Paraíso Sombrio

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Ele tentava correr, mas a terra cedia sob seus pés, dificultando sua caminhada. Estava desesperado. Sentia seu coração ruindo. Ele esqueceu completamente a etiqueta e os modos. O branco fúnebre de suas vestes estava manchado de terra e barro e quaisquer outras coisas que o solo daquele lugar sombrio guardasse.

Procurava por algo, qualquer coisa que tivesse restado. Não importava se eram ossos, um pedaço de roupa, ou até mesmo um fio de cabelo. Qualquer coisa servia. Com tanto que fosse dele, não importava o que seja.

Lágrimas caíam pesadamente de seus olhos enquanto revirava os restos daquele lugar em busca de algo para aliviar sua dor. As mãos sujas de cinzas, terra e barro tão vermelho quanto sangue.

— Lan Zhan… Pare. Não há nada aí.

Ele sentiu a mão de seu irmão em seu ombro. Não podia não haver nada, pessoas não desaparecem completamente ao morrer, sempre deixam algo — foi o que pensou. Tinha que ter restado algo. Precisava que restasse.

— Lan Zhan, pare. Vamos voltar.

Zewu-Jun segurou seus braços e forçou-o a levantar daquele chão sujo. Ele tentou limpar um pouco as roupas de seu irmão mais novo e fazê-lo se recompor. Lan Zhan sentia-se anestesiado pela dor, seu corpo poderia ser destruído agora e ele não sentiria nada, como uma casca vazia.

— Não, não pense nisso. Vamos. Você precisa voltar antes que nosso tio expulse o menino Wen.

O menino Wen. Wen Yuan. A-Yuan.

Este menino é meu. É meu filho — a voz alegre e travessa soou em sua mente.
Se fechasse seus olhos o veria sorrindo para si. Como um paraíso sombrio.
Sabia que ele só havia dito aquilo para brincar consigo, mas ele cuidou deste menino e isso era o suficiente.

Caminhou desnorteado, tropeçando no terreno acidentado e enlameado. Vagando como um cadáver feroz. Rapidamente seu irmão o alcançou, segurando seu braço, o guiou colina abaixo.

Depois tudo se tornou um borrão.
Imagens desfocadas e desconectas. Vozes confusas, às vezes altas, às vezes sussurrantes. O gosto do álcool que descia queimando por sua garganta. Uma ardência profunda em seu peito.

Lan Zhan.

Acordou sentindo seu corpo extremamente pesado. Uma mão deslizou por seu peito, passando pelo local que antes ardia. Ele olhou para o dono da mão, este que se encontrava deitado ao seu lado. Viu seu rosto envolto em preocupação.

— Você está bem? Parecia estar…

Não esperou que ele terminasse de falar. Agarrou-o pela nuca e chocou sua boca contra a dele em um doloroso bater de dentes. A dor não era um problema para ele. Se doía quer dizer que era real.

Tão real quanto a dor que carregou durante treze longos anos. Treze anos de noites envolto em um paraíso sombrio. Sem alívio. Sem libertação. Sempre o via em seus sonhos, dizendo-lhe que está tudo bem. Uma doce tortura da qual não queria acordar. O medo de não encontrá-lo no outro lado. E não havia remédio para as lembranças que cantavam em sua mente.

Tocava cada pedaço de pele, agarrando-a com força, tentando torná-lo cada vez mais real. Sentiu os braços dele envolverem seu pescoço, sua mão segurar com força seus cabelos e suas unhas arranharem suas costas. Suas bocas estavam coladas uma na outra em um beijo desesperado como se o outro fosse desaparecer há qualquer momento. Seus corpos estavam grudados, mas nunca parecia perto o suficiente. Seu coração martelava em seu peito tão forte que chegava a doer, mas para ele era bom. Era melhor senti-lo doer de amor e felicidade do que de tristeza e perda.

— Não vá embora.

Aquilo não soou como um pedido, parecia mais uma ordem.

— Não vou. Não há nenhum lugar em que eu queria estar além de bem aqui: em seus braços. — sussurrou no ouvido de Lan Wangji.

— Marque suas palavras.

Um sorriso se abriu nos lábios rosados e inchados de Wei Ying. Hanguang-Jun voltou a beijá-lo. Com os corpos tão colados que podiam sentir os batimentos cardíacos um do outro. Seus corações pareciam estar em sincronia, como se seguissem o ritmo de uma melodia alegre.

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Inspirado em
Dark Paradise da Lana Del Rey

Dark Paradise - WangxianOnde histórias criam vida. Descubra agora