Halloween

35 5 0
                                    

31/10


A casa tinha um rosto terrivelmente humanoide. (Como a maioria das casas mal-assombradas costumavam ter).

Aparato no seu jardim da frente, abandonado, Potter vem dois segundos depois, tropeçando de onde havia brotado do nada. Ele não era bom em aparatar, mas nunca queria viajar comigo. Dois anos trabalhando juntos e ainda suspeitava que eu nos transportaria para algum lugar do mal, faria coisas malignas com meus comparsas malvados a sua pessoa. Franzo as sobrancelhas para ele, tonto no jardim, então de volta para a casa.

A luz do sol poente refletia duas janelas que poderiam muito bem ser olhos. Sua estrutura, que caso contrário seria comum, estava torta para um lado, cinza. Inclino-me para direita, encarando-a no mesmo ângulo torto. Se casas possuíssem expressões, esta estaria suspeita e irritada.

"Que merda." Potter diz, chamando minha atenção. Está com as mãos no joelho, ofegando com a cabeça para baixo. "Nunca paro de ficar enjoado com isso."

Abro a boca para comentar, novamente, que se fosse de viagem comigo isso não seria problema, mas desisto no meio. Era o fim do expediente, só queria ir para casa, sem brigas.

"Bom, vamos logo com-" Franzo as sobrancelhas. No final da rua, cheia de casas trouxas, vejo uma pequena comoção de pessoas vestidas estranhamente nada trouxas. "Potter, pensei que essa vizinhança estava vazia."

Meu infeliz parceiro ofega mais um pouco, depois se ergue, virando ao fim da rua, vendo as crianças com capas e purpurina.

"Ah." Suspira. "Nossa, eu tinha esquecido. Hoje é Dia das Bruxas."

"Como é que é?" Me dirijo a ele, então de volta aos trouxas, caminhando em nossa direção. A casa range, como se também não gostasse daquilo. "Nosso dia?"

"Não, Malfoy." Potter ri. Odiava como ria, principalmente se fosse de algo que eu disse. Ele sempre teve a mania de reclamar de piadas engraçadas, mas rir de perguntas sérias. Me fazia sentir, bem, não há outra palavra: Burro. Desajeitado, inepto e adolescente. Opa, havia outras palavras sim. "É como eles comemoram. Sabe, tipo o Natal? Páscoa, essas coisas. É um feriado trouxa. Eles se fantasiam e pedem doces na vizinhança."

"E o que tem haver conosco?" Pergunto, incomodado com trouxas usando nosso nome. Quando conseguimos uma missão no centro de Oslo e vi uma loja de 'Produtos Espirituais' Potter teve que me controlar para não entrar lá dentro, chutar o caldeirão de alumínio. Depois da guerra, fiquei meio sensível em questões existenciais bruxas.

Ele me olha, divertido, não tão enjoado mais. Fica vermelho e laranja no pôr do sol, feito um demônio de lareira, fluorescente. O cabelo longo de mais de acordo com o código Auror enrola em suas sobrancelhas, mas ele nunca precisou se preocupar com essas coisas. Nem usava gravata.

"É o dia em que os espíritos entram em contato com os vivos, por isso o nome. Trouxas acreditam nessas coisas."

Ergo as sobrancelhas.

"Perfeito para o nosso trabalho então!" Tiro minha varinha do bolso. A casa, dois andares, cinza, torta, expressão irritada, range suas madeiras para mim, como se estivesse avisando: Mais um passo e eu te engulo por inteiro!

Dou um passo. Nada acontece.

"Eu odeio assombrações." Potter reclama, ajeitando o casaco. "Até o jardim daqui parece assombrado!"

E é verdade. A única árvore, deformada e morta, espalha folhas amarelas pela grama malcuidada. Era como um espinho negro no meio da vizinhança bonitinha, feita de construções brancas e crianças remelentas. As decorações do tal Dia das Bruxas, abóboras com caras feias e teias de aranhas falsas, ficam infantis em comparação.

Dia das Bruxas (Drarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora