguma luta passada — não maculava em nada
seu sex appeal de tirar o fôlego.
  O Alfa deu um passo mais próximo, como se fosse para me testar. Eu
podia sentir cada pêlo em meu corpo se eriçar com o nervosismo. Ou...
será que era desejo?— Da próxima vez que você me desenhar — disse Aiden, — chegue
mais perto.
— Oh... ok — eu balbuciei como uma idiota.
  Então, tão rapidamente quando ele apareceu, Aiden Norwood se
virou e sumiu, deixando-me junto ao rio, sozinha. Eu suspirei, sentindo
cada músculo do meu corpo se acalmar.
  Não era nada comum ver o Alfa fora da Casa da Matilha, a sede de
todos os negócios dos grupos. Na maioria das vezes, nós víamos o Alfa
em reuniões ou bailes, sempre algo formal. O que tinha acontecido hoje
era raro.
  Eu já podia ver, pelo olhar invejoso das fãs
e adoradoras de Aiden que
o haviam seguido até o rio, apenas para serem ignoradas, que isso podia
sair do controle.
  Até mesmo o cheiro de interação com o Alfa. Especialmente para uma
jovem plebeia como eu, seria suficiente para mandar as novinhas mais
histéricas à loucura, derrubando as paredes da Casa da Matilha, só por
mais um gostinho dele.
  Um evento dessa magnitude certamente irritaria o Alfa e um Alfa
estressado significava um alfa disfuncional, o que significa uma alcateia
disfuncional... deu para entender. Não ia ser bom para ninguém.
  Decidi, com a pouca luz que restava do dia, que terminaria de
desenhar para me distrair, só eu e o rio — em paz, mas tudo que pude ver
foram os olhos de Aiden Norwood e como eu os tinha desenhado muito
mal, o alfa estava certo, eu podia fazer melhor.
  Se eu pudesse chegar mais perto..., mas quando eu poderia estar tão
perto outra vez?
  Eu não sabia então o que sei agora, que dentro de algumas horas a
Bruma estava prestes a começar.
  Que eu estava prestes a me tornar um animal louco por sexo e que
Aiden Norwood, o Alfa da matilha da Costa Leste, iria desempenhar um
papel muito proeminente no meu despertar sexual. Só a ideia era o
bastante para fazer qualquer uma uivar.

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